Caio Pimenta analisa os favoritismos de Robert Downey Jr e Da´Vine Joy Randolph nas disputas de Ator e Atriz Coadjuvante no Oscar 2024.

Vitórias no Globo de Ouro e Critics Choice, indicados ao SAG e ao Bafta. 

Parece que não há adversários para Robert Downey Jr e Da´Vine Joy Randolph nas categorias de coadjuvantes do Oscar 2024. Mas, será isso mesmo? 

FAVORITA: DA VINE JOY RANDOLPH

Começando com atriz coadjuvante, antes de mais nada, vamos analisar quais fatores contribuem para a Da´Vine Joy Randolph estar tão na dianteira assim. 

Ela está no papel certo na hora certa. “Os Rejeitados” é aquele típico filme moldado para consagrar seus atores e ela brilha interpretando a gestora da cantina do colégio de ricos enlutada pela morte do filho na Guerra do Vietnã.  

O curioso é que ela traz toda a dor da personagem de forma bem contida; nem mesmo o momento em que poderia explodir, gritar para gerar aquele ‘momento Oscar’ acontece. Isso se mostra um acerto gigantesco do roteiro por mostrar como o sofrimento dela não cabe ou não tem espaço no meio dos brancos ricos os quais ela diariamente atende. 

A Da´Vine se encaixaria ainda em um padrão do que a Academia gostar de premiar em Melhor Atriz Coadjuvante. 

Com uma carreira relativamente nova no cinema com apenas “Meu Nome é Dolemite” como maior destaque até então, a atriz seria mais um novo nome para a Academia apontar como promissor a vencer a categoria. Dos anos 1980 para cá, dá para colocar a Jessica Lange, Geena Davis, Marisa Tomei, Mira Sorvino, Angelina Jolie, Jennifer Hudson, Lupita Nyong’o, Alicia Vikander e Ariana DeBose neste grupo. 

CORRENDO POR FORA: EMILY BLUNT E DANIELLE BROOKS

Das candidatas disponíveis nesta missão ingrata e quase fadada ao fracasso de superar a Da´Vine somente duas possuem chances. Mínimas, diga-se. 

A Emily Blunt está no páreo: cotada desde o início da temporada, a britânica chega ao Oscar querendo repetir o feito da Jamie Lee Curtis: vitória na primeira indicação. Prestígio não falta a ela na indústria por sempre ter conseguido aliar sucessos comerciais com produções que chegaram à temporada de premiações: “O Diabo Veste Prada”, “Caminhos da Floresta”, “Sicario” e “O Retorno de Mary Poppins”. 

Oppenheimer” é o auge disso e a possibilidade de um domínio absoluto do épico do Christopher Nolan permite a ela sonhar, mesmo que vagamente, com a chance de uma vitória. 

A Danielle Brooks também é outra possibilidade distante. Ela foi a sobrevivente da campanha desastrosa de “A Cor Púrpura” rumo ao Oscar. De candidata ao prêmio e carro-chefe da Warner na temporada, o musical foi ultrapassado sem piedade por “Barbie” e teve apenas espaço mesmo em Atriz Coadjuvante. Dona de um vozeirão impressionante e em uma atuação que rouba a cena, ela pode um sprint final. 

Se ela conseguir este feito impressionante, a Brooks repete a Angelina Jolie: em 2000, a musa ganhou o Oscar pela única indicação de “Garota, Interrompida”. Ainda assim, me parece improvável demais que o raio caia duas vezes no mesmo lugar. 

Já a America Ferrera traz a indicação como uma grande vitória visto que corria forte risco de ser esnobada. A Jodie Foster pode até fazer uma dupla simpática com a Annette Bening e retornar quase três décadas depois ao Oscar, mas, não irá muito longe. 

FAVORITO: ROBERT DOWNEY JR.

Hora de falar de Ator Coadjuvante, categoria até aqui totalmente dominada pelo Robert Downey Jr. 

O eterno Homem de Ferro disparou em uma categoria que, teoricamente, poderia ser muito embolada. Claro que conta aqui a possibilidade real de “Oppenheimer” conseguir sua única vitória nas atuações, logo, o prêmio de coadjuvante simbolizaria uma conquista de todo o grande elenco. 

