Aclamado em diversos festivais de cinema, incluindo Berlim e Sundance (do qual também saiu premiado), ‘The Souvenir’ é um filme de narrativa simples com grandes atributos. Para começar, ele é escrito e dirigido unicamente por Joanna Hogg, já conhecida por marcar presença no circuito europeu de cinema por trabalhos como ”Unrelated”, além disso, o longa possui a distribuição da A24, queridinho dos filmes independentes e, como se tudo isso não bastasse, ainda leva o nome de Martin Scorsese (“O Irlandês”) na produção executiva. Entretanto, apesar da grandeza que cerca sua distribuição, ‘The Souvenir’ é um filme delicado que fala sobre narrativas já conhecidas no cinema, se destacando verdadeiramente pelo desempenho Honor Swinton Byrne como protagonista de um romance problemático.
Em “The Souvenir”, Honor interpreta Julie, uma estudante de cinema no início dos anos 1980. Tentando encontrar seu caminho como cineasta, ela acaba se apaixonando por Anthony (Tom Burke), um homem cheio de vícios e não muito confiável, desencadeando situações complicadas para si mesma e para sua profissão. Com essa proposta, Hogg aborda duas temáticas muito populares: romances conflituosos e o próprio cinema, sendo necessária uma abordagem muito boa para mostrar algo novo sobre.
Felizmente, a forma como ‘The Souvenir’ se apresenta passa a impressão de novidade. O filme oferece uma estética muito bela e delicada, um contraste grande com as cenas mais densas e com a própria forma de serem abordadas pela direção de fotografia, a qual alterna entre um retrato mais íntimos dos personagens com ângulos abertos e contemplativos
Além disso, a própria dinâmica entre Honor Swinton Byrne e Tom Burke é um dos pontos positivos da história: ao mesmo tempo em que o romance entre os dois é construído de forma sutil, os problemas posteriores surgem de maneira muito mais urgente e a atuação dos dois passa o esgotamento sentimental em meio aos momentos românticos. No elenco, o longa ainda apresenta um grande easter egg com a relação mãe e filha da vida real sendo levada para a tela com Hornor e Tilda Swinton.
Mais do mesmo
Apesar de passar a impressão de novidade e possuir bons elementos para lhe apoiar neste quesito não demora muito para a produção cair em armadilhas. Com o foco na relação conturbada entre Anthony e Julie, os diálogos sobre cinema parecem dispersos e aleatórios, mostrando que “The Souvenir” não consegue se aprofundar nem no relacionamento nem na profissão de Julie, deixando a cargo dos atores forçarem mais para o lado do conflituoso do casal.
Com esse enfoque total nos personagens, “The Souvenir” mostra que falta densidade para apresentar uma narrativa impactante e até mesmo relevante. Sim, existe todo o cenário de um relacionamento tóxico, de abuso de drogas e o próprio amadurecimento de Julie, porém, sua posição privilegiada (algo ressaltado pelo próprio filme) faz os problemas parecerem menos urgentes do que são.
Assim, ‘The Souvenir’ possui qualidade óbvia em sua execução, entretanto, a concepção poderia ter sido pensada em abranger um público maior, em focar nas narrativas que conversem facilmente com diferentes pessoas. É por esta situação de filme bem feito, porém, nem tão relevante quanto se propõe que ‘The Souvenir’ tem tudo para se tornar uma obra esquecível.
Adorei essa crítica!