De “Barbie” a “A Zona de Interesse”, Caio Pimenta analisa a primeira parte das maiores polêmicas da temporada do Oscar 2024.

POLÊMICA 1: A ACIRRADA CORRIDA DE MELHOR ATOR

A corrida de Melhor Ator será das mais disputadas: é muita gente boa e querida brigando pelas cinco vagas. 

Cillian Murphy, Bradley Cooper e Jeffrey Wright estão praticamente garantidos. O Leonardo DiCaprio também deve aparecer. O bololô pega mesmo na quinta vaga: tem Paul Giamatti, Colman Domingo, Andrew Scott, Joaquin Phoenix e até o Zac Efron estão de olho na indicação. 

Independentemente de quem fique com esta vaga, a certeza é que chiadeira não vai faltar para os esnobados. 

Afinal, o Andrew Scott carrega a simpatia do público pelo sucesso em “Fleabag” e está em um filme que deve cair nas graças da parcela cult tal qual “Aftersun” foi neste ano. Já o Paul Giamatti é o grande ator sempre deixado de lado – nunca foi nomeado na categoria principal de atuação masculina. E o Colman Domingo é o sujeito que foi especulado desde quando “Rustin” começou a ser anunciado e que seria visto como uma injustiça uma possível esnobada – até pela possibilidade disso acontecer em dose dupla visto que ele luta por uma vaga em coadjuvante pelo trabalho em “A Cor Púrpura”. 

Já o Joaquin Phoenix e, principalmente, o Zac Efron deve sofrer as maiores resistências caso estejam na lista. 

Ainda que muito querido, o Joaquin Phoenix acabou de vencer a estatueta por “Coringa”. Não duvido nada que chovam críticas à Academia pela falta de variedade entre os escolhidos, fora ser um ator americano interpretando uma figura histórica francesa. Já o Zac Efron enfrentará as mesmas resistências de quem torcia por nomeações de Robert Pattison e Kristen Stewart. Como sempre tem aqueles que permanecem preso lá nos anos 2000 com “High School”, ver o Troy Bolton de outrora sequer cogitado para Melhor Ator será um ultraje.  

Isso mesmo sem ter visto “The Iron Claw” para saber se a atuação do rapaz é boa ou não. 

POLÊMICA 2: BILLIE EILISH

O segundo ranço da temporada de premiações tende a ser a Billie Eilish. 

Em 2022, a estrela pop ao lado do irmão Finneas ganhou Melhor Canção Original com “No Time do Die”, de “007 – Sem Tempo Para Morrer”. Se ali já houve uma pequena reclamação por conta da cantora americana superar a Beyoncé, de “King Richard” e também pelo fato dela estar vencendo tudo naquele período, o mesmo deve ser amplificado no ano que vem. 

A Billie Eilish deve ser indicada ao Oscar 2024 com “What Was I Made For?”, de “Barbie”. Se ela vencer, a cantora se torna a pessoa mais jovem a vencer duas estatuetas. Logo, pode esperar muita gente atacando a estrela por ganhar o segundo prêmio tão cedo. 

Isso deve amplificar quando vemos a concorrência: 

Somente de “Barbie” há outras duas opções: o Ryan Gosling com “I´m Just Ken” e a deusa na Terra Dua Lipa com “Dance the Night”. O Lenny Kravitz chega com “Road to Freedom”, de “Rustin”, enquanto a lenda Alan Menken está ao lado do Lin-Manuel Miranda com “For the First Time”, de “A Pequena Sereia”. Queimado na indústria, o Justin Timberlake pode reencontrar os bons ventos com “Better Place”, de “Trolls 3”.  

Junta os fãs destas estrelas com a galera que acompanha o Oscar e o ranço está feito. 

POLÊMICA 3: “A ZONA DE INTERESSE”

A terceira polêmica certa da temporada de premiações reside em “A Zona de Interesse”. Aqui, o contexto político atual pode ser um grande divisor em relação ao drama do Jonathan Glazer. 

Os elogios ao filme são praticamente unânimes desde o lançamento em Cannes com grandes chances de aparecer na categoria máxima, direção e roteiro adaptado, além, claro do favoritismo em Filme internacional. A dúvida fica em relação à obra tratar sobre o Holocausto em pleno período de um sangrento confronto na Faixa de Gaza. 

Igual ao planeta inteiro, Hollywood se vê divide em relação ao conflito. O Los Angeles Times divulgou uma matéria recentemente falando dos embates na indústria por conta da guerra. Houve ameaças de desfiliação de membros do Sindicato dos Roteiristas por conta da ausência de um comunicado público de lamento relacionado ao ataque do Hamas. Teve a agente de astros como Tom Cruise, Reese Witherspoon e Madonna se afastando das atividades após publicar que considerava desproporcional a resposta de Israel na Faixa de Gaza. 

O posicionamento pró-Israel de estrelas como Zack Snyder, Jordan Peele, Bradley Cooper e Aubrey Plaza contrastou com os pedidos de cessar-fogo de Mark Ruffalo, Cate Blanchett, Jessica Chastain, Oscar Isaac e outros importantes nomes de Hollywood. Isso para não falar do unfollow da Ana de Armas na Gal Gadot. 

