Como eu disse no último vídeo/post, “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” é o favorito para o Oscar 2023 de Melhor Filme com 11 indicações. Nos últimos anos, porém, os líderes da corrida não venceram o prêmio máximo. 

Foi assim com “Ataque dos Cães” em 2022, “Mank” em 2021, “Coringa” em 2020 e “Roma” e “A Favorita” em 2019. A última vez em que o maior nomeado ganhou o Oscar foi 2018 com “A Forma da Água”. 

Diante deste retrospecto recente, qual dos nove outros indicados a Melhor Filme pode surpreender a ficção científica dos Daniels? 

SEM CHANCES 

Desde que a corrida ao Oscar começou a se cristalizar, ficou evidente que duas vagas em Melhor Filme estavam em disputa para diversos candidatos. E justamente os ocupantes delas aparecem sem chances de vitória na categoria. 

“Triângulo da Tristeza” foi a grande surpresa entre os finalistas. O vencedor da Palma de Ouro bateu “Wakanda Forever” e “Babilônia” nesta briga pela última vaga em um êxito impressionante da Neon. A festa, entretanto, deve parar por aí: a comédia do Ruben Ostlund pode até ter o tema do momento – a excentricidade e o mundo irreal dos ricos versus a exploração dos mais pobres -, mas, o anarquismo e escatologia o tornam uma produção inviável para uma lista de sistema preferencial.  

“Entre Mulheres” chega ao Oscar aos trancos e barrancos: para um candidato apontado desde o início como peso-pesado, o drama sucumbiu na temporada sem ganhar praticamente nada e fora das principais premiações. A indicação a Melhor Filme se deve tanto à força dos nomes envolvidos na produção – Frances McDormand, Rooney Mara, Jessie Buckley e a própria Sarah Polley – e também ao fato de ser a única produção dirigida por uma mulher na categoria máxima.    

O caso de “Entre Mulheres” lembra demais “Selma”, da Ava DuVernay, o qual também foi indicado em apenas duas categorias, incluindo Melhor Filme. Para os dois filmes citados, fica claro como a nomeação acabou sendo a verdadeira vitória. 

CHANCES MÍNIMAS 

Subindo um degrauzinho nas chances, “Avatar – O Caminho da Água” parece improvável demais sair do dia 12 de março como vencedor do Oscar. 

A espetacular ficção científica do James Cameron traz como principal ativo ser o fenômeno de bilheteria: não é todo dia que uma produção atinge a marca de US$ 2 bilhões, especialmente, quando se trata de uma continuação de um filme lançado há mais de uma década. 

A Academia, por outro lado, pode observar que esta seja justamente a razão para não o premiar, afinal, qual o sentido de dar ainda mais visibilidade para um longa já bilionário em vez de jogar holofote sobre filmes também excelentes, mas, menos vistos? 

“Avatar” ainda tem um grande desafio pela frente que afetou outros grandes longas de ação como nos últimos anos como “Gravidade” e “Mad Max”: vencer Melhor Filme sem ser indicado entre os roteiros. Somente seis produções até hoje conseguiram este feito. 

O último deles? “Titanic”, do James Cameron. 

CORRENDO POR FORA 

“Elvis” abre o hall dos candidatos com chances médias de levar Melhor Filme. 

A mítica em relação ao Rei do Rock, talvez, o maior nome da história da cultura pop dos EUA, joga muito a favor do filme. Isso ganha mais peso pela recriação técnica reconhecida nas indicações a Design de Produção, Figurino e Maquiagem e Penteado, além de nomeações em categorias importantes como Montagem e Fotografia. Há boas chances de ser uma das obras mais premiadas da noite. 

Se o Austin Butler chega como o grande nome e carro-chefe de “Elvis”, a ausência do Baz Luhrmann em Direção e em Roteiro Original, deixam a cinebiografia em situação delicada. Até hoje, somente “Grande Hotel”, na quinta edição do Oscar, conseguiu vencer Melhor Filme sendo esnobado nas duas categorias.  

Sorte de “Elvis” ter a grana da Warner Bros para tentar driblar esta situação muito complicada.

Dinheiro também não falta para a Netflix investir em “Nada de Novo no Front”. 

O drama de guerra alemão cresceu na reta final de indicações ao liderar a longlist do Bafta e a shortlist do Oscar. O virtuosismo técnico impulsionou esta ascensão e não será improvável também que saia como muitas estatuetas, especialmente, em Som e Direção de Fotografia, além, claro, da protocolar Filme Internacional. 

“Nada de Novo no Front”, porém, não parece ser um candidato que convença tanto assim como um representante de fora dos EUA. Explico: apesar de ser uma produção alemã, o filme se espelha demais nas produções do gênero vindas do cinema norte-americano, ficando longe da impressão de ser um estranho no ninho. Por isso, acho que não haverá o mesmo abraço em relação à produção como houve com “Parasita”. 

