Caio Pimenta traz um TOP 10 de filmes, documentários, atuações e direções que mereciam indicações ao Oscar 2023.

MOONAGE DAYDREAM EM MELHOR DOCUMENTÁRIO

Camaleão do Rock, o David Bowie merecia um filme longe das cinebiografias convencionais, repletas de lugares comuns e sem personalidade. O documentário “Moonage Daydream” mostrou que dar para ir além do óbvio quando você quer contar a vida de uma estrela da música. 

Dirigido por Brett Morgen, a produção faz uma viagem hipnótica, quase lisérgica pela carreira de Bowie. Munido das canções clássicas e de um acervo histórico quase que inesgotável, “Moonage Daydream” destaca a importância das provocações fundamentais trazidas para a segunda metade do século XX pelo astro britânico. 

Pelo menos, para fazer justiça, considero que a lista de Melhor Documentário esteja em alto nível com filmes prestigiados como “All the Beauty and the Bloodshed” e “Vulcões”. Ainda assim, dava para ter Bowie entre os finalistas. 

APOLLO 10 ½ EM MELHOR ANIMAÇÃO

O Richard Linklater e o Oscar precisam discutir a relação seriamente. A edição deste ano mostrou mais uma vez esta necessidade. 

Depois de uma luta para estar apto a concorrer pela resistência da Academia em aceitar animações com o processo de rotoscopia, “Apollo 10 ½” ficou fora dos finalistas. A produção disponível na Netflix é uma delícia de filme, trazendo um panorama repleto de detalhes e nostalgia do que era crescer em uma região influenciada pela corrida espacial e do sentimento de que o ser humano poderia alcançar tudo o que queria, mesmo diante de graves desafios terrenos. 

Incrível como a Academia acabou optando pelo bobinho “A Fera do Mar” em vez de optar por “Apollo 10 ½”. Como sempre, o Oscar sendo pouco ousado. 

“AFTERSUN” EM ROTEIRO ORIGINAL

“Aftersun” virou o queridinho do público cinéfilo ao redor do planeta neste fim de ano. Havia uma torcida enorme para o Paul Mescal em Melhor Ator, o que acabou dando certo. Porém, dava para ter ido além. 

Se Melhor Direção parecia bem complicado para a Charlotte Wells tamanha era a disputa pela última vaga e “Aftersun” parecia um peixe pequeno em meio a tubarões na corrida por Melhor Filme, minha lamentação fica por Roteiro Original. Se era para a Academia nomear o Ruben Östlund como diretor, que deixasse a vaga de roteirista para a Wells. 

Até porque o roteiro de “Aftersun” é uma joia, afinal, não há uma história com início, meio e fim; são pedaços soltos de memórias íntimas – até banais para muitos -, organizados de forma coesa, revelando pequenos detalhes sobre aqueles personagens, mas, nunca de maneira escancarada.  

A Charlotte Wells torna o filme uma construção coletiva em que vamos preenchendo os vazios, os não-ditos ali presentes. 

ELA DISSE 

Durante toda a temporada, Roteiro Adaptado foi uma das categorias mais incertas pela ausência de candidatos que se firmaram na corrida. Ainda assim, quatro produções chegaram consolidadas, sendo que duas delas emplacaram a indicação: “Entre Mulheres” e “Glass Onion”.  

Quem ficou de fora foi justo o que menos merecia ser esnobado. 

“Ela Disse” traz a coragem de tocar em uma ferida recente de Hollywood não cicatrizada como maior mérito. Isso é indiscutível. E o roteiro da Rebecca Lenkiewicz, se não é brilhante, cumpre de forma digna o receituário de um drama jornalístico, o qual, por exemplo, levou “Spotlight” a vencer Roteiro Original. Isso ainda acrescentando dilemas importantes do universo feminino como questões envolvendo família e trabalho, maternidade e os ataques machistas contra profissionais mulheres. 

A Academia ignorar todo este simbolismo e a própria qualidade do roteiro para ficar com “Top Gun: Maverick” é algo que realmente não entendo. 

MARK RYLANCE EM ATOR COADJUVANTE

Você já deve estar cansado de me ouvir falar do Mark Rylance e do “Até os Ossos”. 

Pois bem, esta será a última vez. 

Vencedor do Oscar em 2015 por “Ponte dos Espiões”, o ator poderia estar tranquilamente entre os indicados a coadjuvante. Sempre em busca de consensos e padrões pouco dispostos ao risco, a Academia, porém, resolveu adotar uma linha conservadora e decidiu esnobar completamente a produção do Luca Guadagnino. 

