“O avião! O avião!”. Essa fala e o anão Tattoo são os elementos mais lembrados do seriado da TV Ilha da Fantasia dos anos 1970. Esses elementos são suficientes para garantir a produção de uma nova versão, destinada ao grande público de cinema de hoje? Bem, alguém achou que sim, pois fizeram o reboot para cinema de Ilha da Fantasia. Produzido pelo estúdio Sony e pela Blumhouse, a produtora do momento especializada em terror que às vezes acerta a mão e às vezes erra feio, é o pior tipo de filme burro: aquele que se acha esperto.
Este reboot pega os elementos básicos do seriado – o cenário da ilha, o fato dela realizar as fantasias de quem se hospeda no resort presente nela, e alguns personagens – e os reconfigura numa história que se acha muito esperta por misturar vários gêneros. O filme da Ilha da Fantasia é parte… Bem, fantasia, parte suspense, e parte terror. Com pitadas de comédia e drama. Todas bem ruins.
Na trama, um grupo de personagens chega à ilha no famoso avião e são recebidos pelo anfitrião, sr. Roarke (vivido por Michael Peña, sucedendo outro ícone latino de Hollywood que fazia o papel na TV, Ricardo Montalban). Cada hóspede tem uma fantasia a realizar, de acordo com o anunciado na propaganda do concurso que ganharam, e o Sr. Roarke garante que pode realiza-las. Logo eles são levados às tais fantasias: Têm os dois irmãos (Jimmy O. Yang e Ryan Hansen) que querem aproveitar – leia-se, transar. Um rapaz (Austin Stowell) deseja rever o pai e acaba sendo transportado a um cenário de guerra. Uma moça (Lucy Hale) acaba tendo a chance de se vingar de outra que lhe fazia sofrer bullying na época de escola. E uma mulher (Maggie Q) experimenta uma segunda chance de ser feliz e constituir família com seu grande amor. Quando essas fantasias começam a colidir, a ilha entra em caos.
VIAGEM PARA ESQUECER
Pegando inspiração da sua contraparte televisiva, é quase como se os roteiristas colassem umas quatro ou cinco ideias para episódios numa só grande história. Uma abordagem com potencial, mas que em mãos erradas poderia gerar confusão, e é justamente o que se tem aqui. Cada história tem um tom diferente, e não há costura para transformá-las num todo coerente. Na verdade, o roteiro de Ilha da Fantasia é uma bagunça mesmo, com muito diálogo expositivo, regras da ilha que funcionam de acordo com o momento e a necessidade da trama, elementos jogados do nada, alguns outros elementos roubados de Lost, e um terceiro ato tão cheio de reviravoltas “surpreendentes” que, claro, precisam ser explicadas para o espectador com mais diálogo expositivo.
O que já era ruim no papel se torna ainda pior quando encenado pelo diretor Jeff Wadlow, que parece almejar o titulo de pior diretor trabalhando em Hollywood hoje – é o mesmo autor de Kick-Ass 2 (2013) e Verdade ou Consequência (2017), para vocês sentirem o drama. Wadlow não entende de comédia, por isso as tentativas de humor não têm graça. E quando tenta ser sério e criar drama na narrativa, em torno da personagem de Maggie Q, o resultado é ainda pior – a mulher recebe uma segunda chance na vida, e o que é típico de filmes ruins, a rejeita 5 minutos depois… E visualmente, o filme também é muito pouco imaginativo: começa como um comercial de resort, do meio para o fim vira um episódio típico de Lost na floresta, e acaba numa caverna, que não tem um brilho como a de Lost, mas tem uma pedra mágica…
Resta aos atores passarem um pouco de vergonha: Maggie Q se esforça em vão, Peña parece um pouco constrangido, Hale está péssima e além dos demais citados, Michael Rooker passa correndo pela narrativa, totalmente desperdiçado, mas conseguindo pagar os boletos do mês. E como a cereja do bolo, o filme expande a sua já considerável picaretagem na cena final – que não é difícil de adivinhar – ao tentar iniciar uma possível franquia. A ânsia de Hollywood em explorar suas “IPs”, suas propriedades intelectuais, a todo custo, mesmo aquelas que o público de cinema de hoje mal conhece ou se lembra, ataca de novo. Porém, passar quase duas horas nesta Ilha é suficiente para fazer com que o espectador não queira voltar nunca mais.