Como muitos acontecimentos na vida, parece que foi ontem. Mas, o dia 11 de agosto de 2021 completou sete anos sem Robin Williams. Uma grande perda para o cinema e menos uma pessoa que poderia estar trazendo mais sorrisos e alegria em tempos tão conturbados. Ao buscarmos (mesmo que superficialmente) adentrar na sua intimidade, entretanto, encontraremos uma outra pessoa, que não era tão conhecida assim pelo público. O documentário Robin Williams: Come Inside My Mind (2018) de Marina Zenovich, mostra essa intimidade de forma intensa e de uma maneira que chega a chocar quem está assistindo. O filme aborda o início da carreira do ator e também o lado bem sombrio de sua alma, que ganhou força com a depressão e acabou levando-o ao suicídio. 

Quando pensamos em Robin Williams, geralmente sorrimos, pois, associamos quase de imediato a uma cena engraçada de algum de seus filmes ou simplesmente do seu rosto sereno e alegre. O que não sabíamos era que Robin teve uma infância difícil. Sozinho e isolado, tinha que se entreter muito para passar o tempo, pois, não tinha tantos amigos na escola. Tinha medo do abandono enquanto criança; segundo ele mesmo, “um medo que todo mundo tem e que determina como você vive sua vida”. Essa preocupação o levou a ser uma pessoa quieta e reservada em sua vida privada. 

A comédia stand-up foi uma maneira em que o ator encontrou de liberar tudo que guardava dentro de si e tornou-se um tipo de mecanismo de sobrevivência. Quando Robin se apresentava, se transformava em outra pessoa. Antes do show, se concentrava bastante, em silêncio total. Subia ao palco e extravasava tudo, de uma forma que chegava a ser exagerada e até mesmo um pouco forçada. Depois do show, ficava completamente exausto, esgotado – física e mentalmente. Fazer as pessoas rirem, ser engraçado e ser aplaudido virou uma compulsão, um vício para Robin; a reação das pessoas rindo era como uma droga para ele e vital para sua existência. 

SOFRIMENTO SILENCIOSO

Robin falava brincando sobre o que realmente sentia, pois não conseguia se expressar de uma maneira que não fosse fazendo piadas. Steve Martin, que era um de seus amigos mais próximos, fala no filme que “ele era vulnerável na vida real. No palco, era o mestre e estava no comando, era engraçado, rápido. Mas, no dia a dia, ele não estava mais no palco, não estava mais no controle. Acho que ele se sentia bastante confortável no palco e menos fora dele. Sempre senti que ele se segurava, se mantinha junto, guardava muita coisa internamente”. 

Robin Williams processava a realidade de uma maneira bem diferente das outras pessoas e tinha um grande medo: de se tornar como uma rocha, de não poder brilhar mais (por isso, o exagero nas piadas, da constante busca de atenção). O filme de Zenovich nos choca com esse lado perturbador, sombrio e extremamente triste de um dos atores que era sinônimo de alegria, mas que também nos abre os olhos de como as pessoas podem estar sofrendo (e muito) em silêncio. 

No ano passado, em 2020, sua viúva, Susan Schneider Williams, lançou o documentário “Robin’s Wish” (“O Desejo de Robin”, em tradução livre). Esta filme também vale muito a pena ser visto, pois, o mesmo aborda os últimos dias de sua vida, além de maiores detalhes sobre sua morte. O ator se enforcou durante a noite em um armário do quarto em que dormia sozinho, devido a seus problemas de insônia e de alucinações que o faziam gritar de madrugada. O documentário não se detém no pós-morte; enfoca o que ocorreu alguns meses depois, em outubro de 2014.  Susan recebeu o resultado da autópsia e descobriu que, na verdade, a causa de tudo aquilo era resultado de uma forma rara de demência: a do Corpos de Lewy

‘CARPE DIEM’

Escolhemos homenagear o ator e não dar muita ênfase no que levou à sua morte. Sobre isso, já se tem muita coisa publicada e especulada. Isso nesse momento sinceramente não nos interessa. Marcado essencialmente pelos seus papéis de comédia, Robin Williams foi ganhando respeito e notoriedade no meio cinematográfico. Sua fama começa a ser conquistada interpretando o alienígena Mork na série de televisão Mork & Mindy (1978). Para nós, enquanto cinéfilos, o clássico Sociedade dos Poetas Mortos (1989) já nos fazia arrepiar e querer rever ao filme muitas e muitas vezes. Este talvez tenha sido o pulo final para a mescla de papéis mais dramáticos com seu toque de humor peculiar agregado às vozes que fazia, também por ser dublador. Tal movimento se iniciou em Bom dia, Vietnã (1987). Daí em diante, sucessos e também alguns fracassos, como Hook – A volta do capitão gancho (1991) – que até hoje é difícil acreditarmos que foi dirigido por Steven Spielberg. 

Um destaque em especial, pois vimos na telona: Uma Babá Quase Perfeita (1993), um mega sucesso que nos faz rir até hoje. Robin Williams travestido de babá batendo em um ladrão que tenta roubá-lo é uma de suas muitas cenas hilárias.

Para mim, Bruno, em especial, a interpretação em Gênio Indomável (1998) é a que seguramente mais me marcou. Ali, no final dos anos 90, eu estaria há dois anos de entrar no curso de Psicologia e, certamente fui muito influenciado pelo que viria a significar a Psicologia, mais precisamente a psicoterapia na vida de alguém.

Para mim, Vanessa, o Sr. Keating em Sociedade dos Poetas Mortos (1989) é o papel que mais me causou impacto, tanto porque o filme em si é o meu preferido de todos os tempos e que considero uma obra-prima. Como não se envolver com o carisma e a paixão que emanam do carismático professor e que acabam mudando as vidas de seus alunos para sempre?

Daí para frente, são inúmeros filmes feitos além de várias participações em séries. É impossível e fora do propósito citar todos aqui. Ficaremos sempre com as lembranças alegres que Robin Williams nos proporcionou.

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