De Leonardo DiCaprio a Joaquin Phoenix, Caio Pimenta traz as previsões iniciais para as indicações ao Oscar 2024 de Melhor Ator. 

AZARÕES

Azarões não faltam em Melhor Ator. Tem gente, aliás, que entra sem grandes chances em dose dupla. 

São os casos, por exemplo, do Michael Fassbender com “The Killer”, do David Fincher, e “Next Goal Wins”, do Taika Waititi, enquanto o  Anthony Hopkins está em “One Life” e “Freud’s Last Session”. Exceto por este último, os três longas passaram longe de empolgar durante os festivais deste segundo semestre, o que dificulta imaginar os atores fortes na corrida. Fora que concorrer contra si próprio, muitas vezes, atrapalha estratégias de campanha do estúdio.

 
O Timotheé Chalamet tenta ser a surpresa de última hora com a aventura sobre as origens do Willy Wonka. Ele é um dos jovens atores mais prestigiados da indústria, adorado pelos seus pares, porém, será que consegue trazer algo novo após as atuações do Gene Wilder e do Johnny Depp em “A Fantástica Fábrica de Chocolates”? Tem que ser algo muito grande para o nome dele entrar em debate. 

O Teo Yoo não deve ser prioridade na campanha de “Past Lives”  para o Oscar 2024. Acredito que a A24 aposte todas as fichas em Filme, Celine Song em Direção, Greta Lee em Atriz e Roteiro Original. Para ele, seria mais fácil uma fraude de categoria para levá-lo a ator coadjuvante em uma improvável indicação. 

E ainda tem o Matt Damon para encerrar os azarões da categoria por Air – A História por Trás do Logo . A única esperança é o filme arrancar de maneira surpreendente e, mesmo assim, seria uma senhora surpresa. Além disso, o próprio astro deve focar mais nas chances de aparecer em coadjuvante por “Oppenheimer”, onde as possibilidades, de fato, existem e são reais. 

CORRENDO POR FORA

O Gael García Bernal é um dos grandes atores da atualidade ainda sem indicação ao Oscar. Para a temporada de premiações de 2024, ele surge correndo por fora com uma produção bem-recebida em Sundance. 

O mexicano interpreta o personagem-título de “Cassandro”, uma lenda da luta-livre e que quebrou tabus por ser abertamente gay em um universo machista. O maior problema para Gael é conseguir fazer a Amazon/MGM olhar para o título em meio a outros candidatos mais fortes. Quem sabe o lançamento neste segundo semestre não crie uma onda em favor dele?  

Também da Prime tem o Jamie Foxx com “The Burial”. O ator ganhador do Oscar por “Ray” interpreta um advogado de modos não muitos comuns que irá defender o Tommy Lee Jones fazendo o dono de uma funerária falida. Por mais talentoso que seja o elenco e haja um carinho grande pelo astro, principalmente, após o susto dado no início do ano com graves problemas de saúde, os dramas de tribunal estão em baixa: para você ter uma ideia, os últimos trabalhos do gênero nomeados ao Oscar foram o Denzel Washington em “Roman J. Israel Esq.” e o George Clooney em “Conduta de Risco”. 

Se “Ferrari” tivesse bombado em Veneza, certamente o Adam Driver seria nome certo para estar no debate dos possíveis indicados. Como não aconteceu, dificilmente a terceira nomeação ao Oscar irá acontecer. Já o Paul Dano teve a mais possibilidade de nomeação neste ano com o excelente desempenho por “Os Fabelmans”. Infelizmente, não aconteceu. Para 2024, será preciso um fortalecimento surpreendente de “Dumb Money” para cogitar algo. Até o momento, está distante. 

