De “Aranhaverso” versus Miyazaki até o embate Nolan e Scorsese, Caio Pimenta traz mais polêmicas certas do Oscar 2024 (primeira parte aqui).

POLÊMICA 6 – “NAPOLEÃO” MADE IN USA

Depois de meses de muito suspense, “Napoleão” chega aos cinemas mundiais neste fim de novembro. A superprodução dirigida por Ridley Scott, entretanto, já causa polêmica antes do lançamento. 

A partir do trailer, o historiador Dan Snow criticou o que considerou imprecisões históricas, entre elas, filmar a Batalha das Pirâmides sem ser no local onde elas aconteceram e o fato de Napoleão não estar presente à decapitação de Maria Antonieta. O diretor não gostou e mandou o historiador arranjar o que fazer. 

Igual ao que ocorreu com “Gladiador”, este tipo de reclamação será constante assim como os protestos de ser uma produção falada em inglês retratando um ícone da França.  

Se “Napoleão” chegar forte ao Oscar com possibilidades de vitória, especialmente, em Melhor Direção, espere um outro debate quente: a primeira estatueta de Ridley Scott ou a segunda do Martin Scorsese? Dois veteranos da indústria com filmes clássicos, mas, com o primeiro tendo uma trajetória mais irregular que o segundo. Certamente tem tudo para virar aqueles bate-bocas sem fim em redes sociais. 

POLÊMICA 7 – “ARANHAVERSO” X MIYAZAKI

A categoria de Melhor Animação, sempre tranquila nos últimos anos por conta de corridas com amplo favoritismo de um candidato, promete muitas emoções para 2024. E certamente o público deve entrar pesado na torcida. 

Homem-Aranha Através do Aranhaverso” e “The Boy and the Heron” são os principais postulantes à vitória no Oscar da categoria. A produção da Sony chega para consolidar a força da franquia após a vitória em 2019, enquanto Hayao Miyazaki retorna da aposentadoria com um filme aclamado por onde passou. 

As duas animações mexem com públicos muito fiéis: os nerds e fãs de HQs do lado de Miles Morales e os apaixonados pela cultura japonesa a favor de Miyazaki. A cinefilia tende a ir com “The Boy and the Heron” até por conta de ser rara a uma vitória de uma produção não falada em inglês. Se a corrida for acirrada até a reta final com os filmes revezando conquistas nos eventos pré-Oscar, a tendência é que os choques de opiniões sejam fortes. 

Claro que esta polêmica toda pode melar se a Disney/Pixar emplacarem “Elementos”, tornando-o favorito para o Oscar. Daí, claro, o hate vai todo para ele unindo os fãs do Miyazazki e do Miles Morales. 

POLÊMICA 8 – MULLIGAN EM PRINCIPAL OU COADJUVANTE?

Está virando no Oscar: um candidato sair de uma disputa e ir para outra, mudando totalmente o cenário da corrida. As fraudes de categorias são comuns, mas, ninguém se acostuma com elas, sempre despertando controvérsias. 

Aqui nos comentários do canal do Cine Set choveram protestos quando a Michelle Williams foi deslocada para Melhor Atriz por “Os Fabelmans”, perdendo a estatueta considerada certa entre as coadjuvantes. Ela já havia sido vítima destas fraudes quando a Viola Davis, de “Um Limite Entre Nós” foi para a categoria de Melhor Atriz Coadjuvante e levou o prêmio em vez da estrela de “Manchester à Beira-Mar”.  

Para 2024, o mistério reside em Carey Mulligan: o leve favoritismo não confirmado por “Bela Vingança” deixou um gosto amargo de que a atriz é menos reconhecida pela Academia do que deveria ser. Logo, a oportunidade de mudar o panorama pode vir no ano que vem com “Maestro”. 

Interpretando Felicia Montealegre, esposa de Leonard Bernstein, a britânica vem sendo elogiada desde a exibição do longa em Veneza, onde foi apontada como o grande destaque de “Maestro”, acima até mesmo de Bradley Cooper. Tudo indica que ela vá concorrer em Melhor Atriz, porém, a Netflix não riscou a possibilidade deslocá-la para coadjuvante, uma categoria amplamente aberta e sem favoritas claras. 

Caso ocorra esta possível alteração, já vejo os protestos dos fãs de Emily Blunt e “Oppenheimer” de que a Carey Mulligan estaria roubando a estatueta da atriz, fora a possível esnobada de nomes como Jodie Foster e Julianne Moore, as quais correm risco de ficarem sem espaço entre as nomeadas.  

Por outro lado, se a Mulligan permanece em atriz principal e perde, serão os fãs da britânica que vão protestar por ela não ter sido deslocada de categoria. Resumindo com um famoso ditado: se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. 

POLÊMICA 9 – “OPPENHEIMER”

Cabem aos favoritos do Oscar 2024, claro, o título de maior polêmica da temporada. Fãs de “Oppenheimer” e “Assassinos da Lua das Flores” vão travar um duelo nas redes sociais e na própria indústria para apoiar os seus queridinhos. Argumentos certamente não vão faltar para ataques dos dois lados. 

O Christopher Nolan é o diretor do famoso ame-o ou deixe-o. Há quem o considere um gênio, responsável por aliar o melhor do blockbuster com roteiros inteligentes e criativos. Já outros o acham um tecnocrata, didático ao extremo e um péssimo diretor. Todo este amor e ranço estará em jogo na temporada em que o cineasta chega com mais força para ganhar o Oscar. 

“Oppenheimer”, talvez, seja o filme dele mais bem-recebido por público e crítica desde “O Cavaleiro das Trevas”, mas, não faltam protestos contra a obra. A principal delas até o momento reside na falta de um olhar para o lado japonês do conflito, atingido em cheio com as bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki. 

Até o Oscar, entretanto, prevejo um aumento nas críticas ao filme. Certamente, em algum momento, a questão da representatividade será abordada. “Oppenheimer” é uma obra majoritariamente composta no elenco e atrás das câmeras por homens brancos. Das dezenas de personagens, somente a Emily Blunt e Florence Pugh são mulheres. Ter um rival como “Assassinos da Lua das Flores” em que este discurso está presente a partir da causa indígena deve levar a uma discussão grande ao longo da temporada. 

POLÊMICA 10 – “ASSASSINOS DA LUA DAS FLORES”

Mas, o longa do Martin Scorsese não passará ileso na temporada de premiações. Igual ao visto em “O Irlandês”, haverá resistência pesada em relação ao filme. “Assassinos da Lua das Flores” ultrapassa “Oppenheimer” em 30 minutos.  

Sem contar com o fator “Barbieheimer” para despertar curiosidade, o que vai surgir de “não vi, não gostei” ou “estou com preguiça porque tenho mil séries menos interessantes para maratonar” não vão faltar.  

Como se não bastasse, o Martin Scorsese tem um ranço de um público que curte o Christopher Nolan: as críticas constantes do lendário diretor aos filmes baseados em HQs sempre irritam o público nerd e da cultura pop – isso para não falar do “grande” Joe Russo que fez um vídeo patético nas redes sociais. 

Se a corrida de Melhor Filme e Direção, de fato, ficar entre os dois, prevejo um longo e tenebroso embate sobre quem merece ganhar o Oscar e qual dos dois é melhor. Que os deuses do cinema nos protejam.