De “Homem-Aranha: Através do Aranhaverso” a “Killers of the Flower Moon”, Caio Pimenta fala dos destaques do primeiro semestre de 2023 mirando o Oscar 2024.

BLOCKBUSTERS EM BAIXA

Se “Top Gun: Maverick” e “Batman” saíram do primeiro semestre de 2022 sonhando com o Oscar, os blockbusters deste ano parecem bem longe disso. 

Três das quatro adaptações de HQs floparam: “Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania” e “Shazam 2” chegaram aos cinemas e ninguém notou. Já “Flash” só colecionou críticas do CGI ao roteiro bagunçado.

Guardiões da Galáxia 3” foi disparado o melhor da turma, mas, para Oscar, as maiores chances são em Design de Produção e, claro, Efeitos Visuais. 

“Elementos” provou a má fase da Pixar; a animação nem é das piores do estúdio, porém, não decola muito pela pressa com que a história acaba sendo apresentada.

Corre o risco de ser esquecida se a temporada na categoria for forte.

Pela total falta de expectativa, “Super Mario Bros” se destacou a ponto de ser a maior bilheteria até agora de 2023. Vejo maior chance da adaptação do game da Nintendo em aparecer no Oscar do que a obra da Disney. 

A Pequena Sereia” chegou tão mal das pernas que acabou sendo recebido até positivamente.

Mirando o Oscar, vejo chances para o Lin-Manuel Miranda em Canção Original. Já Efeitos Visuais seria um absurdo completo.

Nem toda a nostalgia e o charme de Harrison Ford serão capazes de levar “Indiana Jones e a Relíquia do Destino” muito além na Academia. 

Dos grandes lançamentos do primeiro semestre de 2023, vejo com boas chances de surpreender, enquanto o outro deve ser o injustiçado. 

Homem-Aranha: Através do Aranhaverso” conseguiu superar o original, vencedor de Melhor Animação em 2019, com uma história ainda mais veloz, explorando de forma brilhante as possibilidades narrativas oferecidas pelo multiverso.

Desponta tranquilamente como favorito na categoria e ainda pode beliscar uma vaga em Melhor Filme, Montagem e, talvez, Roteiro Adaptado. 

Já “John Wick 4: Baba Yaga” promoveu uma apoteose do cinema de ação, como bem colocou Ivanildo Pereira na crítica ao Cine Set.

Um espetáculo com uma sequência de luta superando a outra em escala, intensidade e beleza estética.

Infelizmente, deve seguir o mesmo destino da franquia no Oscar e ser esnobada. 

AFFLECK E ANDERSON NO MEIO DO CAMINHO

Fora dos blockbusters e ainda no circuito comercial, diretores fortes do cinema norte-americano ficaram no meio do caminho.

O Ben Affleck que o diga: “Air – A História por Trás do Logo” reúne todos os ingredientes para o Oscar – grande elenco, muito estilo, excelência técnica e uma história que celebra um grande feito dos EUA, no caso, um comercial. A produção, entretanto, não vingou nem entre a crítica e o público.

Terá que ser uma temporada muito ruim para aparecer entre os indicados. 

Se “Beau tem Medo” está mais para o Framboesa de Ouro após tanta pancada que levou, “Asteroid City” mostra um Wes Anderson ainda encantando o público, porém, sem a mesma força de antes. S

urpreenderá ir para além das categorias técnicas esperadas. 

CIRCUITO DE FESTIVAIS

Já indo para o circuito dos festivais, Sundance apresentou produções potenciais para tentarem repetir feitos alcançados por filmes como “Whiplash” e “Living”. De longe, quem surge mais forte é “Past Lives”. 

O romance entre dois amigos que se reencontram em Nova York após mais de duas décadas pode não ter vencido nada, mas, saiu cercado de elogios tanto em Sundance quanto em Berlim, onde foi selecionado.

A imprensa norte-americana aponta paralelos com “Minari”, um drama pequeno e singelo com personagens de origem asiática. Não será surpresa a A24 trabalhar “Past Lives” em Melhor Filme, Direção com a Celine Song, atuações e roteiro original. 

“A Thousand and One” saiu grande de Sundance ao vencer o Grande Prêmio do Júri, mesmo prêmio obtido anteriormente por “Whiplash”, “Minari” e “Coda”.

A Focus Features, porém, lançou o drama já em março nos EUA e Reino Unido com bilheteria somada de irrisórios US$ 1,7 milhão.

Dependerá demais de uma nova campanha para ser lembrado no Oscar. 

Vale ainda destacar “Eileen”, suspense psicológico que recebeu boas críticas e pode levar a Anne Hathaway de volta ao Oscar.

Ainda há ”Flora and Son”, do John Carney e adquirido por milhões pela Apple, “A Little Prayer” com uma elogiada atuação do David Strathairn e “Cassandro” com o Gael García Bernal. 

Nos últimos anos, Cannes ganhou uma aura de apontar tendências para Melhor Filme Internacional.

O japonês “Monster” e o finlandês “Fallen Leaves” mostraram força caso o festival francês confirme esta imagem. Acima de tudo, porém, duas produções se destacaram e podem desta categoria. 

“The Zone of Interest” cumpriu todas as expectativas e foi sucesso praticamente absoluto.

Se há dúvidas sobre qual país o drama do Jonathan Glazer na região de Auschwitz poderia representar – Alemanha, Polônia, Reino Unido -, por outro lado, parece certo vê-lo para além de Filme Internacional.

Possibilidades são altas em Filme, Direção, atuações e roteiro adaptado. 

Já “Anatomy of a Fall” chega credenciado pela Palma de Ouro, prêmio conquistado recentemente por “Parasita” e “Triângulo da Tristeza”, ambos indicados a Melhor Filme.

O suspense francês comandado pelo Justine Triet está quase certo em Filme Internacional e está cotado para chegar à categoria máxima, direção, roteiro original e, principalmente, atriz com a Sandra Huller. 

Adquirido pela Netflix, “May December” foi bem recebido, porém, vejo maiores chances mesmo para a dupla de protagonistas, Julianne Moore e Natalie Portman, em surgirem na corrida do que nas demais categorias.

Por outro lado, Cannes marcou o lançamento do maior candidato que surgiu ao Oscar 2024 neste primeiro semestre. 

“Killers of the Flower Moon” chegou mostrando as credenciais de quem promete entregar tudo na temporada de premiações. Já dá para cravá-lo em Melhor Filme, Direção com o Martin Scorsese e Roteiro Adaptado.

Leonardo DiCaprio em Melhor Ator e a Lily Gladstone em Atriz Coadjuvante também estão quase lá.

As categorias técnicas também devem gerar muitas indicações ao longa da Apple, entre elas, fotografia, montagem e figurino.  

A tendência é que “Killers of the Flower Moon” chegue como um dos líderes de indicação ao Oscar 2024.

O mistério é o desempenho na festa: novamente, o Scorsese está com uma obra superior a três horas de duração, o que afetou as chances de “O Irlandês” em 2020.

Será que a Academia e o público estarão dispostos a rever os conceitos ou a pressa será, mais uma vez, inimiga do mestre? 

A conferir.