O cinema é uma arte que permite constante reinvenção. E isso facilita a compreensão da prática comum de Hollywood que perdura até os dias de hoje. É natural vermos a indústria norte-americana reexplorar a ideia de uma produção audiovisual de outros países, seja ela bem-sucedida ou não.
Infelizmente, o suspense policial “O Culpado” (2021), remake do ótimo dinamarquês “Culpa” (2018), não surpreende e se torna mais um da lista de inúmeras refilmagens desnecessárias nos últimos anos.
No suspense, acompanhamos o policial Joe (Jake Gyllenhaal) que está trabalhando no serviço de chamadas de emergência, após ter sido afastado das ruas de Los Angeles por motivo desconhecido.
Durante seu turno, Joe recebe a chamada de Emily (Riley Keough), uma mulher que fora supostamente sequestrada pelo marido. A partir disso, o policial se encontra numa corrida contra o tempo para salvar Emily e seus filhos.
Roteiro fraco e atuação caricata
O longa é dirigido por Antoine Fuqua (“O Protetor”), adaptado por Nic Pizzolatto (“True Detective”) e produzido pelo próprio Gyllenhaal. O suspense do remake não foge muito do original: “O Culpado” é sustentado pela atuação do protagonista em quase todos os 90 minutos de duração. Ainda que não seja longo, o filme é bastante repetitivo e, se comparado ao original, a experiência não é satisfatória.
Apesar de Gyllenhaal ser um dos grandes atores de sua geração, a interpretação do policial Joe é, sem dúvidas, um de seus piores trabalhos. Ao longo de todo o filme, o espectador vê como o protagonista é completamente instável. Suas emoções e sentimentos oscilam de forma quase instantânea.
Isso não seria um problema, caso o personagem de Gyllenhaal fosse mais bem trabalhado – o que não vemos nesta nova versão. Pizzolatto mira na construção de um protagonista visceral, porém acaba acertando em um personagem com atuações exageradas que beiram ao caricato.
Esta escolha acaba distanciando o espectador do policial que está tentando resolver o caso e ajudar a mulher sequestrada.
Boa construção visual e sonora
Mas nem toda a atuação de Gyllenhaal é digna de descarte. Principalmente nas cenas em que dialoga com um grande “elenco de vozes”, como Ethan Hawke (trilogia “Antes do Amanhecer”), Paul Dano (“Vida Selvagem”) e Peter Sarsgaard (“Jackie”).
É muito interessante como apenas a intepretação dos atores pela voz é capaz de criar uma ambientação sonora no imaginário do espectador. Para completar, o design de som também ajuda a criar um clima de tensão conforme a perseguição policial vai se desenrolando
Outro ponto que se deve relevar na direção é como Antoine Fuqua busca evidenciar a desconfiança nas atitudes do policial. A câmera tremida, closes no rosto do policial, enquadramentos peculiares que causam uma sensação claustrofóbica e dão a entender que o protagonista está sendo observado, pois a qualquer momento poderá fazer algo errado.
Desnecessário e limitador
Para quem ainda não viu o original dinamarquês, a mais recente adição ao catálogo da Netflix pode, em certos momentos, cativar o espectador. Porém, para quem assistiu ao filme nórdico talvez a experiência não seja tão boa.
A nova versão estadunidense não traz nada de novo, além da adaptação do contexto norte-americano, é claro. Mas, peca quando limita o grande potencial que a narrativa possui ao criticar a atitude policial em certas abordagens.
Tanto no original, quanto na refilmagem, vemos duas histórias que aparentam não ser o que parece, o que torna um facilitador para o suspense catártico. Diferente do dinamarquês, o remake traz um desfecho frustrante e que impede o senso crítico de quem assiste.
A adaptação norte-americana acaba sendo mais uma história de um homem enfrentando problemas internos, ao mesmo tempo em que tenta salvar alguém. Disponível na Netflix, “O Culpado” não atinge o mesmo patamar que a produção original dinamarquesa e entra para a enorme estante de remakes desnecessários de ótimas obras recém-lançadas.
E para quem quiser conferir a narrativa que inspirou a adaptação estadunidense, “Culpa” (2018) está disponível no catálogo da Amazon Prime Video.