Mesmo sem filmes nas Mostras Competitivas, o Amazonas pode comemorar um feito histórico no Festival de Gramado 2022: o ator Adanilo recebeu uma menção honrosa do júri do Festival de Gramado 2022 pelo trabalho em “Noites Alienígenas”. Os jurados reconheceram a excelência da construção da linha do personagem e interpretação.

Na produção do Acre dirigida e roteirizada por Sérgio Carvalho, Adanilo interpreta Paulo, um rapaz de origem indígena e com uma mãe evangélica. Ele está em em conflito com a própria ancestralidade enquanto lida com a dependência química em pasta-base de cocaína. A história ainda acompanha dois personagens: Rivelino (Gabriel Knoxx), rapper e grafiteiro que deixa sua arte em forma de nave espacial pelos muros da cidade. Ele trabalha como aviãozinho para traficantes do local; e Sandra (Gleici Damasceno) uma jovem negra e empoderada, mãe do filho de Paulo, tem na cultura Hip Hop, um refúgio e espaço de resistência. Uma tragédia irá reunir o destino deles. 

“Sou nascido e criado na periferia manauara. Atuar num contexto periférico no Acre, me interessa porque entendo que um filme como “Noites Alienígenas” é um forte posicionamento contra o desamparo aos subúrbios nortistas, territórios indígenas, ainda que não sejam reconhecidos como tal. Precisamos falar dessa história que a gente já conhece, questões de educação, saúde, violência, preconceitos, que nos afetam física e psicologicamente”, declarou Adanilo em entrevista ao Cine Set em fevereiro deste ano.

FESTA DA REGIÃO NORTE

A menção honrosa de Adanilo não foi a conquista isolada de “Noites Alienígenas”: o longa ainda recebeu os Kikitos Melhor Filme do Júri Oficial e da Crítica de Longas-Metragens, Melhor Ator com Gabriel Knoxx, Melhor Ator Coadjuvante com Chico Diaz e Melhor Atriz Coadjuvante com Joana Gatis.

O filme acreano já havia sido selecionado para o tradicional Festival de Gotemburgo, na Suécia, realizado entre os dias 30 de janeiro e 6 de fevereiro.

Neste ano, o Festival de Gramado 2022 teve a maior participação da história da Região Norte: além de “Noites Alienígenas” entre os longas-metragens, tivemos os paraenses “Benzedeira” e “Socorro”* e o amapaense “Solitude” concorrendo entre os curtas. Para dar uma dimensão do passo conquistado pela região em Gramado, vale voltar na década passada: entre as edições de 2012 a 2019, nenhum filme dos sete Estados da região foram selecionados para as mostras competitivas do festival.

Em 2020, o amazonense “O Barco e o Rio”, de Bernardo Ale Abinader, não apenas quebrou este hiato como trouxe para Manaus cinco Kikitos na categoria de curtas-metragens nacionais – Melhor Filme do Júri Oficial e Popular, Direção, Direção de Fotografia com Valentina Ricardo e Direção de Arte com Francisco Ricardo. No ano passado, a animação também do Amazonas, “Stone Heart”, de Humberto Rodrigues, disputou a mesma competição.

A TRAJETÓRIA DE ADANILO

A menção honrosa soma mais um grande passo na carreira recente de Adanilo no cinema brasileiro. Após ter começado sendo um dos fundadores da Artrupe Produções Artísticas e protagonizado importantes produções locais como “A Menina do Guarda-Chuva” e “Aquela Estrada”, ambos de Rafael Ramos, o ator se mudou para o Rio de Janeiro, onde integrou o Teatro Galeroso.

Neste período, Adanilo teve a possibilidade de expandir ainda mais os horizontes ao participar de “Marighella”, longa de estreia de Wagner Moura na direção, e da segunda temporada da ótima “Segunda Chamada”, na Globo. “Noites Alienígenas” faz parte deste processo que ainda conta com a presença em “Eureka”, co-produção entre Argentina, EUA, México e Portugal com direção do argentino Lisandro Alonso em que dividirá a cena com Viggo Mortensen (“Green Book” e “O Senhor dos Anéis”).

Ainda assim, o ator continua fazendo projetos também no Amazonas como comprova e “521 Anos / Siia Ara” (selecionado para a Mostra Tiradentes 2022) e o ainda não lançado longa-metragem “Omágua Kambeba”.