“TÁR” traz o prestígio da dupla Todd Field e Cate Blanchett. Com três filmes da carreira, o diretor já emplacou dois longas na categoria máxima do Oscar. A australiana é um fenômeno e busca o terceiro Oscar, algo obtido apenas por nomes como Meryl Streep, Ingrid Bergman, Jack Nicholson, Daniel Day-Lewis e Frances McDormand. 

A engenhosidade da narrativa, a qualidade técnica absurda – dos indicados a Melhor Filme é o único nomeado tanto em Fotografia como em Montagem -, e a temática mais do que atual sobre a cultura do cancelamento jogam a favor.  

Por outro lado, “TÁR” passa longe de ser o mais popular dos candidatos e, em uma temporada que busca audiência a qualquer custo, é um fator que tende a ser decisivo. 

CHANCES MÉDIAS 

A temporada de “Os Fabelmans” foi marcada por altos e baixos: no início, parecia o favorito absoluto; depois, perdeu espaço com os prêmios da crítica, mas, acabou se recuperando com o Globo de Ouro e a força de Steven Spielberg em Melhor Direção. 

Hoje, a produção da Universal Pictures aparece em uma situação ainda indefinida nesta corrida. 

Olhando pelo lado positivo, “Os Fabelmans” representa o maior diretor da história de Hollywood – isso, claro, do ponto de vista comercial. É um filme sobre cinema e a arte de fazer filmes com uma história de amadurecimento e drama familiar no meio. De “A Malvada” a “Birdman”,  essa metalinguagem e os bastidores da Sétima Arte sempre foram tentadores para a Academia. 

A narrativa de que chegou a hora de consagrar Spielberg com mais uma estatueta de Direção ainda pode impulsionar “Os Fabelmans” para também levar Melhor Filme. 

A esnobada quase completa no Bafta – apenas uma indicação em Roteiro Original – levanta a dúvida se há este apelo todo em torno do diretor ou não. Tenho sinceras dúvidas se “Os Fabelmans” convence tanto a ala mais jovem como aqueles que não caem de amores pelo Spielberg.  Não me parece ser aquele filme capaz de arrancar na reta final cativando todo mundo como fez “Coda”. 

Top Gun: Maverick” também aparece com chances médias. Aqui, a narrativa que afeta “Avatar” de uma superprodução bilionária não necessitando de mais holofote se dilui pela luta do produtor Tom Cruise em lançar o filme no cinema. A defesa de ainda acreditar na experiência da telona é algo que ressoa forte para uma indústria em crise diante da expansão do streaming. 

Reconhecer e premiar o Tom Cruise com o Oscar máximo seria também uma forma de celebrar um gigante do cinema com mais de cinco décadas de carreira, talentoso, lucrativo para Hollywood e amado pelo público. Falando nisso, o aceno para a audiência seria outro fator importante nesta escolha, mostrando como a Academia não é elitista. 

Ainda assim, quantos não vão virar a cara para “Top Gun: Maverick” por todos estes fatores? 

O MAIOR RIVAL 

Hoje, o maior rival de “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” reside em “Os Banshees de Inisherin”. 

A comédia dramática é um dos projetos mais premiados do ano, iniciando as conquistas no Festival de Veneza ao ganhar Melhor Ator com o Colin Farrell e Roteiro e, depois, obter reconhecimento nos prêmios da crítica dos EUA. Dominou o Globo de Ouro ao superar a ficção científica dos Daniels em Melhor Filme Comédia/Musical. Está na corrida de todos os eventos da temporada – PGA, DGA, SAG e também no Bafta, sendo o favorito neste último. 

No Oscar, “Os Banshees” aparece em todas as categorias principais e é favorito em Roteiro Original. Se ganhar e Spielberg vença Direção, pode fazer com que “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” tenha que realizar uma façanha de ficar sem as duas categorias e, mesmo assim, levar Melhor Filme. Isso ocorreu somente com “Rebecca”, do Alfred Hitchcock, em 1941. 

Para completar, o Martin McDonagh namora o Oscar desde “Três Anúncios Para um Crime”, o qual parou na força de “A Forma da Água”. Na atual temporada, o diretor/roteirista encontra uma produção que melhor encontra o equilíbrio entre o humor sarcástico e o drama de personagens complexos interpretados por um elenco na melhor forma. 

A grande questão é saber se “Os Banshees de Inisherin” será capaz de interromper o buzz em cima de “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”. Os britânicos podem impulsionar e se a ala internacional comprar a ideia as chances sobem. Agora, se a produção da Searchlight Pictures vencer um dos sindicatos dos EUA, especialmente, o SAG, o jogo muda completamente a favor da turma do Martin McDonagh.