O Christian Friedel pode fazer o caminho oposto, afinal, “The Zone of Interest” é uma das produções mais fortes da temporada. No drama do Jonathan Glazer, ele interpreta o chefe do campo de concentração de Auschwitz e acompanhamos a tentativa dele e da esposa em construir um lar como se nada estivesse acontecendo ali. Quem sabe ele não repete o Antonio Banderas, em “Dor e Glória”, o último indicado na categoria de filme de língua não-inglesa? 

CHANCES MÉDIAS

Abrindo a turma dos candidatos com chances médias, temos dois astros que brilharam recentemente no Oscar. 

Em “Napoleão”, o Joaquin Phoenix retoma a parceria com o Ridley Scott, diretor que o levou pela primeira vez à festa com “Gladiador”. Viver o icônico líder francês é um dos maiores desafios da carreira do grande ator e será interessante observar como será a construção do personagem. Se o épico for um sucesso e estiver muito bem, pode crescer demais na corrida. 

O Austin Butler bateu na trave no Oscar 2023 em Melhor Ator fazendo Elvis Presley. Agora, ele tenta retornar à categoria com “The Bikeriders”, drama dirigido pelo Jeff Nichols. O ator vive um motoqueiro integrante de um perigoso grupo e apaixonado pela personagem de Jodie Comer. A dúvida fica saber se ele vai para a categoria principal ou coadjuvante, ambas bem concorridas. 

O Kôji Yakusho encantou Cannes e venceu o prêmio de Melhor Ator por “Perfect Days”, enquanto o Peter Sarsgaard comoveu Veneza ganhando a categoria lá por “Memory”. A grande questão para ambos é conseguir se sobressair no meio de tantos pesos-pesados de produções com grandes campanhas. Como digo há tempos, isso é decisivo em uma corrida disputada como esta.  

Já o Andrew Scott pode ser uma surpresa bem-vinda pelo trabalho em “All of us Strangers”. A crítica foi unânime em apontá-lo como o grande nome do longa do Andrew Haigh. Não duvido a Searchlight Pictures investir e focar pesado nele caso sinta o Leonardo DiCaprio garantido entre os finalistas. 

Indicado ao Oscar de Ator Coadjuvante neste ano por “Os Banshees de Inisherin”, o Barry Keoghan tenta a segunda indicação da carreira com “Saltburn”. Para se credenciar de maneira firme na corrida, porém, o irlandês irá depender de um fortalecimento do filme da Emerald Fennell, hoje, em segundo plano na temporada. 

Por fim, o Kingsley Ben-Adir, de “Bob Marley: One Love”, joga com a tradição das cinebiografias, responsáveis por renderem as primeiras estatuetas das carreiras do Will Smith, Rami Malek, Gary Oldman e tantos outros grandes nomes da indústria. A Academia não satura deste tipo de projeto, como ficou evidente com o Austin Butler disputando palmo a palmo a categoria com o Brendan Fraser neste ano. Fora que o Oscar está em dívida com o ator pela esnobada à bela atuação como Malcolm X em “Uma Noite em Miami”. 

GRANDES CHANCES

Lembra que eu já falei sobre este Oscar de Melhor Ator ter uma vaga em disputa sobrando? Acredito que um destes dois deva ficar com ela. 

Apesar de não ser dos mais populares atores de Hollywood, o Paul Giamatti conta com o respeito da indústria, crítica e cinefilia. Retomando a parceria com o Alexander Payne quase 20 anos após “Sideways”, ele é o destaque maior de “The Holdovers”. Os elogios de quem já viu o filme em Telluride, considerando ser este o melhor trabalho da carreira do ator, o deixam em posição muito boa na corrida. Ainda pode pesar o fato da única nomeação ao Oscar ter ocorrido em ator coadjuvante na distante edição de 2006. 

Para chegar lá, porém, o Paul Giamatti precisa combinar para o Jeffrey Wright não ficar com a quinta vaga. O subestimado ator encontra o grande papel da carreira em “American Fiction”, produção vencedora de Melhor Filme do público do Festival de Toronto.  

