Gravado em Manaus e Presidente Figueiredo na tão distante época pré-Covid, “Seiva Bruta” mostra o drama de venezuelanos cruzando a fronteira para tentar uma nova vida no Brasil. O projeto dirigido por Gustavo Milan até consegue prender o espectador na trama, porém, deixa a clara sensação de que seria mais eficiente se fosse um longa e não um curta-metragem.
A história acompanha a jornada de uma mulher venezuelana (Samantha Castillo) sozinha pela BR-174 (Manaus-Boa Vista). Ao subir em um caminho rumo à capital amazonense, ela encontra um casal (Abilio Torres e Brenda Moreno) com um filho recém-nascido. Como acabou de ser mãe, mas, precisou deixar o bebê na Venezuela, a protagonista começa a alimentar a criança. A situação ganha contornos inesperados quando eles chegam em uma vila no meio da estrada.
De longe, o grande destaque de “Seiva Bruta” reside em Samantha Castillo. A atriz venezuelana, que já tinha tido um trabalho excelente no ótimo “Pelo Malo”, carrega o curta dirigido por Milan ao representar as dificuldades de chegar a um novo país de outro idioma, deixando para trás um laço familiar que o próprio corpo impede de esquecer. Desta forma, criamos um elo natural nesta jornada que se mostra inóspita desde o princípio em que as portas estão sempre fechadas e o perigo sempre soa constante. Ainda que não tenha o mesmo espaço da colega, Brenda Moreno também arranca um desempenho comovente na cena final. A trilha sonora melancólica de Ariel Marx também merece crédito retratando bem a jornada repleta de angústia dos venezuelanos.
Com apenas 17 minutos, quatro personagens com destaques, um trajeto longo tanto física quanto psicologicamente para os protagonistas e um tema complexo, o curta se ressente da falta de tempo para desenvolver melhor sua trama. A virada fundamental para a reta final de “Seiva Bruta”, por exemplo, surge de forma tão abrupta por não ter tido nenhum outro momento em que se insinuou tal atitude de determinado personagem. Por mais compreensível que seja, o conceito de que o desespero e o desamparo social destroem quaisquer laços humanos acaba comprometido por esta falta de tempo para desenvolver melhor estas relações.
Por conta disso, “Seiva Bruta” se ressente de um tempo maior para dar a dimensão exata daquela trajetória dos personagens e até mesmo do contexto social da imigração venezuelana para o Brasil. A proposta de um longa retratar este drama cada vez mais intenso e dramático em Manaus poderia ser um caminho a ser percorrido pelo diretor Gustavo Milan.