Logo, fica o mistério de saber se o conflito pode respingar na recepção de “A Zona de Interesse”. Claro que o Glazer jamais imaginava que justo na época de lançamento do filme haveria uma guerra tão mortal e o foco ser nos autores da barbárie contribui para uma menor resistência. Ainda assim, vejo uma inevitável discussão que irá ocorrer sobre o filme, misturando cinema, política e religião. 

POLÊMICA 4: EMMA STONE EM MELHOR ATRIZ

Indo agora para um assunto menos pesado, a quarta polêmica certeira da temporada está em uma estrela de Hollywood que eu adoro e não escondo. 

Não é novidade para quem já acompanha o canal que sou fã da Emma Stone. Mesmo sem ser a melhor, considero sim uma das melhoras da sua geração e dona de um carisma que funciona nos mais diversos gêneros – drama, comédia, musical. Fora que é linda de morrer. 

Sei, porém, que nem todo mundo compartilha desta paixonite. E os fãs de Oscar são ligeiramente traumatizados com a minha querida ruivinha. 

Se as nomeações por “Birdman” e “A Favorita” em atriz coadjuvante foram aceitas de boa pela cinefilia, o mesmo não dá para dizer da vitória por “La La Land”. Para uma parte do público, a estrela passava longe de ser uma exímia dançarina para ganhar a estatueta por um musical, enquanto outra apontava que não havia nada demais na atuação dela, transbordando apenas muito carisma. 

O pecado maior, entretanto, foi mesmo vencer a lenda francesa Isabelle Huppert. Em “Elle”, a personagem repleta de dubiedade a desafia ao extremo no provocador suspense do Paul Verhoeven. A conquista dela no Globo de Ouro de Melhor Atriz em Drama alimentou a possibilidade de um Oscar, mas, que foi diminuindo com as vitórias de Emma ao longo da temporada.  

Acho um exagero, mas, há quem compare o resultado à conquista de Gwyneth Paltrow em cima de Cate Blanchett e Fernanda Montenegro no Oscar 1999. E, agora, mais uma vez, a Emma Stone se vê novamente contra uma concorrente querida por parte do público. 

Se em Cannes, a Lily Gladstone já era apontada como o grande nome de “Assassinos da Lua das Flores”, a estreia do épico fez a atriz ganhar o carinho definitivo do público. Poder ser a primeira intérprete de origem indígena a vencer a categoria adiciona a tão fundamental narrativa de representatividade, dando um caldo maior na torcida. 

Ainda há as torcidas pela Carey Mulligan, uma das mais talentosas atrizes atuais ainda sem Oscar, e a Annette Bening, veterana brilhante que também não ganhou Oscar. Os fãs órfãos da Glenn Close nesta temporada podem colocar suas preces ano que vem para a protagonista de “Nyad”. 

O fato da Emma Stone chegar a um segundo Oscar da carreira em Melhor Atriz antes de Cate Blanchett ou Kate Winslet também é usado para criticar uma possível vitória dela em 2024. Agora, evidente isso pode mudar rapidamente se “Pobres Criaturas” cair nas graças do público e se provar o maior trabalho dela.  

Algo que noto pelos comentários é como o impacto e hype de um filme na estreia muda os comentários – quem atacava passa a defender e uma empolgação geral toma conta. Quem sabe isso não ocorre novamente a favor da Emma Stone? 

POLÊMICA 5: “BARBIE”

Para fechar a primeira parte, um filme que vai render pano para manga no Oscar 2024. 

“Barbie” chega ao prêmio da Academia com grandes possibilidades de aparecer como um dos líderes de indicações – acima de sete certamente deve ter. Será o suficiente para a turma mais tradicionalista sacar os protestos de que o Oscar não é mais o mesmo e perde a credibilidade a cada edição, dando espaço para filmes como este. 

A situação deve piorar caso se confirme mesmo Ryan Gosling na dianteira de Ator Coadjuvante, superando atuações mais comuns de ganharem a estatueta como Robert Downey Jr, por “Oppenheimer”, e Robert De Niro, de “Assassinos da Lua das Flores”. 

Esse é um argumento para lá de cansativo por dois motivos: primeiro por colocar as edições do Oscar de décadas passadas em um pedestal de qualidade a qual muitas delas não merecem estar – destaco muitos anos de seleções fraquíssimas vistas nos anos 1950, 60, 80 e 2000. Temporadas de seleções grandiosas e fracas se alternam ao longo da história com épocas melhores e piores, como tudo na vida. 

O segundo ponto é a busca por uma manutenção da tola alcunha de “filmes de Oscar”. Prefiro mil vezes ver um “Mad Max”, “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” ou “Barbie”, fora do padrão costumeiro da Academia, indicados a Melhor Filme do que as cansadas cinebiografias insípidas ou aquele filme de Segunda Guerra Mundial pela milésima vez.  

Mas, que a polêmica e o debate irão ocorrer, isso é mais do que certo.