Caio Pimenta analisa quem tem a melhor lista de vencedores do Oscar de Melhor Roteiro Adaptado e Original.

DE 2010 A 2015

A temporada de 2010 terminou com resultados surpreendentes com os favoritos derrotados. 

O Quentin Tarantino chegou com enormes chances de vitória por conta de “Bastardos Inglórios”, enquanto o Jason Reitman vinha forte com “Amor sem Escalas”. A Academia, entretanto, optou pelo Mark Boal entre os originais com “Guerra ao Terror” e Geoffrey S. Fletcher na adaptação de “Preciosa”. Para mim, o estilo mais seco, direto e não menos denso do drama de guerra da Kathryn Bigelow me agrada mais. Ponto para os originais. 

Os vencedores das categorias de roteiro do Oscar 2011 reproduziram a batalha principal de Melhor Filme: “O Discurso do Rei” ganhou entre os originais e “A Rede Social” ficou com adaptado. Os diálogos rápidos e em profusão do Aaron Sorkin, personagens mais do que complexos espelhando uma sociedade imediatista e individualista somada à toda épica história de construção do Facebook tornam este um dos melhores trabalhos premiados nos últimos anos facilmente. 

No ano seguinte, o Alexander Payne saiu do jejum ao ganhar o Oscar de Roteiro Adaptado por “Os Descendentes”, enquanto o Woody Allen chegou à terceira estatueta entre os originais com “Meia-Noite em Paris”. Pela inteligência e o bom-humor de brincar com figuras históricas como F. Scott Fitzgerald, Salvador Dalí, Ernest Hemingway, fico com o novaiorquino. 

Crítica: Django Livre, de Quentin Tarantino

O Oscar de Roteiro Original amplia o marcador na edição de 2013 com a vitória do Quentin Tarantino por “Django Livre”. Apesar do ponto de partida repetir a essência de “Bastardos Inglórios”, os sempre ótimos diálogos e a profusão de excelentes personagens, sejam heróis ou vilões, elevam a qualidade sempre para acima da média.  

Já o trabalho do Chris Terrio em “Argo” merece os devidos créditos por conseguir organizar de forma fluída e atrativa uma história real para lá de árida, mas, ainda abaixo de Tarantino. 

2014 marcou nova vitória dos originais com “Ela”, o espirituoso e visionário trabalho do Spike Jonze sobre o amor nos tempos tecnológicos, superando “12 Anos de Escravidão”, grande roteiro do John Ridley ao mostrar a tour de force de Solomon Northup e todo o horror da tragédia humana. Dois trabalhos gigantes. 

A corrida em 2015 não das mais animadoras: o Alejandro González Iñarritu venceu entre os originais pela crítica ácida à cultura pop e ao cenário artístico como um todo em Birdman. Nos adaptados, a estatueta ficou nas mãos de “O Jogo da Imitação” em uma conquista mais pela homenagem ao matemático Alan Turing e contra a homofobia do que pela qualidade do trabalho. Fico com o mexicano sem muitos problemas. 

DE 2016 A 2020

Já no ano seguinte, os adaptados ganham a preferência, afinal, o Charles Randolph e Adam McKay traduzem a crise econômica de 2008 para nós, leigos no assunto, de modo irreverente, inteligente e com muito humor. Filhotes de A Grande Aposta surgiram aos montes nos últimos anos. Em Roteiro Original, o vitorioso foi Spotlight, o qual também era um excelente trabalho, aqui, executado pelo Josh Singer e Tom McCarthy. É um drama jornalístico redondinho, passa o seu recado de forma eficiente a partir de personagens coesos e bem-construídos. 

Vamos a 2017 com a conquista de “Moonlight” entre os adaptados e “Manchester à Beira-Mar” nos originais. Meu favorito é o trabalho do Barry Jenkins na delicada costura de trazer uma jornada tão pessoal e, ao mesmo tempo, universal de tantos garotos periféricos LGBTQIA+.

Já em 2018, a preferência é dos originais com “Corra”, sátira com terror do Jordan Peele sobre o racismo nos EUA. O James Ivory venceu com “Me Chame Pelo Seu Nome” entre os adaptados. 

Em caso semelhante a 2011, “Infiltrado na Klan” ganhou nos adaptados e “Green Book” venceu nos originais. Spike Lee merecia vencer não apenas aqui, mas, também em Melhor Filme.  

Parasita” versus “Jojo Rabbit” é covardia. Não há competição nem em pensamento.

DE 2021 A 2023


Já em 2021, o páreo é mais duro: a Emerald Fennell cria uma história irônica sobre o horror do machismo e da violência contra a mulher em “Bela Vingança”, enquanto o Florian Zeller traduz o Alzheimer em texto e imagem de forma cirúrgica e comovente em “Meu Pai”, o meu favorito. 

Ano passado não foi nada bom: Kenneth Branagh levando Roteiro Original com o fraco “Belfast” e “Coda – No Ritmo do Coração” ganhando entre os adaptados.

Por ter melhores personagens e ser melhor organizado em seu propósito, fico com o remake norte-americano.

Por fim, em 2023, os Daniels foram consagrados entre os originais com “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” e a Sarah Polley conquistou adaptado por “Entre Mulheres”, aquele que escolho pela forma como trabalha