Da transmissão brasileira ao show de Ryan Gosling, Caio Pimenta analisa do pior ao melhor da cerimônia do Oscar 2024.

NÃO FOI BOM: CERIMÔNIA ENXUTA DEMAIS

A cerimônia foi bem boa, mas, é claro, sempre tem aqueles problemas que são de lei. Para começar, achei o Oscar 2024 enxuto demais: ok, isso deu um ritmo bem legal para o evento, acabando relativamente cedo para o que estamos acostumados. Por outro lado, quando a gente compara com as belas homenagens feitas no Emmy deste ano, faltaram aqueles momentos especiais para além da entrega dos prêmios.  

Também senti falta de um número musical de abertura – opções não faltavam com a Sophie Ellis-Baxter de “Murder on the Dance Floor”, de “Saltburn”, ou a Dua Lipa com “Dance the Night”, de “Barbie” 

POUCO ESPAÇO: IN MEMORIAN

Novamente o In Memorian segue perdendo espaço no Oscar. Desta vez, contou com a presença do Andrea Bocelli ao lado do filho com “Time To Say Goodbye”.

Os nomes, porém, passam rápido demais sem dar aquele respiro para que a plateia e o público de casa possam processar os principais artistas da lista.

Assim, perde-se o peso de momentos que poderiam ser grandiosos. 

DEU SONO: PREVISIBILIDADE NA PREMIAÇÃO

A previsibilidade atrapalhou o Oscar: exceção feita a “O Menino e a Garça” em Melhor Animação, Melhor Som com a vitória de “Zona de Interesse” e Efeitos Visuais com “Godzilla Minus One”, todos os demais resultados foram dentro do esperado.

Logo, faltou aqueles momentos em que você fica sem entender, gerando uma discussão imensa nas redes sociais e a própria plateia se mostra surpresa. 

O PIOR: TRANSMISSÃO BRASILEIRA

O ponto mais baixo do Oscar 2024, entretanto, ficou aqui pelo Brasil mesmo: a transmissão da TNT/HBO Max foi um verdadeiro desastre. Logo no início da cerimônia, o sinal caiu no discurso da Da´Vine Joy Randolph e, pouco depois, ficamos sem ver a categoria de Curta de Animação. Se ficasse só nisso ok, pois, acaba sendo um problema técnico que envolve satélite e todos os tipos de tecnologias que somente um profissional da área pode explicar. 

Infelizmente, o caos foi além: cortes fora de hora, comentarista falando em cima do discurso e dos apresentadores, falta de informações e curiosidades sobre os indicados, mais torcida do que análise e, claro, inserções de uma direção de TV que não entende o que está fazendo. Afinal, por que colocar uma tela da Aline Diniz dançando e da Ana Furtado fazendo Stories na hora da apresentação de “I´m Just Ken”? Que o bom senso prevaleça no ano que vem. 

ARRASOU: HOMENAGEM AOS INDICADOS

Como dizem nos merchans de televisão, “vamos falar de coisa boa”? 

O Oscar 2024 entregou muitos momentos marcantes a começar a volta do anúncio dos vencedores antecedida das falas de ganhadores do passado. 

Ver estrelas queridas falando de nomes atuais com tanto amor e reconhecimento é sempre bonito. Rita Moreno cantando ‘America’ para a America Ferrera, Tim Robbins conseguindo tirar a sisudez do Robert De Niro com pequeno erro no discurso, Sam Rockwell em um momento de camaradagem com Robert Downey Jr, o carinho de Charlize Theron com Annette Bening e tantos, tantos outros momentos. Que seja mantido para sempre. 

PASSAGEM DE BASTÃO e PACINO

Ainda falando de apresentadores, achei muito simbólica a escolha de Steven Spielberg para anunciar Melhor Direção para o Christopher Nolan, visto que o diretor de “Oppenheimer” sempre foi visto como sucessor natural do cineasta de “A Lista de Schindler”. Vale lembrar que ambos venceram seus primeiros Oscars com obras sobre a Segunda Guerra Mundial.  

Já o Al Pacino entregando Melhor Filme foi maravilhoso: primeiro pela trilha de “O Poderoso Chefão”, segundo pelos aplausos de pé do Dolby Theather e, por fim, a maneira como ele falou o vencedor de qualquer jeito. Se alguém tem crédito para fazer isso, é ele.  

POLÍTICA NO OSCAR

O Jimmy Kimmel manteve o estilo dele discreto e piadas razoáveis durante toda a cerimônia. Até quando foi mal no clichê dos filmes longos não surpreendeu. No final, entretanto, ele resolveu cutucar o ex-presidente e candidato republicano Donald Trump ao perguntar quando ele seria preso. Um choque bem-vindo para quase toda a plateia do Oscar. 

Já que estamos falando de política, os dois melhores discursos da noite tiveram este tom: Mstyslav Chernov, diretor de “20 Dias em Mariupol”, disse que não gostaria de precisar fazer o filme sobre a invasão russa na Ucrânia. Ganhador de Filme Internacional por “Zona de Interesse”, Jonathan Glazer, diretor de origem judia, fez referências ao Holocausto para criticar Israel pela guerra na Faixa de Gaza. Será que ele vai virar persona non grata também? 

MAIOR DISTRIBUIÇÃO DE PRÊMIOS

A premiação também foi bastante interessante: “Oppenheimer” foi o grande vencedor sim, mas, não teve o domínio esperado. Ficou com as mesmas sete conquistas de “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” no ano passado. “Pobres Criaturas” surpreendeu ao vencer quatro prêmios – curiosamente igual a “Nada de Novo no Front” em 2023.  

O restante foi bastante equilibrado com prêmios para “Ficção Americana”, “Anatomia de uma Queda”, “Os Rejeitados”, “Barbie” e “Zona de Interesse”. Pena ver “Vidas Passadas” e, principalmente, “Assassinos da Lua das Flores” de mãos vazias. Com isso, os longas de Martin Scorsese, desde “O Lobo de Wall Street”, acumulam 27 derrotas consecutivas no Oscar. 

O MELHOR: I´M JUST KEN

Por fim, não há como falar de Oscar 2024 sem citar a apresentação fantástica de Ryan Gosling cantando “I´m Just Ken”. 

Depois de não querer cantar “City of Stars”, de “La La Land”, o astro resolveu se apresentar no palco do Oscar e se entregou como poucas vezes vimos na festa. Ele saiu da plateia, fez a Marylin Monroe, performou junto com os colegas de elenco, introduziu Slash na música, desceu do palco, fez a Greta, Margot e Emma cantarem, deu mãozinha para o câmera e foi aplaudido de pé. Simplesmente inesquecível! 

Se a votação tivesse sido ali na hora, “I´m Just Ken” teria vencido de forma unânime. De qualquer modo, o Ryan Gosling já garantiu que, na próxima indicação, o Oscar será dele mesmo que venha a fazer uma porta.