Uma das categorias que sempre monopoliza as atenções dos cinéfilos durante a temporada de prêmios é a de Melhor Atriz. Seja quando temos uma torcida certa – Fernanda Montenegro! – ou quando a escolhida do ano é questionável, não dá para ficar inerte em relação às cinco escolhidas da Academia todos os anos.

Em 2019, parece que o Oscar vai corrigir um erro de mais de três décadas e finalmente reconhecer Glenn Close, que é, até o momento, a pessoa viva com mais derrotas nas categorias de atuação (isto é, se você não contar Meryl Streep, que venceu ‘apenas’ três vezes e aplaudiu, sorridente, em outras dezenas de ocasiões). Não seria a primeira vez que a Ampas premiaria alguém que sempre foi preterido – vejam Roger Deakins, finalmente lembrado no ano passado.

Pensando nisso, o Cine Set resolveu vasculhar na história do Oscar performances e narrativas que podem animar Glenn e suas quatro colegas de categoria na busca da estatueta dourada.

Glenn Close, por “A Esposa”

Começando com a favorita (desculpa, Olivia Colman). Caso vença, Glenn seguirá uma trajetória semelhante à de outra estrela que finalmente foi premiada com um empurrãozinho da Sony Pictures Classics: Julianne Moore, que ganhou em 2015 após cinco derrotas (algumas bem questionáveis, como a para Kim Basinger em ‘Los Angeles – Cidade Proibida’). Assim como Glenn e “A Esposa”, Moore foi laureada por um filme que tem em sua atuação o foco principal e que precisa dela para ser algo além de mediano, “Para Sempre Alice”. Outra vitória na história do Oscar para animar Glenn é a de Geraldine Page, que venceu em sua oitava tentativa, lá em 1985, derrotando a então novata Whoopi Goldberg e seu “A Cor Púrpura”.

O papel “esposa”, inclusive, é um favorito do Oscar, sobretudo na categoria de coadjuvante. Mas há também triunfos em Melhor Atriz, como Reese Witherspoon (‘Johnny e June’), Katharine Hepburn (‘Adivinhe Quem Vem Para Jantar?’) e Elizabeth Taylor (‘Quem Tem Medo de Virginia Woolf?).

Aos 70 anos, Close pode fazer história e se tornar uma das vencedoras mais velhas da categoria, atrás apenas da já citada Hepburn, que tinha 74 anos quando triunfou por “Num Lago Dourado”, e Jessica Tandy, que recebeu o carequinha dourado aos 80 anos por “Conduzindo Miss Daisy”.

Lady Gaga, por “Nasce uma Estrela”

Para início de conversa, as versões anteriores de “Nasce Uma Estrela” têm históricos interessantes com o Oscar. As duas primeiras protagonistas (Janet Gaynor e Judy Garland) foram finalistas das suas respectivas categorias de Melhor Atriz, e a derrota de Garland é uma das mais revoltantes da história do prêmio; já a terceira e menos interessante das versões rendeu o segundo Oscar de Barbra Streisand, com a canção “Evergreen”.

Gaga tem tudo para repetir o feito de Streisand com a infinitamente superior “Shallow”. Independente do que aconteça na categoria de Atriz, no entanto, ela está em ótima companhia: Diana Ross, Bette Midler e a própria Streisand, além de outros exemplos na categoria de Coadjuvante, como Jennifer Hudson, Mary J. Blige e Queen Latifah. Entre os homens, ela tem a companhia de nomes como Mark Wahlberg, indicado anos depois de ser ídolo teen, e Frank Sinatra, cuja estatueta lhe rendeu uma sobrevida na indústria.

A comparação à qual Gaga provavelmente tem se agarrado (seu discurso no Globo de Ouro de 2016 não lhe deixa mentir) é a de Cher, vencedora em 1988 por “Feitiço da Lua”, em cima de… Glenn Close. No entanto, a dona do hit “Believe” não chegou ao Oscar já como ganhadora. Essa foi sua segunda indicação (a primeira foi como Coadjuvante por ‘Silkwood’) e, anos antes, ela chegou a ser esnobada na manhã de indicações mesmo tendo um desempenho elogiado em “Marcas do Destino”, onde, inclusive, divide a cena com Sam Elliott, que está em “Nasce Uma Estrela”.

O papel de Gaga é outro trope amado pelo Oscar. Além dela, Jessica Lange, Marion Cotillard, Michelle Pfeiffer, Angela Bassett, Liza Minnelli e as já citadas Witherspoon, Ross e Midler foram indicadas/venceram ao interpretarem cantoras ficcionais ou da vida real. Witherspoon e Grace Kelly – que venceu o questionado Oscar que seria de Judy Garland – foram premiadas por papéis de mulheres que convivem com homens viciados em drogas/álcool, tal qual a Aly Maine de Gaga.

Olivia Colman, por “A Favorita”

As britânicas são amadas pelo Oscar, isso é fato. As décadas de 1960 e 1970, em especial, foram ricas nesse sentido, com as primeiras indicações e vitórias de nomes como Maggie Smith, Julie Andrews, Vanessa Redgrave e Glenda Jackson. Nos anos 1990, uma atriz à qual Colman tem recebido muitas comparações virou queridinha da Academia e abocanhou cinco indicações e dois prêmios, sendo um de roteiro. Falo, claro, de Emma Thompson.

