Confira quais foram as principais surpresas e esnobados das indicações ao Oscar 2023 reveladas na manhã desta terça-feira (24) pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, em Los Angeles.

SURPRESAS 

Em Melhor Documentário, “A House Made of Splinters” obteve a nomeação na reta final. O tema do filme, entretanto, dificilmente passaria batido pela Academia. 

Afinal, o longa dirigido pelo Simon Lereng Wilmon acompanha a vida em um orfanato na Ucrânia em meio às tensões da guerra. A nomeação pode ser encarada como uma forma do Oscar acenar apoio ao país no combate contra a Rússia. 

E não duvide se o Zelensky aparecer na cerimônia; ele já esteve no Globo de Ouro.

“A Fera do Mar” mostrou como a Netflix está poderosa em Melhor Animação. Superou o japonês “Inu-Oh” e “Wendell and Will” para ficar a última vaga da categoria.

 

Apesar de eu ter previsto aqui no Cine Set, não dá para deixar de citar a nomeação de “Sra. Harris Vai Paris” em Melhor Figurino como surpresa. Sempre bom ver produções pouco faladas na temporada obtendo uma indicação. Ajuda mais gente a conhecer. 

“Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” demonstrou que é o candidato a ser batido neste Oscar com a indicação de “This is a Life”, do David Byrne, em Melhor Canção Original. De todas as categorias em que o filme dos Daniels estava na corrida, esta era uma com as menores expectativas, mas, ainda assim, conseguiu a vaga. 

Já o Brian Tyree Henry foi uma boa surpresa em Melhor Ator Coadjuvante com “A Passagem”. O drama da Apple realmente não empolgou nesta temporada, mas, trazia como carro-chefe as atuações dele e da Jennifer Lawrence. Fora que ele já vinha rondando esta nomeação há algum tempo. Merecido. 

O Paul Mescal não chega a ser uma enorme surpresa, mas, pelo risco que corria de ficar de fora, foi um alívio vê-lo entre os indicados. Merecido. A Ana de Armas também merece estar aqui, pois, “Blonde” é uma senhora bomba, quase um desrespeito à Marilyn Monroe, porém, a atuação dela realmente dá um pouco de dignidade à produção. Palmas também para a campanha perfeita da Netflix.  

“O Triângulo da Tristeza” parecia morto neste Oscar; cheguei a falar que a única chance seria em Roteiro Original. A Neon, entretanto, consegue fazer mágica no Oscar e emplacou não apenas roteiro como Filme e Direção.  

Agora, vamos para um outro patamar de surpresas: são as indicações inacreditáveis. 

A primeira delas fica com “Top Gun: Maverick” em Roteiro Adaptado: tudo bem que a aventura do Tom Cruise seja empolgante, um dos melhores filmes de ação em tempos de Hollywood com o equilíbrio certo de nostalgia e seguir caminhos próprios. Agora, daí a ter o roteiro exaltado, já é um pouco demais. 

Mas, nada, absolutamente nada se compara ao que aconteceu com a Andrea Riseborough: há menos de 15 dias, ninguém falava dela, nem mesmo como azarão. Bastou Jane Fonda, Cate Blanchett e Kate Winslet puxarem elogio e tudo mudou: nomeada ao Oscar de Melhor Atriz por “To Leslie”. 

Prepare-se para ver campanhas iguais nas próximas temporadas: candidatos surgindo do nada, crescendo no boca-a-boca com o buzz das redes sociais para impulsionar. Se isso será algo bom, só o tempo dirá. 

ESNOBADOS 

Infelizmente, não deu para o Brasil: “Sideral” ficou fora de Curta-Metragem Live-Action de Ficção e “O Território” não está em Documentário. Os dois filmes merecem todos os aplausos pelas belas trajetórias, especialmente, o filme potiguar. Lamento mais pelo doc do Alex Pritz que vinha fazendo uma temporada excelente, mas, perdeu a força na reta final. Uma pena. 

“Pinóquio” irá levar Melhor Animação, mas, sai das indicações com um gosto amargo ao ser esnobado em Trilha Sonora com o Alexandre Desplat, mas, principalmente, em Canção Original com “Ciao Papa”. Se foi surpresa em Roteiro Adaptado, “Top Gun” levou uma baita esnobada em Direção de Fotografia, categoria que se imaginava favoritismo do Claudio Miranda. Lembrado no sindicato, foi esnobado aqui. 

Teve esnobada para todos os lados entre as produções de língua não-inglesa. Lidera a lista, claro, “Decisão de Partir”: para quem sonhava com nomeações em Filme, Direção para o Park Chan-Wook e Roteiro Original, ser esquecido até em Filme Internacional é um término decepcionante nesta temporada de premiações. 

“Ela Disse” e “Até os Ossos” tinham esperanças de aparecerem em Roteiro Adaptado, mas, foram esnobados. Triste demais para a importante produção com a Carey Mulligan e o excelente terror do Luca Guadagnino. A Charlotte Wells também não merecia ficar de fora de Roteiro Original com “Aftersun”.  

O mesmo, entretanto, não posso dizer do Eddie Redmayne: graças a Deus, a Academia não caiu no golpe de “O Enfermeiro da Noite”. Em Ator Coadjuvante, lamento mesmo pelo Paul Dano, por “Os Fabelmans”. 

Aliás, impressionante como o Oscar cada vez mais fica em dívida com o Dano: já não o havia indicado para a categoria em “Sangue Negro” e, agora, repete a dose pelo drama do Spielberg. O Adam Sandler é outro que a Academia não vai com a cara, novamente, esquecido por “Arremessando Alto”. 

Em Melhor Atriz, várias esnobadas: Margot Robbie em “Babilônia”, Olivia Colman por “Império da Luz”, a maravilhosa Emma Thompson em “Boa Sorte, Leo Grande”, mas, principalmente, Danielle Deadwyeler:  a estrela de “Till” esteve indicada no SAG, Bafta e Critics Choice, interpretou uma personagem histórica para a causa negra, era elogiada pela crítica e, mesmo assim, acabou de fora.  

Em Melhor Direção, não deu para os representantes dos blockbusters, James Cameron e Joseph Kosinski. Baz Luhrmann segue sendo divisivo para os votantes da Academia, enquanto Edward Berger foi esnobado mesmo com a força de “Nada de Novo no Front” nesta reta final da temporada. 

Por fim, duas esnobadas simbólicas de uma temporada em que o Oscar retrocedeu no quesito diversidade. 

Apesar das cinco nomeações e do favoritismo de Angela Bassett em Atriz Coadjuvante, ficou um sabor amargo para “Wakanda Forever” de que poderia ter ficado com uma das últimas vagas em Melhor Filme. Pior mesmo, entretanto, está com “A Mulher Rei”: a superprodução protagonizada por mulheres pretas não teve nenhuma nomeação. Viola Davis foi esnobada em Melhor Atriz assim como o filme passou longe em Figurino e Design de Produção. 

Vale observar que nenhuma mulher foi nomeada em Direção, só há dois atores negros – Bassett e Brian Tyree Henry – indicados e somente uma mulher em Roteiro. Não fosse “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” trazendo a representatividade asiática, seria um #OscarSoWhite total.