Bem, uma coisa ninguém pode dizer de Lovecraft Country: ser um seriado chato e previsível. O sexto episódio da temporada, “Me encontre em Daegu”, é um momento inspirado da série, uma hora cheia de imagens grotescas muitas vezes contrapostas a um clima tocante, belo mesmo, de uma improvável história de amor. É também um episódio capaz de deixar o espectador coçando a cabeça… Uma coisa é certa, é interessante e emotivo.

CRÍTICA: “Lovecraft Country” 1×01

É o segundo desvio narrativo seguido. Já por dois episódios consecutivos, as aventuras e toda a trama do nosso trio de protagonistas fica na espera, enquanto acompanhamos a história de uma personagem paralela, mas que deverá ter importância na resolução do arco principal da temporada – no episódio anterior, acompanhamos Ruby enquanto ela passava a usar uma pele branca por um tempo e, em apenas breves momentos, víamos o que estava acontecendo com Tic, Letitia e Montrose.

Em “Me encontre em Daegu”, nem chegamos a dar uma parada no presente para ver o trio principal. O episódio é um flashback, destinado a explicar a curiosa conexão entre a misteriosa mulher coreana e Tic, da qual tivemos apenas algumas poucas dicas desde o início da temporada. Pois bem, essa mulher coreana é Ji-Ah, vivida por Jamie Chung. Estamos em 1950, na Coréia do Sul ocupada pelo exército norte-americano, e o clima de tensão é forte. Ji-Ah se distrai vendo musicais de Hollywood – o título deste episódio é um trocadilho com “Meet me in St. Louis”, título original de Agora Seremos Felizes (1944), famoso musical estrelado por Judy Garland. Na cena inicial, vemos Ji-Ah querendo sair pulando e cantando no meio do cinema – como já faz parte da narrativa de Lovecraft Country, ela é mais uma figura apaixonada pela arte produzida por uma sociedade que a odeia.

CRÍTICA: “Lovecraft Country” 1×02

Ela realmente gosta de musicais. Mas precisa reprimir sua vontade de cantar e dançar. Porque ela é… diferente. Ji-Ah é, na verdade, uma entidade monstruosa (claro) chamada Kumiho, que possui muitas caudas (!) e é usada por ela e sua mãe para captar almas de homens durante o ato sexual (!!). Ao matar 100 homens, na teoria, o demônio a abandonará e Ji-Ah voltará ao normal.

CRÍTICA: “Lovecraft Country” 1×03

Com o tempo, Ji-Ah conhece Tic em circunstâncias terríveis, mas um sentimento começa a nascer entre eles. Aliás, é um artifício muito interessante de “Lovecraft Country” introduzir o herói da série na posição de quase-vilão, justo quando um tocante relacionamento começa a surgir entre Ji-Ah e sua amiga Young-Ja (Prisca Kim). O episódio adiciona várias camadas interessantes ao protagonista. Mas, a partir daí, o relacionamento deles é tão bem construído, e tão bem defendido por Chung e Jonathan Majors, que o espectador não consegue deixar de torcer por eles.

CAMINHOS INESPERADOS

As atuações são o grande destaque deste episódio, e a diretora Helen Shaver extrai o máximo das interações entre Chung e Majors. Não tão bem sucedida é a parte dos efeitos de computação gráfica: o CGI ficou devendo um pouco ao retratar os momentos das manifestações do bizarro Kumiho, embora isso não chegue a comprometer o episódio. Já a reconstituição de época segue o alto padrão que já nos acostumamos a esperar de uma produção HBO, e o fato de a maior parte do episódio ser falado em coreano, e estrelado por um elenco do país adiciona ainda mais autenticidade.

CRÍTICA: “Lovecraft Country” 1×04

No fim das contas, temos em “Me encontre em Daegu” uma tocante história de aceitação que se encaixa bem com os temas de Lovecraft Country até o momento: Ji-Ah percebe que tudo bem ser diferente, e se autoaceitar é o mais importante. “Nós dois fizemos coisas monstruosas, mas não quer dizer que somos monstros”, ela diz a Tic numa cena, e este episódio torna o relacionamento entre eles, de uma mera curiosidade, ao mais forte da série. E ele ainda termina insinuando grandes possibilidades para o futuro, com o relacionamento de Ji-Ah e Tic devendo ter uma importância grande no conflito final da temporada.

