De Wes Anderson a Nanni Moretti, Caio Pimenta traz a primeira parte dos candidatos à Palma de Ouro do Festival de Cannes 2023.

O JÚRI

A Palma de Ouro do Festival de Cannes 2023 será definida por um júri formado por nove importantes nomes do cinema mundial. 

Coroado na França por “The Square” e “Triângulo da Tristeza”, o Ruben Östlund terá a missão de presidir o júri deste ano. Também ganhadora da Palma de Ouro com “Titane”, a cineasta francesa Julia Ducournau (Ducornou) integra o time assim como os astros hollywoodianos Paul Dano e Brie Larson.  

Da América do Sul, chega o diretor Damián Szifron, de “Relatos Selvagens”. As diretoras Rungano Nyoni, da Zâmbia, e Maryam Touzani, do Marrocos, representam o cinema africano entre os jurados, enquanto Atiq Rahimi chega do Afeganistão. O excelente ator francês Denis Ménochet completa o time.  

“CLUB ZERO”, DE Jessica Hausner

O primeiro candidato pela Palma de Ouro é “Club Zero”. A produção traz a Mia Wasikowska, a eterna Alice do Tim Burton, interpretando uma professora que consegue um emprego em uma escola de elite e ministra uma disciplina chamada “alimentação consciente”. A partir das aulas dela, os estudantes começam a desafiar as normas sociais reduzindo o consumo de alimentos. E claro que vai dar ruim. 

O filme é dirigido pela austríaca Jessica Hausner, uma velha conhecida de Cannes. 

“Club Zero” é o segundo filme da cineasta na corrida pela Palma de Ouro. Em 2019, ela concorreu com “Little Joe: A Flor da Felicidade”, produção vencedora do prêmio de melhor atriz para a estrela Emily Beecham. Ela também disputou o Um Certo Olhar, a mais importante das mostras paralelas de Cannes, com “Amour Fou”, “Hotel” e “Lovely Rita”. 

A Jessica Hausner faz parte do time feminino de diretoras que bate recorde de participação nesta edição de Cannes: ao todo, são seis na corrida pela Palma de Ouro.  

“THE ZONE OF INTEREST”, DE JONATHAN GLAZER

Chegando com pinta de favorito está “The Zone of Interest”. A produção é o retorno do Jonathan Glazer dez anos depois do cult “Sob a Pele”. Ele também dirigiu o para lá de polêmica “Reencarnação” com a Nicole Kidman. 

A história de “The Zone of Interest” é bem interessante: um oficial nazista se apaixona pela mulher do comandante do campo de concentração de Auschwitz. O filme traz três pontos de vistas: do oficial, do comandante e de um judeu prisioneiro do local. 

Segundo a produtora, o filme foi a única unanimidade do comitê responsável por escolher os concorrentes à Palma de Ouro. E nos bastidores, havia um embate enorme entre Cannes e Veneza para lançar a produção. Se cair no gosto dos jurados, “The Zone of Interest” se credencia forte para ganhar o prêmio máximo na Riviera Francesa. 

“MONSTER”, DE Hirokazu Koreeda

Para isso ocorrer, tem que combinar com um diretor japonês querido de Cannes. 

O Hirokazu Koreeda venceu a Palma de Ouro em 2018 com “Assunto de Família” e no ano passado viu o Song Kang-ho ganhar como Melhor Ator por “Broker”. Neste ano, ele chega com “Monster” e uma trama no estilo “Rashomon”. Acompanhamos um garoto em uma escola na busca para saber quem é o monstro responsável por um grave acontecimento.

Igual “The Zone of Interest”, a produção japonesa também tem três óticas diferentes: uma da mãe, outra da professora e a do menino. 

Caso o Koreeda leve a Palma de Ouro, ele se iguala a nomes como Francis Ford Coppola, os irmãos Dardenne, Michael Haneke e o próprio Ruben Östlund com os dois prêmios máximos em Cannes. 

FALLEN LEAVES”, DE Aki Kaurismaki

Aki Kaurismaki. Difícil o nome, mas, o diretor finlandês é figura para lá de conhecida em Cannes. Pela quinta vez, está na disputa da Palma de Ouro. Em 2011, o cineasta conseguiu ir longe ao vencer o prêmio da crítica internacional com “O Porto”. 

Desta vez, o Kaurismaki lança “Fallen Leaves”, uma tragicomédia sobre dois solitários que se encontram por acaso à noite em Helsinque e tentam encontrar seu primeiro, único e último amor. O filme está sendo vendido como um encontro do cinema de Charlie Chaplin, Robert Bresson e do Yasujirō Ozu. Bem modesto, não. 

Em meio a tantos filmes pesados e densos, pode ser um alívio bem-vindo nesta lista para a Palma de Ouro. 

“Anatomy of a Fall”, de JUSTINE TRIET

Como não poderia deixar de ser, Cannes sempre dá espaço para as produções francesas e, desta vez, o foco será em suspenses comandados por cineastas mulheres. 

