Dois galãs surgidos nos anos 1980, Sean Penn e Mickey Rourke tiveram trajetórias bem diferentes ao longo da carreira, mas, se encontraram para uma disputa acirrada no Oscar 2009 de Melhor Ator.
Com direito até tretas, Caio Pimenta traz como foi essa disputa e se o resultado foi justo ou não.
CAMINHOS OPOSTOS
Sean Penn e Mickey Rourke estrearam nos cinemas praticamente na mesma época: Rourke teve a sorte de fazer de cara filmes de importantes diretores como “1941: Uma Guerra Muito Louca”, de Steven Spielberg, “Portal do Paraíso”, de Michael Cimino, e “O Selvagem da Motocicleta”, de Francis Ford Coppola.
Já Penn participou de comédias como “Picardias Estudantis” e “Alta Incompetência”. Mickey Rourke não demorou muito e se tornou um símbolo sexual com “9 ½ Semanas de Amor” e também sendo reconhecido pela crítica no ótimo ”Coração Satânico”. Sean Penn só foi começar a se destacar com o policial “As Cores da Violência”, em 1988, ao lado de Robert Duvall.
Os anos 1990 foi a virada da dupla: Rourke cansou do mundo do cinema após fracassos como “Orquídea Selvagem” e “Hora do Desespero” decidindo voltar ao boxe que já havia tentado seguir carreira na adolescência. E ele não era um pugilista dos piores não: nos pesos leves, o astro disputou oito lutas com seis vitórias, sendo quatro por nocaute. Os demais combates deram empate. Porém, as lesões desfiguraram o rosto de Rourke apagando a imagem de sex simbol para sempre.
Já o Sean Penn, a partir de 1993, entrou em um grande momento: por “O Pagamento Final”, ele foi indicado para o Globo de Ouro em 1994 como ator coadjuvante. Dois anos depois, disputou o Oscar pela primeira vez pelo grande desempenho em “Os Últimos Passos de um Homem”. Perdeu para Nicolas Cage, de “Despedida em Las Vegas”. Concorreu ainda em 2000 por “Poucas e Boas”, Por fim, ganhou Melhor Ator em Cannes por “Loucos de Amor”.
Vale também dizer que o Sean Penn não era santo: na vida pessoal, ele foi acusado de agredir a Madonna, na época, namorada dele. E também teve um relacionamento turbulento com a Robin Wright.
No início dos anos 2000, Hollywood voltou a dar oportunidade para o Mickey Rourke e ele realizou filmes como “A Promessa” ao lado do Jack Nicholson, “Era uma Vez no México”, do Robert Rodriguez, “Chamas da Vingança”, com Denzel Washington, e, claro, “Sin City”.
Já o Sean Penn foi ao Oscar duas vezes: a primeira foi apenas indicado pelo choroso “Uma Lição de Amor”. Em 2004, entretanto, veio a estatueta de Melhor Ator por “Sobre Meninos e Lobos”.
A TEMPORADA DE PREMIAÇÕES E A TRETA
Depois de tantos altos e baixos e caminhos opostos, 2008 teve uma convergência: o Sean Penn e o Mickey Rourke fizeram trabalhos memoráveis.
Em “Milk”, drama dirigido pelo Gus Van Sant, o Sean Penn interpreta Harvey Milk, o primeiro político gay a ser eleito nos EUA. Já o Rourke encontra o papel de uma vida em “O Lutador”, a história de um ex-lutador tentando voltar para um último duelo contra seu arquirrival.
Os dois foram tão dominantes que deixaram para trás o Brad Pitt, de “O Curioso Caso de Benjamin Button”. Durante a temporada, eles dividiram os prêmios da crítica.
O Mickey Rourke levou o Bafta e o Globo de Ouro, enquanto o Sean Penn conquistou o SAG e o Critics Choice.
Porém, a disputa não foi tão bonita assim: vazou na imprensa uma mensagem do Mickey Rourke dizendo que não gostou da atuação do Sean Penn considerando-a caricata e dizendo que ele fingia ser gay. Para piorar, o ator de “O Lutador” declarava que o seu rival seria extremamente homofóbico nos bastidores.
Claro que houve tentativas de apagar o incêndio, de dizer que não era bem assim, mas, claro que, em uma corrida tão acirrada assim, esse tipo de atitude pode sim desequilibrar a disputa. Isso se potencializa quando vem de um cara tão controverso como o Mickey Rourke enfrentando um ator prestigiado como Sean Penn era na época.
Na cerimônia mais bonita dos últimos anos com grandes atores homenageando os indicados, o Oscar 2009 de Melhor Ator ficou com Sean Penn.
FOI JUSTO?
O que faltou de emoção em Melhor Filme, Direção, Atriz, Atriz e Ator Coadjuvante, o Oscar 2009 reservou para Melhor Ator, afinal, são duas atuações brilhantes.
De um lado, temos um trabalho cuidadoso do Sean Penn, o qual percorre uma linha que poderia cair em excessos ou no perigo da caricatura, mas, ele encontra o tom exato sendo de uma delicadeza e sensibilidade nos gestos e trejeitos de forma admirável.
Já o Mickey Rourke exorciza os próprios fantasmas em “O Lutador” trazendo muito das próprias vivências e se expondo como é raro ver grandes nomes do cinema fazerem em um filme.
Ainda que seja impossível ficar revoltado ou considerar absurda a vitória do Sean Penn, na minha vista, se houvesse justiça, este Oscar era sim do Mickey Rourke.