Deu a lógica: “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” conquista o Oscar de Melhor Filme em 2023.

Neste post, eu apresento a trajetória vencedora da ficção científica dos Daniels, o que levou a esta conquista e em qual patamar o filme estará na história do prêmio da Academia.  

 A TRAJETÓRIA NAS BILHETERIAS

Dois dias antes do Will Smith meter um tapa na cara do Chris Rock e roubar a cena no Oscar 2022, “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” chegava aos cinemas norte-americanos de maneira bem tímida. Estreou em apenas 10 salas arrecadando modestos US$ 500 mil.   

Duas semanas depois, em abril, ampliou o circuito para 1.250 cinemas, faturando naquele fim de semana US$ 6 milhões, atrás de produções como “Batman”, “Sonic 2” e “Ambulância”. Subiu para o pódio com a medalha de bronze no feriado da Páscoa. Depois, caiu, mas, ainda assim, se manteve de forma consistente no TOP 10 dos filmes mais vistos nos cinemas dos EUA até julho.  

Tamanha resiliência para além dos US$ 67 milhões nas bilheterias gerou fãs ardorosos do filme e chamou a atenção da crítica do mundo inteiro, criando um hype incomum em torno da produção dos Daniels. Essa força chegou até o fim do ano quando “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” passou a frequentar a lista de melhores de 2022 da imprensa especializada.  

Na temporada de premiações, começou perdendo o Globo de Ouro, mas, depois, engatou uma série de conquistas, incluindo, Critics Choice, SAG, PGA e DGA. O domínio foi tamanho que chegou sem maiores rivais para o Oscar 2023, lembrando corridas como vencidas por “Nomadland”, em 2021, e “A Forma da Água”, em 2018.  

AS RAZÕES DA VITÓRIA

 Agora, o que pode justificar a vitória de um filme tão diferente do que a Academia costuma premiar?  

O primeiro ponto passa pela renovada dos membros da Academia feita ao longo dos últimos anos: em 2020 e 2021, entraram 1.090 novos integrantes da entidade vindos dos mais diversos cantos do planeta. A renovação permite a chegada de novos pensamentos e maior diversidade, o que pode refletir nos resultados do Oscar.  

Se nos anos 1980 ou 1990, um filme como “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” sequer chegaria a ser indicado por não seguir os padrões do que seria ‘filme de Oscar’ como ocorreu com clássicos como “Blade Runner” e “Matrix”, hoje, não somente é possível como ter chances de vitória não é impossível.  

Isso se alia à busca por audiência: o Oscar perdeu força perante o público nos EUA, especialmente, os mais jovens. Os índices das cerimônias de 2021 e 2022 abaixo dos 20 milhões de espectadores ligaram o alerta na Academia. A presença de filmes populares entre os finalistas como “Top Gun: Maverick” e “Avatar: O Caminho da Água” sinaliza este aceno coroado com a vitória de “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”, obra muito querida nas redes sociais.  

Não dá para esquecer também da representatividade asiática: do diretor e roteirista Daniel Kwan passando pelos protagonistas Michelle Yeoh, Ke Huy Quan e Stephanie Hsu, a produção da A24 demonstra, mais uma vez, como Hollywood olha atentamente para o mercado do outro lado do planeta com bastante atenção. Vale lembrar que antes de “Parasita” e “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”, a última vez em que uma obra protagonizada por personagens ou atores da região a conquistar Melhor Filme foi “O Último Imperador”, em 1986.  

Por fim, não dá para negar que a fraqueza dos rivais também pesou: durante toda a temporada, ninguém se firmou como rival do filme. Para piorar, nem narrativa havia neste ano para o Oscar ir para outro candidato como ocorreu com “Moonlight” ajudado pelo fantasma do #OscarSoWhite para bater “La La Land”, em 2017. A verdade é que foi uma disputa muito fácil para “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”.  

O TAMANHO DE “EEAO” NA HISTÓRIA DO OSCAR

A pergunta que fica agora é saber em que patamar a ficção científica estará na história do Oscar entre os vencedores de Melhor Filme. Como já disse aqui no canal, considero “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” apenas um bom filme – nem um desastre caótico muito menos o longa mais original da história.   

Na minha visão, o filme dos Daniels aparece na metade inferior da lista dos ganhadores da categoria.  

“Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” está acima, por exemplo, de todos os piores, entre eles, “Cavalgada”, “Gigi”, “Tom Jones”, “Conduzindo Miss Daisy”, “Shakespeare Apaixonado”, “Crash” e “Green Book”.

A produção dos Daniels também se coloca acima dos recentes “Nomadland”, “Coda”, “Quem quer ser um Milionário?” e “Uma Mente Brilhante”, porém, está no bolo de vencedores nada memoráveis como “Minha Bela Dama”, “Laços de Ternura”, “Gladiador”, “Os Infiltrados”, “Argo”, “Birdman”, “Spotlight” e “A Forma da Água”.