De Annette Bening a Margot Robbie, Caio Pimenta analisa as principais surpresas e esnobados das indicações ao Oscar 2024.

SURPRESAS

Foram indicações dentro do esperado. Pouca coisa mudou daquilo que era previsto. Ainda sim, claro, tivemos surpresas. 

Nas categorias técnicas, as novidades vieram mesmo de trilha sonora: John Williams chegou à indicação de número 49 pela trilha de “Indiana Jones e a Relíquia do Destino”. Por mais brilhante que o mestre seja, sinceramente, uma baita falta de criatividade da Academia em indicá-lo por um trabalho apenas bom. Já a Laura Karpman arrancou uma indicação de onde ninguém esperava com “American Fiction”. Sem dúvida, a maior demonstração do carinho do Oscar para com o filme. 

Assassinos da Lua das Flores” teve uma de suas poucas boas notícias com a inclusão de “Wahzhazhe (A Song For My People)” em Canção Original. Ainda que fosse esperado pela nomeação no sindicato, “O Conde” em Direção de Fotografia é um feito pelo duelo contra as grandes produções do cinema americano, superando, entre outros, “Barbie” e “Napoleão”. 

Em Melhor Animação, foi muito bom ver “Robot Dreams” entre os indicados. É um aceno ao público mais adulto na categoria. Filme Internacional optou pela tradição com “Io Capitano” da Itália, país mais vencedor da categoria, e “The Teacher´s Lounge”, da Alemanha, o atual vencedor. “Bobi Wine” e “To Kill a Tiger” passaram por cima de pesos-pesados para serem os finalistas em documentário. 

A nomeação ao SAG deu a deixa e o Sterling K. Brown superou os rivais para ficar com a vaga em Melhor Ator Coadjuvante. Outra demonstração de carinho da Academia com “American Fiction”. Já a America Ferrera fez valer todo o momento Oscar bait de “Barbie” para conseguir a quinta e última vaga de Atriz Coadjuvante. A homenagem no Critics Choics, dois dias antes do fim do período de votação, também pode ter sido decisiva. Em Direção, temos a Justine Triet chegando com “Anatomia de uma Queda”, representando o time feminino. 

ESNOBADAS

A última surpresa também serve para introduzir o assunto das esnobadas. Melhor Atriz ficou com a Annette Bening e deixou de fora a Margot Robbie. Claro que é admirável a entrega física para uma atriz de 65 anos, um componente de combate da luta contra o etarismo nesta nomeação e pesa o fato dela nunca ter vencido uma estatueta, mas, vejo uma atuação nada além da correta e do comum daquilo que se vê em filmes do tipo – e cá entre nós, toda temporada de premiações há uns 10 filmes como “Nyad”. 

Por outro lado, não faz sentido indicar a America Ferrera e o Ryan Gosling e esquecer da Margot Robbie. Ela encaixa à perfeição na personagem – parece que a Barbie surgiu para que ela a interpretasse – a ponto de que é impossível dissociar o filme dela. E tudo isso de uma forma extremamente sarcástica, rindo, inclusive, de si mesma. Aqui, vejo pesar o fato de ser uma atuação vinda de um filme de comédia mais solta do que “Pobres Criaturas”, por exemplo. Uma pena. 

“Barbie” também precisou lidar com a esnobada à Greta Gerwig. Apesar da categoria ser extremamente concorrida, havia sim espaço para ela, responsável por conseguir trazer pautas muito necessárias, mas, também bastante divisivas, para um blockbuster de grande orçamento cercado de expectativas. Nem mesmo o êxito de ser a primeira cineasta mulher a ultrapassar a marca de US$ 1 bilhão foi suficiente. 

“Barbie” sofre com muitas resistências, especialmente, do meio masculino e, em alguma hora, isso iria pesar. Aconteceu justamente em Melhor Direção. O Alexander Payne foi outro nome rejeitado pelo Oscar na categoria; era algo esperado vide que sempre há uma mudança em relação à lista do SAG. Acredito que o estilo de direção mais sóbrio, sem ser tão espetacular aos olhos gerais afetaram as chances dele. 

Levei muita pancada nos últimos dias no canal do Cine Set no YouTube, mas, infelizmente, a minha previsão se confirmou: Leonardo DiCaprio fora de Melhor Ator. Definitivamente, o personagem asqueroso dele pesou no duelo contra o Bayard Rustin de Colman Domingo. “Assassinos da Lua das Flores”, entretanto, sofreu um golpe inesperado em Roteiro Adaptado ao ser sacado por “Zona de Interesse”.  

A esnobada praticamente sepulta qualquer possibilidade de vitória em Melhor Filme. A última vez em que uma produção ganhou a categoria máxima sem ter o roteiro indicado foi com “Titanic”, em 1998. Triste demais a situação de “Assassinos da Lua das Flores”. 

A Penélope Cruz não fez milagre desta vez e não foi indicada a Melhor Atriz Coadjuvante assim como a Sandra Huller, a qual não conseguiu ser nomeada nas duas categorias femininas. Mesmo nomeado ao SAG, o Willem Dafoe ficou fora do Oscar de Ator Coadjuvante. Já o Dominic Sessa foi o único da turma de “Os Rejeitados” esnobado. 

“Tarturagas Ninjas” e Super Mario Bros podem até ter o carinho do público e boas bilheterias, mas, o Oscar não quis saber delas. Falando em animações, “Homem-Aranha Através do Aranhaverso” e O Menino e a Garça” poderiam ter ido além da categoria e chegado, pelo menos, em Trilha Sonora.  

A Academia, entretanto, foi bem quadrada e os esnobou. “Barbie” já dava sinais de perigo ao ficar fora de Melhor Montagem, enquanto o Lenny Kravitz nadou e morreu na praia com “Road to Freedom” sacada de Canção Original. “A Sociedade da Neve” em Efeitos Visuais e “Ferrari” em Som foram também esquecidos no rolê. 

A surpreendente categoria de documentário reservou a maior esnobada das indicações: American Symphony, da Netflix, ficou de fora. E houve quem apontasse o longa sobre o Jon Batiste com possibilidades de Melhor Filme. “Still” e “Beyond Utopia” também decepcionaram. Se a Finlândia lamenta “Folhas de Outono”, a França está em desespero ao ver “Anatomia de uma Queda” em Melhor Filme e “O Sabor da Vida” fora de Filme Internacional. Um erro a ser estudado por muitos e muitos anos.