“Anatomy of a Fall” é o novo longa da Justine Triet, a qual já concorreu ao prêmio máximo em 2019 com o esquecível “Sibyl”. Aqui, uma escritora é suspeita do assassinato de seu marido, encontrado morto próximo ao chalé onde vive. O filho cego do casal enfrenta um dilema moral como única testemunha. 

A protagonista é a Sandra Hüller, conhecida mundialmente após “As Faces de Toni Erdmann” e “O Homem Ideal”. A atriz alemã, diga-se, tem tudo para levar o prêmio de Melhor Atriz, afinal, além de “Anatomy of a Fall”, ela estrela “The Zone of Interest”. 

“LAST SUMMER”, DE Catherine Breillat

Já a Catherine Breillat concorre à Palma de Ouro com “Last Summer”. O filme é um remake do dinamarquês “Rainha de Copas”, de 2019, produção premiada no Festival de Sundance. 

A história segue Anne, uma brilhante advogada especializada em defender menores. Ela vê sua vida virada de cabeça para baixo quando começa um caso com seu enteado de 17 anos.

A Léa Ducker é a grande estrela de “Last Summer”. 

“A BRIGHTER TOMORROW”, DE NANNI MORETTI

Festival de Cannes que é Festival de Cannes tem que ter Nanni Moretti. O diretor, roteirista e ator italiano disputa à Palma de Ouro pela nona vez. Ele já ganhou o prêmio com “O Quarto do Filho”. 

Em 2023, Moretti lança “A Brighter Tomorrow”, comédia em que um diretor de cinema enfrenta uma crise no relacionamento com a família e também no mais recente filme sobre o impacto no Partido Comunista Italiano da invasão da URSS na Hungria em 1956. 

Para quem imaginava que um filme precisa totalmente inédito a Cannes, não é bem assim: “A Brighter Tomorrow”, por exemplo, estreou no último fim de semana na Itália e se saiu de forma surpreendente ao arrecadar mais de 3 milhões de euros, ficando atrás de “Super Mario Bros” nas bilheterias.

“FOUR DAUGHTERS”, DE Kaouther Ben Hania

Se o Nani Moretti está batendo recorde de participação na Palma de Ouro, a tunisiana Kaouther Ben Hania concorre pela primeira vez. Em “Four Daughters”, ela fez uma verdadeira façanha ao acompanhar 10 anos da vida de uma mãe de quatro garotas. Duas das filhas fogem para se juntar a uma organização terrorista, mas, acabam presas. 

A diretora, então, convida atrizes profissionais para, de alguma forma, contar a história delas, criando um dispositivo narrativo que mistura história real com ficção. “Four Daughters” aborda temas como culpa, negação e medo. Pela proposta, pode até não vencer a Palma de Ouro, mas, se for bem-recebido pode sim sonhar com um prêmio ou uma menção honrosa. 

Já que eu falo bastante de Oscar aqui no canal e no site, a diretora Kaouther Ben Hania disputou a premiação da Academia em 2021 com “O Homem que Vendeu Sua Pele”. 

“ABOUT DRY GLASSES”, DE Nuri Bilge Ceylan

Se vai ganhar a Palma de Ouro, eu não sei, mas, com certeza, o título de filme mais longo de Cannes 2023 vai ficar com “About Dry Glasses”.

O drama é a nova produção do diretor turco Nuri Bilge Ceylan, especialista em obras com mais de três horas de duração. 

Foi assim, por exemplo, que ele ganhou a Palma de Ouro com “Sono de Inverno” em 2014. “Era uma vez na Anatólia” e “A Árvore dos Frutos Selvagens” são outros filmes do diretor. 

“About Dry Glasses” mostra um jovem professor que espera ser nomeado para Istambul após cumprir o dever obrigatório em uma pequena aldeia na Anatólia. Depois de muito tempo esperando, ele perde toda a esperança de sair do local após ser acusado de assédio. O encontro com uma colega, entretanto, muda o rumo da vida dele. 

“ASTEROID CITY”, DE WES ANDERSON

“Asteroid City” é a terceira tentativa do Wes Anderson em levar a Palma de Ouro; o diretor já concorreu com “Moonrise Kingdom” e “A Crônica Francesa”.

Desta vez, a trama é ambientada nos anos 1950 em uma cidade fictícia do deserto dos EUA. Durante uma convenção para unir alunos e pais em uma competição acadêmica, o caos se instala à medida que ocorrem eventos capazes de mudar o mundo.  

O elenco é só tem estrelas: Tom Hanks, Margot Robbie, Scarlett Johansson, Tilda Swinton, Bryan Cranston, Edward Norton, Adrien Brody e Steve Carell.

E se você está sentindo do Bill Murray não é porque eu o esqueci: o ator teve Covid-19 semanas antes de iniciar as gravações e acabou ficando de fora de “Asteroid City”.