Escolher 10 nomes do cinema brasileiro que se destacaram em 2023 é uma tarefa inglória visto que tivemos tantos grandes artistas com trabalhos marcantes e relevantes, conquistando o país e o mundo.  

Por outro lado, listas e retrospectivas ajudam tanto do ponto de vista histórico para situar quem quiser um panorama deste ano no futuro como também para gerar curiosidade daqueles que ainda não conhecem filmes, cineastas, atores do Brasil. 

 Vamos, então, os destaques do cinema brasileiro em 2023: 

1. Adanilo 

Falar da produção nacional neste ano sem citar Adanilo é não ter acompanhado direito o cinema do país. Afinal, o ator amazonense foi destaque de todas as formas possíveis. No circuito comercial, chegou em “O Rio do Desejo”, drama que o aproveita muito mal ao dar uma ponta minúscula, e “Noites Alienígenas”, este sim em um papel digno de todo talento dele.  

Adanilo esteve também no streaming na continuação de “Ricos de Amor”, sucesso da Netflix em que trabalhou com Giovanna Lancelotti. Já no Prime Video participou da segunda temporada de “Dom”. Atrás das câmeras, o amazonense estreou como diretor em “Castanho”, curta-metragem que circulou os principais festivais do segundo semestre no Brasil. 

Como se não bastasse, brilhou no Festival de Cannes durante o lançamento de “Eureka”, do cineasta argentino Lisandro Alonso. A expectativa é que a ascensão de Adanilo siga firme, participando de muitos filmes, sejam eles feitos aqui ou fora de Manaus.   

2. Ailton Graça 

“Carandiru”, “Querô”, “Verônica”, “Bróder”, “Chico Xavier”, “M-8:  Quando a Morte Socorre a Vida”… Não é de hoje que Ailton Graça é figura mais do que conhecida no cinema brasileiro. Faltava, entretanto, um filme e/ou personagem marcante para colocar o holofote que merecia há muito tempo. 

Ailton teve a felicidade de encontrar isso em 2023 com “Mussum – O Films”. O ator é alma da vibrante cinebiografia comandada por Silvio Guindane. Muito além da caricatura e das imitações dos trejeitos, feitos sim com respeito e inteligência, o ganhador do Kikito de Melhor Ator no Festival de Gramado consegue emprestar a força e reverência para a celebração da cultura negra brasileira e de seus pilares artísticos.  

Uma das escalações mais felizes do cinema nacional nos últimos anos. 

3. Carolina Markowicz 

Para os haters de plantão do cinema brasileiro, é inimaginável uma diretora do país seria homenageada ao lado de mestres como Spike Lee e Pedro Almodóvar no Festival de Toronto, palco do lançamento de diversos candidatos ao Oscar. Mas isso aconteceu em 2023 e coube a Carolina Markowicz tal bug na cabeça dos vira-latas de plantão. 

A diretora recebeu o prêmio de talento emergente no Canadá e viu “Pedágio”, o novo filme da carreira, ser aclamado pela crítica internacional. Quem viu o longa de estreia de Carolina, o excelente “Carvão”, nem chegou a se surpreender com o talento da paulista, dona de uma ironia fina para retratar os dilemas de um país sem escrúpulos e no limite da sobrevivência através de personagens com índoles questionáveis. 

Novamente ao lado da onipresente Maeve Jinkings (a atriz ainda esteve nas séries “Os Outros” e “DNA do Crime” em 2023), “Pedágio” também traz os talentosos Kauan Alvarenga e Aline Marta Maia roubando a cena. E a produção ainda se meteu em uma polêmica sobre pirataria do cinema brasileiro nas redes sociais. Definitivamente, Carolina Markowicz fez acontecer em 2023.   

4. Eliza Capai 

O aborto segue dividindo parte da sociedade no Brasil e ao redor do planeta. Em meio ao retrocesso neopentecostal e à onda conservadora política, Eliza Capai assumiu um risco ao se colocar na linha de frente com “Incompatível com a Vida”. 

No angustiante documentário, a diretora aborda de modo franco um duro dilema enfrentado por ela própria: a notícia da malformação do bebê que esperava na décima-quarta semana de gravidez. A criança morreria durante a gestação ou pouco após o parto. Eliza conseguiu realizar o aborto em Portugal de forma legal e pelo sistema público de saúde. 

O documentário pensa como seria o caso se isso ocorresse no Brasil a partir de seis outras mulheres e da própria Eliza. “Incompatível com a Vida” ganhou dois prêmios no É Tudo Verdade – Melhor Filme e Montagem – e foi um dos longas mais elogiados e importantes do cinema brasileiro em 2023.  

5. Guto Parente 

Chover no molhado dizer que Guto Parente é um dos nomes mais importantes do audiovisual brasileiro na atualidade. Desde quando se consolidou a partir do coletivo Alumbramento entre 2008 e 2016, o cearense trilha uma trajetória marcada por filmes ousados como “O Clube dos Canibais” e “Inferninho”. 

Este ano, entretanto, muda toda a configuração para Guto com “Estranho Caminho”. O drama sobre o reencontro de pai e filho em plena pandemia da Covid-19 após anos de uma relação estremecida obteve uma das maiores vitórias do cinema brasileiro em 2023: cinco prêmios no Festival de Tribeca, incluindo, Melhor Narrativa Internacional, Performance para Carlos Francisco, Direção de Fotografia e Roteiro. 

Apesar de não ter ficado com a vaga brasileira para o Oscar 2024, a expectativa é que “Estranho Caminho” seja um dos lançamentos mais aguardados do ano que vem, conseguindo repetir no circuito comercial todo o sucesso nos festivais.    

