Em 1960, Sophia Loren foi a pioneira a ganhar o Oscar por uma atuação em um filme de língua não-inglesa com “Duas Mulheres”. Astros como Marcello Mastroianni, Liv Ulmann, Valentina Cortese, Isabelle Adjani, Gerard Depardieu, Roberto Benigni, Javier Bardem, Penélope Cruz, Marion Cotillard, Emannuelle Riva, Antonio Banderas e, claro, a nossa Fernanda Montenegro também conseguiram o feito de chegarem ao Oscar em filmes falados em italiano, sueco, francês, espanhol, português.
Neste vídeo, eu trago dez atuações nos últimos 10 anos que poderiam ter se juntado a essa lista se o Oscar tivesse tido um olhar mais global.
Para criar um recorte melhor, eu fiquei entre os filmes selecionados nas categorias dos internacionais na temporada de premiações e também no Festival de Cannes e Veneza, onde os filmes de língua não-inglesa se credenciam para o Oscar.
10. DENIS LAVANT, por “HOLY MOTORS”
Para começar, nada melhor do que uma dose de loucura na pragmática Academia.
Em “Holy Motors”, o Denis Lavant faz um fascinante protagonista em um exercício intrigante de construção de personagens. O ator personaliza o estranho universo do diretor Leos Carax e modifica o tom da interpretação a cada nova sequência e abordagem.
O filme francês foi lançado no Festival de Cannes 2012 e poderia concorrer no Oscar do ano seguinte. Tiraria facilmente o Bradley Cooper, de “O Lado Bom da Vida”, para encaixar o Lavant. Porém, nunca que a Academia deixaria um galã sair da disputa para uma interpretação tão fora da caixinha.
9. JULIETTE BINOCHE, por “CÓPIA FIEL”
A Juliette Binoche disputou o Oscar duas vezes: a primeira em 1997 quando venceu Atriz Coadjuvante por “O Paciente Inglês” e quatro anos depois indicada por “Chocolate”. A terceira vez poderia ter ocorrido em 2011.
A francesa tem uma das melhores atuações da carreira em “Cópia Fiel”. No longa do iraniano Abbas Kiarostami, ela interpreta a dona de uma galeria de arte vivendo com o filho na Itália que finge viver um romance com um filósofo inglês em viagem para divulgar o novo livro.
Pelo “Cópia Fiel”, a Binoche venceu o prêmio de Melhor Atriz em Cannes. No Oscar 2011, porém, a categoria estava pesada, mas, tiraria a Nicole Kidman, de “Reencontrando a Felicidade”, para inserir a francesa.
8. DIANE KRUGER, por “EM PEDAÇOS”
Em Hollywood, para fazer um “Bastardos Inglórios”, a Diane Kruger teve que encarar vários “Troiá”, “A Lenda do Tesouro Perdido” e “A Hospedeira”. Foi na Europa em que ela realmente encontrou o melhor papel da carreira.
No drama “Em Pedaços”, a atriz alemã comove como uma mulher que perde o marido e o filho em um atentado terrorista. Cansada de esperar pelos trâmites jurídicos, ela decide fazer justiça pelas próprias mãos.
A Kruger também ganhou o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes. Pior que dava para ela disputar o Oscar tranquilamente em 2018 no lugar da Meryl Streep, de “The Post”.
7. DANIELA VEGA, por “UMA MULHER FANTÁSTICA”
A Academia ainda poderia ter feito história no Oscar 2018 em Melhor Atriz.
Afinal, a Daniela Vega poderia ter sido a primeira trans indicada nas categorias de atuação.
No ótimo “Uma Mulher Fantástica”, a chilena cria uma figura que resiste a tudo e todos e ainda lidando com a dor da perda do namorado.
6. PETER SIMONISCHEK E SANDRA HÜLLER, por “AS FACES DE TONI ERDMANN”
O Oscar sempre é muito resistente para nomear atuações de comédia. Mas, a estranheza de “As Faces de Toni Erdmann” merecia demais ser reconhecida.
