Quem diria que um dia veríamos isso, senhoras e senhores? O Oscar 2020 vai para uma produção falada em língua-não inglesa e sem astros mundiais. “Parasita” é o Melhor Filme do Ano.
Além desse feito histórico, o “Parasita” quebra um jejum de 64 anos: somente “Marty”, em 1956, tinha conseguido vencer a Palma de Ouro do Festival de Cannes e o prêmio do Oscar. Tudo isso mostra a dimensão, o tamanho da conquista do filme sul-coreano.
Agora, o que o “Parasita” tem que o transformou neste fenômeno espetacular? Para mim, o filme do Bong Joon-Ho toca em um ponto universal em que estamos todos inseridos: o capitalismo.
É uma produção que trata da busca incessante de ascensão social, enquanto os desníveis entre as classes só aumentam e a exploração da mão de obra sustenta este cenário. “Parasita” traduz isso na tela desde a composição dos cenários de onde vivem cada personagem até pequenos gestos e falas culminando nas impactantes viradas presentes na história. Longe de discursos inflamados e vitimizações, Bong Joon-Ho cria um universo assustador a partir um núcleo comum a todos: a família.
Esses abismos sociais e as tensões criadas a partir dele estão em alta no cinema vide “Coringa” e “Bacurau”, outros grandes de 2019. Olhando para o Oscar, essa vitória mostra o efeito da abertura da Academia para mais membros do mundo afora, buscando justamente uma diversidade. A grande questão é saber se isso fica só na indústria e se expande pelo público, afinal de contas, os americanos são resistentes a produções faladas em outros idiomas.
Na história dos vencedores do Oscar, acho que “Parasita” ocupa uma posição de destaque. Para mim, é o melhor ganhador disparado desde “Onde os Fracos Não Têm Vez”. E acho que se posiciona para ficar entre os 20 melhores da história, ali junto com “Do Mundo Nada se Leva”, “Farrapo Humano”, “Sinfonia em Paris”, “Operação França” e “A Lista de Schindler”.