6. Juan Paiva e Lucas Koka Penteado 

A cinebiografia de Claudinho e Buchecha segue o bé-a-bá do gênero em uma história emocionante com os principais hits dos funkeiros. E graças à simplicidade e fácil identificação, “Nosso Sonho” obteve o êxito de ser o maior sucesso comercial do cinema nacional em um ano difícil para os filmes do país nas telonas. 

Grande parte da força do filme se deve à dupla Juan Paiva e Lucas Penteado. O primeiro traz a sensibilidade artística, singeleza ao mesmo tempo em que desenvolve muito bem os dramas familiares de Buchecha, enquanto o ex-BBB transborda carisma e energia ao apresentar a aura mítica de Claudinho. 

Juntos, os dois formam um time imbatível que o espectador tem prazer de acompanhar ao longo de “Nosso Sonho”. A química de milhões que, infelizmente, poderia ter alcançado números ainda maiores caso a cota de tela estivesse em vigor. 

7. Kleber Mendonça Filho 

Se Kleber Mendonça Filho é ou não o melhor cineasta brasileiro da atualidade é a típica discussão sem fim, por outro lado, após “Retratos Fantasmas”, fica impossível de negar como o pernambucano conseguiu cativar um público fiel e disposto a acompanhar cada novo trabalho. 

Só isso explica os impressionantes números, as salas lotadas e a estreia em complexos de shoppings centers do documentário sobre os antigos cinemas de Recife. “Retratos Fantasmas” comprova a habilidade de Kleber em extrair uma força singular das imagens que registra – o passeio pelo cinema abandonado entre nostalgia e o fantasmagórico é o ápice – e da importante observação sobre a transformação das cidades e suas relações afetivas lutando contra a especulação imobiliária e lucro desmedido. 

Como se não bastasse, o pernambucano, mais uma vez, mostrou uma rara capacidade de explorar as redes sociais ao criar uma forte e inteligente campanha de divulgação que, somada ao boca a boca, despertou o interesse de muita gente fora do círculo cinéfilo. Uma estratégia que, infelizmente, ainda parece faltar à produção nacional mesmo quando estrelada de atores com milhões de seguidores. 

8. Sophie Charlotte

Fica fácil saber que 2023 foi de Sophie Charlotte só de notar que a ponta em “O Assassino”, novo suspense de David Fincher, foi o menor dos destaques dela no ano. Seja no streaming ou nas telonas, a atriz foi o rosto do audiovisual nacional. 

Para começar, ela estrelou “Todas as Flores”, novela disponibilizada inicialmente para a Globoplay, uma estratégia inovadora após mais de 50 anos de emissora. A forte repercussão nas redes sociais mostrou o acerto da produção em que ela interpretava uma mulher cega lutando contra uma rede de traficantes de crianças. O trio formado por ela, Letícia Colin e Regina Casé dominou um dos melhores folhetins dos últimos anos. 

Já nos cinemas, Sophie veio ao Amazonas para viver Anaíra em “O Rio do Desejo”. Posso ter um milhão de restrições ao filme de Sérgio Machado, mas, jamais à protagonista, uma mulher louca para viver plenamente, tentando em vão fugir das tentações que o corpo e a mente insistem em colocar em seu caminho. 

O maior desafio veio mesmo em “Meu Nome é Gal”, cinebiografia da genial cantora falecida em novembro de 2022. Sophie consegue se desvencilhar de ser apenas uma reprodução ambulante de tiques e maneirismo ao explorar o processo de libertação completa das amarras que levou a baiana a se tornar um ícone da MPB. Um show da grandeza de Gal. 

9. Tião e Nara Normande

Lançado em 2014, “Sem Coração” se tornou um dos curtas-metragens brasileiros mais premiados dos últimos anos. Obteve conquistas em Cannes, Havana, Curta Cinema e Brasília.  

Agora, os diretores e roteiristas Tião e Nara Normande adaptaram “Sem Coração” para um longa-metragem. A estreia na seção Horizontes do Festival de Veneza mostrou a força do filme brasileiro. Não à toa venceu o prêmio da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema – na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. 

Tem tudo para ser um dos grandes sucessos do circuito comercial brasileiro de 2024. 

10. Vera Holtz 

Independentemente do que fez ou venha a fazer, o diretor e roteirista Fábio Meira já está na história do cinema brasileiro. O grande feito dele? Escalar Vera Holtz para o seu maior papel nas telonas. 

A atriz conhecida por personagens marcantes nas telenovelas sempre em papeis de coadjuvantes encontra o protagonismo em “Tia Virgínia”. Interpretando a personagem-título, ela encarna as dores e loucuras, crueldades e fragilidades de uma mulher amargurada pela tarefa que a família reservou a ela. Cada fala de Vera sai com uma lâmina sem medo de atingir as irmãs vividas à altura por Arlete Salles e Louise Cardoso. 

Pelo trabalho, Vera Holtz venceu o Kikito de Melhor Atriz em Gramado e o prêmio do Festival de Cinema Brasileiro em Los Angeles. Que o grande público conheça este belo filme e veja a grandeza desta gigante, infelizmente, muitas vezes subestimada. 

OUTROS GRANDES DESTAQUES DO CINEMA BRASILEIRO EM 2023: 

  • Adriana de Faria, diretora paraense do ótimo curta “Cabana”; 
  • Agrael de Jesus, protagonista do rondoniense “Ela Mora Logo Ali”; 
  • “Levante”, grande drama brasileiro premiado em Cannes; 
  • “A Flor do Buriti” e Morzaniel Ɨramari Yanomami, a força do cinema indígena; 
  • Julio Bressane, lenda do cinema brasileiro que lançou “Capitu e o Capítulo” e “Leme do Destino”.