Sorte que a lista de ator coadjuvante acabou sendo boa, o que diminui a frustração pela ausência. 

PAUL DANO EM ATOR COADJUVANTE

Ainda assim, os finalistas de ator coadjuvante fizeram o Oscar novamente esnobar um dos melhores atores da atual geração. 

“Pequena Miss Sunshine”, “Sangue Negro” e, agora, “Os Fabelmans”. Três trabalhos que já poderiam ter rendido, pelo menos, uma indicação ao Oscar para o Paul Dano. Infelizmente, a Academia o ignora novamente, desta vez, em uma linda e tenra composição para interpretar o patriarca sempre muito gentil e generoso. 

Seria a coroação de um ano que ainda teve a participação excelente dele em “Batman” como o Charada. Entre ele e o Judd Hirsch, sou mais o Dano. 

DANIELLE DEADWYLER EM MELHOR ATRIZ

Quantas vezes vimos grandes atuações em filmes fracos serem indicadas ao Oscar? 

De cabeça nas últimas edições, recordo de Jessica Chastain em “Os Olhos de Tammy Faye”, Renée Zellweger em “Judy” e o Gary Oldman em “O Destino de uma Nação”.  

Já que isso não é impeditivo, o que faltou para a Academia nomear a Danielle Deadwyler por “Till”? Mesmo diante de um burocrático filme, ela carrega todas as dores de Mamie Till em sua luta por justiça, trazendo a força de uma personagem histórica na luta contra o racismo nos EUA. Seria um reconhecimento a um trabalho que não pode ficar apagado nem menos visto. 

EMMA THOMPSON EM MELHOR ATRIZ

Preciso admitir que este vídeo/post foi feito por causa da Emma Thompson. Desde o começo da a temporada de premiações, ficou claro como seria difícil a nomeação da britânica. Isso seja pela corrida apertada com muitas candidatas fortes seja por conta do poderio de campanha de “Boa Sorte, Leo Grande” com os seus rivais. 

De qualquer modo, havia espaço para a Emma Thompson entre as finalistas. Há humor, drama e muita coragem, especialmente, na última cena. Trazer a sexualidade na terceira idade para o debate com a leveza e desprendimento que a britânica apresenta faz de “Boa Sorte, Leo Grande” uma comédia romântica diferente e muito acima da média dos seus pares. 

Se fosse a Meryl Streep fazendo o mesmo papel, você pode ter certeza: estaria indicada com chances de vitória. 

JAMES CAMERON EM MELHOR DIREÇÃO

James Cameron elogia novo O Exterminador do Futuro

Diante dos feitos extraordinários de “Avatar: O Caminho da Água”, uma indicação ao Oscar não faria diferença para o James Cameron, ganhador da estatueta por “Titanic”.  

Mas, ele merecia. 

Se hoje ninguém duvidou do sucesso da continuação, o cenário não era o mesmo há dois, três anos. Os sucessivos adiamentos, a espera pelo desenvolvimento da tecnologia perfeita, a ideia de fazer mais cinco filmes – tudo era motivo de zoeira e questionamentos nas redes sobre o novo “Avatar”. 

Com a chegada do novo filme, Cameron deixou claro, mais uma vez, que a pior aposta é jogar contra ele. “O Caminho da Água” faz cada minuto da espera valer a pena com uma riqueza impressionante de detalhes, capaz de transformar o CGI de um filme Marvel em brincadeira de criança, fora a capacidade de criar clímax de 1h30 com a maior naturalidade. 

Me perdoem os fãs de ‘Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo’, mas, tiraria os Daniels junto com o Ruben Östlund facilmente para encaixar o James Cameron em Melhor Direção. 

RRR EM MELHOR FILME

Completo a lista com o maior espetáculo do cinema em 2022. 

Se a temporada é dos blockbusters, por que não ter colocado o indiano “RRR”? A superprodução do S.S Rajamouli merecia muito mais do que apenas uma indicação em Canção Original – categoria que, aliás, é o favorito com “Naatu Naatu”. De fotografia a efeitos visuais passando por montagem até, claro, Melhor Filme – era para a produção disponível na Netflix ter, pelo menos, mais cinco nomeações. 

A Academia, infelizmente, parece ainda não entender que é possível existir cinema de ação de altíssima qualidade fora de Hollywood. Pelo menos, eles já aceitam dramas de guerra como foi o caso do alemão “Nada de Novo no Front”.