CRÍTICA: “Lovecraft Country” 1×05

A bizarrice do Kumiho e seus poderes impressionam o espectador, mas quem poderia dizer que a explicação para um mistério que parecia bobo e maluco renderia a maior quantidade de emoção genuína que a série já mostrou até o momento? Aprender a esperar o inesperado parece ser a melhor forma de se acompanhar Lovecraft Country.

‘Bebê Rena’: a desconcertante série da Netflix merece todo sucesso inesperado

E eis que, do nada, a minissérie britânica Bebê Rena se tornou um daqueles fenômenos instantâneos que, de vez em quando, surgem na Netflix: no momento em que esta crítica é publicada, ela é a série mais assistida do serviço de streaming no Brasil e em diversos países,...

‘Ripley’: série faz adaptação mais fiel ao best-seller

Vez por outra, o cinema – ou agora, o streaming – retoma um fascínio pela maior criação da escritora norte-americana Patricia Highsmith (1921-1995), o psicopata sedutor Tom Ripley. A “Riplíada”, a série de cinco livros que a autora escreveu com o personagem, já...

‘O Problema dos 3 Corpos’: Netflix prova estar longe do nível HBO em série apressada

Independente de como você se sinta a respeito do final de Game of Thrones, uma coisa podemos dizer: a dupla de produtores/roteiristas David Benioff e D. B. Weiss merece respeito por ter conseguido transformar um trabalho claramente de amor - a adaptação da série...

‘True Detective: Terra Noturna’: a necessária reinvenção da série

Uma maldição paira sobre True Detective, a antologia de suspense policial da HBO: trata-se da praga da primeira temporada, aquela estrelada por Matthew McConaughey e Woody Harrelson, e criada pelo roteirista/produtor Nic Pizzolato. Os grandiosos oito episódios...

‘Avatar: O Último Mestre do Ar’: Netflix agrada apenas crianças

Enquanto assistia aos oito episódios da nova série de fantasia e aventura da Netflix, Avatar: O Último Mestre do Ar, me veio à mente algumas vezes a fala do personagem de Tim Robbins na comédia Na Roda da Fortuna (1994), dos irmãos Coen – aliás, um dos filmes menos...

‘Cangaço Novo’: Shakespeare e western se encontram no sertão

Particularmente, adoro o termo nordestern, que designa o gênero de filmes do cinema brasileiro ambientados no sertão nordestino, que fazem uso de características e tropos do western, o bom e velho faroeste norte-americano. De O Cangaceiro (1953) de Lima Barreto,...

‘Novela’: sátira joga bem e diverte com uma paixão nacional

Ah, as novelas! Se tem uma paixão incontestável no Brasil é as telenovelas que seguem firmes e fortes há 60 anos. Verdade seja dita, as tramas açucaradas, densas, tensas e polêmicas nos acompanham ao longo da vida. Toda e em qualquer passagem de nossa breve...

‘Gêmeas – Mórbida Semelhança’: muitos temas, pouco desenvolvimento

Para assistir “Gêmeas – Mórbida Semelhança” optei por compreender primeiro o terreno que estava adentrando. A série da Prime Vídeo lançada em abril é um remake do excelente “Gêmeos – Mórbida Semelhança” do genial David Cronenberg, como já dito aqui. O mundo mudou...

‘A Superfantástica História do Balão’: as dores e delícias da nostalgia

Não sou da época do Balão Mágico. Mesmo assim, toda a magia e pureza desse quarteto mais que fantástico permeou a infância da pessoa que vos escreve, nascida no final daquela década de 1980 marcada pelos seus excessos, cores vibrantes, uma alegria sem igual e muita...

Emmy 2023: Previsões Finais para as Indicações

De "Ted Lasso" a "Succession", Caio Pimenta aponta quais as séries e atores que podem ser indicados ao Emmy, principal prêmio da televisão nos EUA. https://open.spotify.com/episode/6NTjPL0ohuRVZVmQSsDNFU?si=F1CAmqrhQMiQKFHBPkw1FQ MINISSÉRIES Diferente de edições...