Downey Jr, líder da série cinematográfica mais popular dos últimos anos que rendeu bilhões à indústria, possui um prestígio enorme. Apesar de anos no modo automático alternando entre Tony Stark e Sherlock Holmes, ele manteve a memória de um bom ator da época de Chaplin, fora o carisma e charme imensos que ecoam grandes estrelas de antigamente de Hollywood. 

Este combo completo somada a uma verdadeira grande atuação em um personagem que exala inveja, no melhor estilo Antonio Salieri de “Amadeus”, tornam a vitória do Downey Jr simplesmente irresistível.  

Esta força toda sendo demonstrada a cada evento, aliás, ajuda a enfraquecer aqueles que prometiam uma disputa mais pesada. 

CORRENDO POR FORA: RYAN GOSLING, ROBERT DE NIRO E MARK RUFFALO

É o caso do Ryan Gosling: quando “Barbie” foi lançado e o astro chamou tanta atenção quanto Margot Robbie, imaginava-se que ele poderia brigar pela estatueta. Transformando o limão em uma limonada ao saber rir de um personagem caricato em sua essência, o ator deixa o seu lado cômico aflorar e ainda solta o lado dançarino e cantor. Um trabalho completo. 

O problema para Gosling no momento é que “Barbie” levou pancadas pesadas nas indicações com as esnobadas em Direção e Atriz, dando sinais de queda neste momento da temporada. Além disso, há a rejeição de muitos setores da Academia contra o filme e a tendência de que atuações de comédia são menos prestigiadas que as dramáticas. 

Isso também afeta o Mark Ruffalo em “Pobres Criaturas”. Mesmo sendo bastante admirado pela indústria ao chegar à quarta indicação, o eterno Hulk da Marvel se esbanja na pilantragem e vigarice do personagem. Para o Oscar, porém, a força da Emma Stone é tamanha que pode acabar o eclipsando perante os votantes.  

O Mark Ruffalo ainda teria que superar um tabu: somente o Christoph Waltz, por “Django Livre”, conseguiu vencer Ator Coadjuvante no Oscar sem sequer ser indicado ao SAG. Para piorar, ele também não foi nomeado ao Bafta. Sinceramente, esta é uma combinação quase impossível de reverter. 

O Robert De Niro encara o mesmo problema do Ryan Gosling: as esnobadas do Leonardo DiCaprio e de Roteiro Adaptado sofridas por “Assassinos da Lua das Flores” mostram o viés de baixa do épico do Martin Scorsese. Para piorar, o astro não se mostra muito disposto a fazer campanhas cansativas nem de toda bajulação de Hollywood, algo muito claro no discurso no Gotham em que alegou censura por parte dos executivos do filme e da Apple. Apesar da atuação excelente, a melhor dos últimos anos, a tendência é que ele perca mais uma vez – a sétima derrota da carreira. 

Quanto ao Sterling K. Brown, considero que ele seja carta fora do baralho. De fato, ele é um ator querido na indústria, encontrando a grande oportunidade de brilhar no cinema após o sucesso em “This is Us” e “Ficção Americana” cresceu bastante nas últimas semanas. Ainda assim, sinto que é o típico caso em que ser lembrado já é uma conquista e deve ficar nisso. 

O QUE DEVE ACONTECER?

Traçando cenários para o Oscar, vejo Melhor Atriz Coadjuvante bem definido demais com o SAG e o Bafta indo para a Da´Vine Joy Randolph. A única possibilidade de mudança é se os britânicos quiserem prestigiar a conterrânea Emily Bunt, mas, este tipo de caso não tem sido comum nos últimos anos. 

Já entre os homens, o Downey Jr deve reinar com tranquilidade. O tradicionalismo do Bafta deve pesar aqui na disputa dele contra o Ryan Gosling. No máximo, uma possibilidade bem remota de prestigiar o Robert De Niro. Já no SAG, o Ken de “Barbie” até pode representar algum perigo visto que o astro está em sua quarta indicação solo. Ainda assim, a tendência é uma vitória da estrela de “Oppenheimer”. 

PREVISÕES

Bafta: Da´Vine Joy Randolph e Robert Downey Jr
SAG: Da´Vine Joy Randolph e Robert Downey Jr
Oscar: Da´Vine Joy Randolph e Robert Downey Jr