No drama, ele interpreta um escritor que vê o mais recente livro dele fracassar, enquanto um autor mais jovem explode utilizando todos os chavões do discurso antirracial, criticados por ele. Revoltado, ele, então, escreve de uma vez só uma obra se valendo de todos os mesmos discursos e lança com um pseudônimo, fazendo sucesso na hora. 

Se o filme de fato vingar na temporada a partir do impulso da conquista em Toronto, acho muito possível ver o Jeffrey Wright no Oscar até por conta dele não ter sido nomeado. Seria a indicação de reconhecimento semelhante ao ocorrido com o Bill Nighy, Antonio Banderas e o Jonathan Pryce. 

OS FAVORITOS

Hora dos favoritos e são quatro nomes na disputa pela estatueta dourada. E dois deles vão travar uma briga interna na Netflix. 

O streaming terá o Bradley Cooper, por “Maestro”, e o Colman Domingo, de “Rustin”, à disposição na corrida de Melhor Ator. Interpretando o Leonard Berstein, o Cooper encontra aqui a maior possibilidade de vitória entre as quatro possibilidades que terá na festa – além de protagonizar a cinebiografia, ele ainda produz, dirige e roteiriza o filme. 

E para vencer o primeiro Oscar como ator, o astro apela para tudo, inclusive, uma transformação visual já polêmica por conta do nariz, digamos, avantajado do personagem. O Bradley Cooper, entretanto, corre dois riscos: os excessos que cansam na busca desesperada pela estatueta e ainda Carey Mulligan roubando a cena em “Maestro”. 

Já o Colman Domingo encontra em “Rustin” seu grande papel para brilhar nos cinemas após uma série de papeis coadjuvantes. O astro faz um filme moldado para ele brilhar mais do que qualquer outro colega de elenco a partir da desafiadora missão de viver o ativista dos direitos civis da causa negra assumidamente homossexual em pleno anos 1960 nos EUA. 

No retrospecto histórico, o Colman Domingo pode olhar o copo tanto cheio quanto vazio: pelo lado positivo, ele pode recordar o Sean Penn em “Milk”, enquanto do outro há o Denzel Washington em “Malcolm X” sem a estatueta e o David Oyelowo ignorado por “Selma”. 

Também vindo de cinebiografias, o Cillian Murphy representa o candidato que deve ter o maior número de indicações da temporada. 

O ator irlandês carrega as angústias, arrogância, incertezas, medo, pressão e o brilhantismo de J. Robert “Oppenheimer” durante o projeto Manhattan ao longo de três horas de um filme que está sempre em cena. Tudo isso sem apelar para os maneirismos histriônicos típicos de longas do gênero que poderiam render cortes fáceis para a cerimônia do Oscar. Talvez seja justamente isso que falte para vencer o prêmio, mas, a indicação é mais do que certa. 

Completando o time, claro, não pode faltar o Leonardo DiCaprio. 

Uma década depois de ser nomeado pelo brilhante desempenho em “O Lobo de Wall Street”, o maior astro dos últimos 30 anos de Hollywood deve chegar ao Oscar 2024 em uma nova parceria com o Martin Scorsese. Desde o Festival de Cannes, a atuação do DiCaprio vem sendo considerada uma das melhores da carreira dele. A grande questão é saber se a Academia já estaria disposta a conceder a segunda estatueta para ele e colocá-lo no mesmo time de astros como Jack Nicholson, Anthony Hopkins e Tom Hanks ou prefere priorizar um novo nome. 

SE AS INDICAÇÕES FOSSEM OS HOJE, OS FINALISTAS SERIAM…

  • Leonardo DiCaprio, por “Assassinos da Lua das Flores”
  • Colman Domingo, por “Rustin”
  • Cillian Murphy, de “Oppenheimer”
  • Bradley Cooper, por “Maestro”
  • Jeffrey Wright, por “American Fiction”

Surpresa: Paul Giamatti, por “The Holdovers”