No filme Loop, do diretor Bruno Bini, o tempo é a principal preocupação. Personagens falam sobre ele, agem sobre ele, e o filme faz referência a outros que abordaram esse tema. Trata-se de um divertido e interessante longa que combina trama policial, romance e viagem no tempo, e mesmo que essa combinação não se sustente por inteiro ao longo da trama, a experiência resulta, em geral, num filme legal e inventivo. Talvez inventivo até demais, para o bem da história…
Em Loop, Bruno Gagliasso vive Daniel, um jovem cientista obcecado pelo tempo e que acredita estar perto de comprovar a possibilidade de viagem ao passado. Quando sua namorada Maria Luiza (Bia Arantes) é assassinada por um atacante desconhecido, um assassino serial apelidado de “carteiro” pela polícia, a obsessão de Daniel se aprofunda a ponto de ele testar suas teorias por si mesmo, contando com a ajuda da irmã Simone (Branca Messina). A cada nova intervenção temporal, ele descobre fatos e luta para salvar sua amada, sempre complicando a situação cada vez mais.
Percebe-se que Bini, também autor do roteiro e montador do filme, basicamente quis fazer a versão brasileira de O Predestinado (2014), a criativa pérola dos irmãos Spierig sobre viagem no tempo que acaba dando um nó na cabeça de quem assiste. Efeito Borboleta (2004), Donnie Darko (2001), De Volta para o Futuro (1985) e O Exterminador do Futuro (1984) são fortes referências também. Loop tem uma energia jovem, de realizadores que estão se divertindo com o cinema e explorando as possibilidades de uma história que presta homenagem a vários outros filmes queridos do roteirista e dos produtores. Mas Bini, de modo inteligente, inclui nas viagens no tempo do protagonista sacadas do contexto tipicamente brasileiro: há piadas bem engraçadas sobre Michel Temer presidente e o 7 a 1, e uma cena coloca os personagens nas passeatas de 2013.
O filme possui momentos muito interessantes do ponto de vista visual, como a cena do espelho que promove a “troca” de protagonista, e outra que revela ao espectador a fachada de uma pet shop. Não há grandes efeitos visuais nem muitas invencionices, mas “Loop” sustenta a atenção graças à trama criativa e ao núcleo emocional da história, bem retratado pelos atores. Gagliasso, Arantes e Messina estão todos bem em seus papéis, assim como Nikolas Antunes e Zé Carlos Machado. Claro, nenhum dos personagens é lá muito aprofundado, nem a relação de amor entre Daniel e Maria Luiza parece assim tão intensa para despertar tal obsessão no protagonista, mas os atores fazem funcionar com o que têm.
INVENTIVO E COMPETENTE
“Loop” acaba sofrendo, porém, pelo excesso, pela vontade de colocar muita coisa na história e, ao mesmo tempo, sem conseguir desenvolver a contento tais elementos, o que leva a um terceiro ato problemático. A subtrama do assassino em série e seu encaminhamento acaba sendo tratada de maneira rápida demais no desfecho do filme, e se torna pouco convincente. E o pior dos pecados, ela acaba destruindo a empatia pelo protagonista e o nosso interesse no final da história. O excesso de ideias atrapalha o filme, que acaba se concluindo de maneira previsível e anticlimática.
Vivemos um momento interessante da produção cinematográfica brasileira, com um grande volume de produções de gênero surgindo. O terror já vem se estabelecendo; Loop é uma tentativa de explorar a ficção-científica, algo mais complicado, mas como a própria obra revela, passível de ser trabalhada num contexto nacional. Como é um filme jovem feito por jovens, há muita empolgação e ela acaba prejudicando o longa no seu encerramento. Mas até ali, Loop era um inventivo e competente exemplar do gênero e com uma história bem amarrada, boa direção e um espírito criativo.
A parte mais complicada de qualquer viagem no tempo é a volta, ao que parece… Loop não acerta a volta para escapar do seu próprio círculo narrativo, e poderia ter escapado. Mesmo assim, desperta curiosidade para o que seus realizadores podem fazer a seguir. No futuro.