Atenção: O texto possui spoilers
Em uma rápida definição, podemos dizer que super-heróis são personagens fictícios dotados de poderes mágicos com o objetivo de ajudar a sociedade ou os desprotegidos. Apesar de existirem outros exemplos que fogem desse conceito no cinema e televisão, a série ‘The Boys’ o deixa totalmente de lado em busca de uma humanização dos personagens.
Mesmo adotando clichês consecutivos no roteiro, o seriado consegue utilizar a proposta sobre heróis politicamente incorretos para criar uma produção original e revigorante aos espectadores presos à Marvel, nos cinemas, e à DC, nos seriados.
Essa originalidade não surgiu ao acaso: ‘The Boys’ é uma adaptação de uma HQ homônima. Os quadrinhos, inclusive, exageram bem mais na violência que a série televisiva. A regulação entre cenas chocantes e momentos para o público se envolver na história é o grande trunfo do seriado.
The Boys é grupo iniciado pelos protagonistas Butcher (Karl Urban) e Hughie (Jack Quaid). Os dois se unem em uma tentativa de desmascarar e deter os super-heróis do grupo Os Sete, cujas ações irresponsáveis causaram mortes de entes queridos de Butcher e Hughie.
Apesar da violência explícita ser o grande destaque da produção, ‘The Boys’ apresenta um bom desenvolvimento dos heróis, que são deixados em uma posição próxima ao público, com erros e desejos humanos. Para além disso, a série apresenta heróis atuais, tanto por suas tramas políticas e sociais, quanto pela importância da opinião pública para a aceitação de seu trabalho.
O líder d’Os Sete, Homelander (Antony Starr), é responsável por participar ativamente das ações de divulgação do grupo e protagonista das escolhas mais inescrupulosas. Seus atos se justificam em relação à construção como herói e pessoa e, assim, é o personagem mais complexo da trama. Além dele, Butcher e Hughie também são destaques positivos do roteiro, ajudando a equilibrar a opinião sobre os dois grupos inimigos.
Poderia ser melhor
Apesar de desenvolver vários aspectos da vida dos protagonistas, a série negligencia muito outros personagens, seja pela ausência destes na maior parte da trama ou por uma construção de personagem ruim mesmo. Deep (Chace Crawford), por exemplo, aparece pela primeira vez como assediador de Starlight (Erin Moriarty), apesar de servir como alívio cômico pela maior parte da série.
A cena, inclusive, ilustra o quanto as personagens femininas são negligenciadas na obra: além de serem minoria na série, também apresentam um nível baixíssimo de complexidade se comparadas aos protagonistas Homelander e Butcher.
A aceitação de ‘The Boys’ pelo público é a plena demonstração que a série conseguiu atingir seu objetivo: mostrar uma nova e realista visão sobre super-heróis. Sim, ainda existem elementos para serem melhorados e, felizmente, uma segunda temporada já anunciada deve lidar com esses problemas. Espero eu.
No mais, ‘The Boys’ é, definitivamente, um destaque positivo de 2019. Afinal, o que poderia dar errado em uma produção com referências a Spice Girls e Breaking Bad?