O sempre elegante Peter Simonischek incorpora uma figura, por vezes, grotesca, desajeitada, mas, dono de um coração enorme. Já a Sandra Huller faz uma personagem em constante pressão, fria, cansada a ponto de se tornar antipática no primeiro momento, mas, que se revela muito maior do que a aparência demonstrava. A química entre os dois move esta peculiar comédia de Maren Ade.
O Simonischek teria vaga em Melhor Ator Coadjuvante no Oscar 2017 no lugar do Dev Patel, de “Lion”, ou do Jeff Bridges, de “A Qualquer Custo”, enquanto a Huller poderia substituir a Mery Streep, de “Florence”.
5. MADS MIKKELSEN, por “A CAÇA”
A Academia está devendo uma indicação ao Mads Mikkelsen há um bom tempo. Mais precisamente há oito anos.
Vencedor de Melhor Ator em Cannes, o dinamarquês está brilhante como o professor acusado falsamente de ter abusado sexualmente de uma aluna criança em “A Caça”. Mikkelsen torna palpável o desespero de ter a vida destruída pela mentira e o ódio.
Para ser justo com o Oscar, 2014 teve uma disputa em altíssimo nível em Melhor Ator. Ainda assim, meu escolhido para sair seria o Christian Bale, por “Trapaça”.
4. SONIA BRAGA, por “AQUARIUS”
De todos desta lista, esta é a que dói mais para os brasileiros.
A Sonia Braga merecia se juntar à Fernanda Montenegro no time das atrizes brasileiras indicadas ao Oscar. Em “Aquarius”, ela encontra o personagem mais completo da grande carreira ao fazer uma mulher resistindo em uma luta simbólica de que o dinheiro não pode comprar afeto nem a história.
Seria incrível ter visto o Oscar reconhecer no mesmo ano atrizes tão potentes como a Isabelle Huppert e a Sonia Braga. Por outro lado, não tornou a Emma Stone odiada no Brasil igual a Gwyneth Paltrow.
3. JEAN-LOUIS TRINTIGNANT, por “AMOR”
“Amor” praticamente não pode reclamar do Oscar: obteve nomeações em Melhor Filme, Direção com o Michael Haneke, Atriz com Emanuelle Riva e Roteiro Original. Venceu Filme em Língua Não-Inglesa. Porém, faltou uma nomeação.
Grande nome do cinema francês, Jean-louis Trintignant merecia o reconhecimento e a primeira indicação ao Oscar por “Amor”.
O ator forma uma parceria comovente com Riva e traduz a tristeza e preocupação daqueles que acompanham a degradação mental e física das pessoas que amamos.
2. SONG KANG-HO, por “PARASITA”
“Parasita” é uma das maiores obras-primas dos últimos anos e, se entre tantos acertos da Academia em reconhecer o filme, pode-se dizer que o erro veio nas categorias de atuações.
Afinal, o elenco é a alma do longa dirigido pelo Bong Joon-Ho. E ninguém traduzia melhor todas as injustiças e espertezas daquele universo do que o personagem do Song Kang-Ho.
E teria vaga fácil para ele seja em Melhor Ator no lugar do Leonardo DiCaprio, de “Era uma vez em Hollywood”, ou em Ator Coadjuvante tirando o Anthony Hopkins, por “Dois Papas”.
1. ADÉLE EXARCHOPOULOS, por “AZUL É A COR MAIS QUENTE”
O primeiro lugar deste TOP 10 vem de uma jovem francesa que brilhou em Cannes 2013.
Em “Azul é a Cor Mais Quente”, Adéle Exarchopoulos entra para a história do cinema ao fazer um dos retratos mais tocantes sobre processo de amadurecimento, descoberta sexual e do primeiro amor. A entrega da atriz vai muito além das intensas cenas de sexo através dos altos e baixos de um relacionamento a partir de uma jornada sensorial em que a câmera capta cada detalhe das marcas dela.
Caso tivesse sido indicada, a Adéle poderia ter dado um belo calor no favoritismo da Cate Blanchett, por “Blue Jasmine”. Vale lembrar como Hollywood gosta de reconhecer jovens atrizes talentosas e belas. Infelizmente, optaram por Judi Dench, de “Philomena”, Meryl Streep, de “Álbum de Família”, e Amy Adams, por “Trapaça”.
Vai entender…