Sempre atentos aos lançamentos, mesmo com o atual destaque nas plataformas de streaming (devido às restrições impostas pela COVID-19 que nos impede de ir aos cinemas), andamos ponderando sobre a insistência – mais especificamente de Hollywood – nos remakes e continuações. A ideia dessa breve reflexão é trazer vários exemplos de como as novas versões dos já considerados clássicos não tem cumprido seus objetivos; aliás, passam longe… Ao nosso ver, alguns desses objetivos/funções seriam reviver as boas lembranças da película original, entreter e, muito menos, tentar ser superior ao seu original. 

Ao transitar entre os vários gêneros, há muitos exemplos para sustentar nosso argumento. Comecemos com Footloose – Ritmo Contagiante (2011) em comparação com seu original de 1984. A chegada do jovem Ren – interpretado pelo até então jovial Kevin Bacon – em uma cidade em que a música é proibida, conquistou o público na década de 1980 com uma ideia aparentemente simples, mas bem original. Podemos classificar seu remake como medíocre, com fraquíssimas atuações e o estilo country usado desnecessariamente. 

No gênero de ficção científica/comédia, temos o clássico Caça-fantasmas (1984) e também a sua boa sequência, Caça-fantasmas 2 (1989). A versão feminina de 2016 é fraca de roteiro e sem graça. E, pasmem! Em julho deste ano, foi lançado Gosthbusters – mais além, com os atores originais. 

No gênero de ação/aventura, temos o excelente Caçadores de Emoção (1991), no qual se acompanha Patrick Swayze no auge da carreira com o iniciante Keanu Reeves. Em nossa opinião, este filme ainda contém a melhor sequência de perseguição à pé. Seu remake, Caçadores de Emoção: Além do Limite (2015), é bem inferior – além do roteiro que, ao tentar ser inovador, acabou ficando no mais do mesmo. 

Ainda nessa linha, temos o antológico Karate Kid: A hora da verdade (1984), seguido de sua ótima continuação, A hora da verdade continua (1986), mas das tenebrosas sequências O desafio final (1989) e A nova Aventura (1994), com a vencedora do Oscar Hillary Swank desperdiçada no papel. O remake de 2010, com mesmo título do original, envergonha. O talentoso Jackie Chan em um papel mais dramático treinando Dre, interpretado pelo filho de Will Smith, é inexperiente no filme e como ator, ajuda a tornar o entretenimento bem difícil. 

DE ‘ONZE HOMENS’ A ‘O REI LEÃO’

Há ainda um problema ainda maior ligado ao assunto em questão. O remake do remake! Podemos citar o remake de Onze homens e um segredo (2001- o original é de 1960), belo seu elenco de peso como um filme de bom entretenimento, marcado pelo lançamento do hit A little less conversation, de Elvis Presley, mixado. As continuações também cumprem seu papel, com Doze homens e outro segredo (2004) e Treze homens e um novo segredo (2007). O problema vem mesmo com Oito mulheres e um segredo (2018). Desta vez, o time feminino de vencedoras de Oscar não cumpre seu papel e nos deparamos com um filme sem graça e previsível. Em pouquíssimas vezes, observamos que o remake do remake pode ter bons resultados, como é o caso de Nasce uma Estrela (2018), que foi produzido três vezes (as duas primeiras versões são de 1954 e 1976). 

Essa falta de criatividade se evidencia ainda mais com as versões live-action de animações consagradas da Disney como Cinderela, Aladdin e O Rei Leão, que passam longe de causar o mesmo impacto e as mesmas emoções dos originais. Os problemas não param por aí, pois ainda há o fator “continuações” e adaptações de livros que também andam predominando o cinema norte-americano nas últimas décadas. Passados 20, 30 anos, sequências de Top Gun (1986), Um Príncipe em Nova Iorque (1988) e Debi e Lóide (1994) foram lançadas. Agora nos digam: qual a necessidade disso?  Seria reviver os bons momentos e personagens dos filmes anteriores, como comentamos anteriormente? Se essa for a resposta, os roteiristas terão que fazer um trabalho estrondoso para que esse feito seja alcançado. 

Quando se trata do cinema internacional, imensamente superior no quesito originalidade, mais uma vez os Estados Unidos não querem ficar de fora e buscam uma maneira de ganhar também um reconhecimento com as suas próprias versões de filmes aclamados e premiados como O Segredo de Seus Olhos (Argentina, 2009) e Intocáveis (França, 2011). Como resultado, deparamos com produções extremamente inferiores às originais. A última empreitada norte-americana é o remake de Druk (2020), filme dinamarquês ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro esse ano. Como é de praxe, passaremos longe. 

Não queremos de maneira alguma, através desse texto, inferiorizar o cinema norte-americano. Hollywood sempre produziu e produz filmes grandiosos. Por essa mesma razão, sentimos que deveríamos tecer algumas observações a respeito da enorme quantidade de remakes e sequências que tomam conta de Hollywood nos últimos 10, 15 anos. Se os cineastas e roteiristas de outros países conseguem entregar histórias originais e bem-feitas em larga escala, por que não os colegas dos EUA?

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