Caio Pimenta analisa os motivos que levaram “Oppenheimer” a vencer o Oscar 2024 de Melhor Filme.
1. A QUALIDADE DO FILME – 50%
O primeiro e principal fator, claro, reside nas próprias qualidades de “Oppenheimer” .
O drama sobre o físico responsável pelo projeto que levou à criação da bomba atômica mostra a capacidade já conhecida do Christopher Nolan em trazer obras complexas de forma palatável para o grande público. Aqui, ele imprime um ritmo absurdamente veloz para uma história política, repleta de diálogos a partir de uma engrenagem técnica perfeita, especialmente, no som, trilha sonora e montagem. “Oppenheimer” ainda com a reunião de um elenco de estrelas com um trio de protagonistas muito sólidos carregando a produção.
Metade da vitória em Melhor Filme vai sim para a qualidade de “Oppenheimer”. Mas, não dá para atribuir a conquista no Oscar de quem quer que seja apenas a isso. Fatores simbólicos e até mesmos externos ao cinema contam para chegarmos ao resultado final.
2. EXALTAR PRODUÇÕES ADULTAS E ORIGINAIS – 25%
25% desta conquista, por exemplo, está na conta de um recado importante que a Academia passa para a indústria e público: a exaltação de conteúdos originais e voltados para o público adulto.
“Oppenheimer” é um alívio dentro de uma Hollywood dominada por adaptações de HQs ou pelas continuações frequentes.
O próprio Oscar já havia apontado este cansaço com o modus operandi da indústria na conquista de “Birdman” até de forma mais estridente.
Agora, a Academia encontra no longa de Nolan uma mensagem que vale a pena sim os estúdios investirem em filmes mais originais para uma plateia mais adulta, quase sempre deixada em segundo plano.
3. SUCESSO COMERCIAL – 10%
O terceiro feito com 10% desta conquista está no sucesso comercial do filme.
Não é de hoje que a Academia busca uma aproximação do público após críticas de que os últimos vencedores praticamente não eram conhecidos – “Moonlight” nos EUA, por exemplo, faturou US$ 27 milhões.
Com seus quase US$ 1 bilhão ao redor do planeta, “Oppenheimer” serve para o Oscar não apenas atingir um público que conhece a produção como também prestigia um diretor amado por uma parte da atual geração e responsável por hits como a trilogia “O Cavaleiro das Trevas”, “A Origem” e o contestado “Interestelar”.
4. PRIORIDADE DA UNIVERSAL PICTURES – 5%
Diferente dos demais estúdios, a Universal Pictures priorizou totalmente “Oppenheimer”.
Para se ter uma ideia, “O Urso do Pó Branco” e “Velozes e Furiosos 10” eram as outras produções da empresa. Desta forma, todos os esforços financeiros e de campanha ficaram nas mãos do filme estrelado pelo Cillian Murphy.
5. CANDIDATOS NAS CATEGORIAS PRINCIPAIS – 5%
Ter sempre candidatos nas principais categorias e bem-posicionados favoreceu demais “Oppenheimer” ao longo da temporada.
A sensação de dominação completa do filme crescia à medida em que, exceção a Melhor Atriz, a produção emplacava em todas as demais disputas, sempre com possibilidades de vitórias.
Foi assim em Direção, Ator, Ator Coadjuvante e Roteiro Adaptado. Até mesmo em Atriz Coadjuvante, onde não tinha chances, era importante por ter quebrado o incômodo tabu da Emily Blunt nunca ter sido indicada.
Enquanto todos os seus concorrentes enfrentavam tropeços – Willem Dafoe de “Pobres Criaturas” fora de coadjuvante, “Barbie” sem Greta Gerwig e Margot Robbie, “Assassinos da Lua das Flores” esnobado em Ator e Roteiro Adaptado – “Oppenheimer” se manteve firme e forte.
6. MENSAGEM PACIFISTA – 5%
Por fim, claro, a Academia busca mandar uma mensagem de alerta em relação aos perigos do acirramento das tensões com inúmeras guerras ao redor do planeta.
Vale destacar a frase recente de Vladimir Putin de que não hesitaria em usar armas nucleares na Ucrânia caso a Otan entre na guerra.
Neste sentido, “Oppenheimer” se torna o filme perfeito, pois, Nolan passa longe de polêmicas políticas entre países, alvo de críticas em relação a obra.
O foco está no protagonista e nos perigos provocados à humanidade em relação à criação dele.