Depois, Judi Dench, Kate Winslet, Helena Bonham Carter, Sally Hawkins, Carey Mulligan e Helen Mirren fizeram continuar o amor da Academia pela escola britânica. Isso porque nem falei das representantes anteriores do Reino Unido, como Elizabeth Taylor, Vivien Leigh e Deborah Kerr.

Colman tem a seu favor algo importante: o papel que interpreta. Se tem algo que o Oscar ama mais que as atrizes do Reino Unido, é a realeza. Das várias interpretações da Rainha Elizabeth I ao trabalho corajoso de Helen Mirren como a atual soberana britânica, há ainda menções à Rainha Mary da Escócia, à imperatriz russa Alexandra Romanov, e até princesas fictícias, como a adorável Ann que Audrey Hepburn imortalizou em “A Princesa e o Plebeu”.

Melissa McCarthy, por “Poderia Me Perdoar?”

O papel de McCarthy checa vários itens amados pela Academia. Escritora? Check. Personagem Real? Check. “Desglamourização” da atriz? Check. Papel que quebra paradigmas na carreira de sua intérprete? Check.

Vamos ao primeiro item. Artistas em geral, tipos criativos, têm um lugarzinho especial na história do Oscar. Pensemos na Virginia Woolf de Nicole Kidman em “As Horas” ou na Ada de Holly Hunter em “O Piano”. Aquelas que, a exemplo da Lee Israel de McCarthy, não têm o caminho artístico que desejariam também são lembradas na história da Academia: veja Meryl Streep e a cantora de ópera sem talento de “Florence Foster Jenkins”.

Personagens reais também são irresistíveis à Academia. Há anos, inclusive, que o número de atores interpretando personagens que realmente existiram supera o de personagens fictícios entre os indicados. E a conta da vitória também é positiva para a turma das pessoas “reais”: Julia Roberts, Helen Mirren, Barbra Streisand, Meryl Streep, Sandra Bullock, apenas para citar algumas.

Falando em Bullock, ela é um ótimo espelho para McCarthy. Assim como ocorre com a indicada por “Poderia Me Perdoar?”, a eterna Miss Simpatia não começou a carreira sendo levada a sério com papéis dramáticos. “Um Sonho Possível” representou para a Academia a chance de premiar uma estrela que sempre foi muito querida e que já fez a indústria lucrar muito. Parece a história de McCarthy. Ah, e se alguém acha que ter ficado famosa em “Gilmore Girls” é empecilho para chegar ao Oscar, as quatro indicações de Michelle Williams – a eterna Jen Lindley de “Dawson’s Creek” – dão um oi (e quando vai chegar o prêmio dela, hein?).

Um track record que merece ser mencionado é o de atrizes vencedoras por filmes dirigidos por mulheres. Caso vença, McCarthy se juntaria a Hunter, Streep, Marlee Matlin, Hilary Swank e Charlize Theron.

Yalitza Aparício, por “Roma”

Das cinco indicadas, Aparício provavelmente tem o caminho mais difícil para uma possível vitória. Pesa contra ela o fato de que nenhuma latina ganhou a estatueta de Melhor Atriz até hoje, mas não é como se ela estivesse em má companhia: Fernanda Montenegro (‘Central do Brasil’), Salma Hayek (‘Frida’) e Catalina Sandino Moreno (‘Maria Cheia de Graça’) são as outras latinas já indicadas nessa categoria e pelo menos uma delas (vocês sabem quem) deveria ter vencido no seu respectivo ano.

Outra estatística na qual Aparício está muito bem acompanhada é a das atrizes indicadas por suas performances de estreia: essa é uma lista da qual fazem parte a prodígio Quvenzhané Wallis (‘Indomável Sonhadora’) e a então futura estrela Whoopi Goldberg (‘A Cor Púrpura’). Na turma das vencedoras, temos Barbra Streisand (‘Funny Girl’), a supracitada Matlin e Julie Andrews (‘Mary Poppins’).

Aparício é, ainda, a segunda mulher finalista em Melhor Atriz por um filme de Alfonso Cuarón, depois de Sandra Bullock (‘Gravidade’), em 2014.

Primeira indígena indicada nesta categoria, ela seria apenas a segunda mulher não branca a vencer o Oscar de Melhor Atriz: a primeira foi Halle Berry por “A Última Ceia”, no já distante 2002. Quando o assunto é performances em língua estrangeira, ela seria a terceira vencedora, atrás de Marion Cotillard por “Piaf – Um Hino ao Amor” e Sophia Loren por “Duas Mulheres”. Nesse caso, seria a primeira vitória de uma atriz falando em espanhol (e mixteco!). Já tá mais do que na hora, vocês não acham?

Confira outros textos sobre o Oscar no Cine Set:

Oscar 2018: as mulheres que fizeram história na premiação

Oscar: TOP 5 Ganhadoras de Melhor Atriz de 2000 a 2017