Caio Pimenta analisa as razões da vitória de Sandra Bullock, por “Um Sonho Possível”, em Melhor Atriz no Oscar 2010 não ser absurda.
CARISMA E VERSATILIDADE: MARCAS DE BULLOCK
Para começo de conversa, é preciso analisar a trajetória da Sandra Bullock até o Oscar 2010.
O primeiro sucesso da Sandra Bullock veio em 1994 com “Velocidade Máxima”, uma bobagem com um fiapo de roteiro em que ela e Keanu Reeves seguram com a maior facilidade do mundo somente pela química deles.
O fracasso com “A Rede” foi facilmente superado com “Enquanto Você Dormia” mostrando que, além dos filmes de ação, ela serviria para ser também a mocinha de comédias românticas como ocorreu posteriormente com “Quando o Amor Acontece”, “Forças do Destino” e “Amor à Segunda Vista”.
Na tentativa de se firmar também como atriz de filmes mais sérios sucumbiu em meio a tantos talentos de “Tempo de Matar”, enquanto “28 Dias” não convenceu ninguém.
A virada veio na comédia “Miss Simpatia” em que ela se mostra capaz de segurar uma comédia sem nenhuma dificuldade, sendo, inclusive, indicada ao Globo de Ouro.
A Academia começou a observar Sandra Bullock com um pouco mais de atenção em “Crash”, o surpreendente vencedor do Oscar em 2006. Mas, nada comparado ao que viria depois.
Resumindo: uma atriz carismática, chamariz de boas bilheterias ainda que não tão reconhecida pelo seu talento.
O PAPEL DE UMA VIDA
Em “Um Sonho Possível”, a Sandra Bullock encontra um filme que cai como uma luva para ela.
Interpretando uma mulher que adota um jovem negro abandonado à própria sorte e o incentiva a seguir carreira no futebol americano, a estrela faz uma personagem em que pode mesclar o humor carregando na fúria e intensidade, enquanto no drama entrega o suficiente para convencer dentro das suas limitações.
Pode ser considerado um Oscar bait tranquilamente, mas, cá entre nós, se não fosse a Sandra Bullock, “Um Sonho Possível” nem seria lembrado, cairia no esquecimento fácil.
Daí, você dizer: ‘mas, Caio, pelo amor de Deus, isso é suficiente para ganhar o Oscar de Melhor Atriz’? Posso até concordar com você que não, porém, aquela foi uma temporada excepcional.
NÍVEL MUITO BAIXO
O Oscar 2010 não teve uma safra de filmes tão boa assim: dos 10 indicados obrigatórios a Melhor Filme, metade ali poderia ter vazado sem problema alguma. A corrida em Melhor Atriz foi pior ainda com uma disputa nivelada por baixo.
Das candidatas que ficaram de fora, tínhamos a Audrey Tautou, de “Coco Chanel”, a Marion Cotillard, por “Nine”, Emily Blunt, de “A Jovem Vitória” e Julia Roberts, de “Duplicidade”.
Essas citadas foram nomeadas para o SAG, Globo de Ouro ou Bafta. Na boa, nenhuma delas deixaram saudades por estes papéis. Porém, nem as indicadas empolgavam tanto assim.
A Meryl Streep, por exemplo, traz um bom desempenho como sempre em “Julie & Julia”, mas, ainda assim, longe de seus melhores trabalhos até mesmo daquela época como “Adaptação” e “O Diabo Veste Prada”.
Já a Helen Mirren contou com a benevolência da Academia após “A Rainha” e foi indicada por “A Última Estação”, uma produção que praticamente ninguém lembra.
O nível ficava melhor com duas atrizes então revelações da época.
Apesar do Lee Daniels exagerar nas tintas por diversas vezes, a Gabourey Sidibe está excelente em “Preciosa” ao fazer uma dupla arrasadora com a Monique em um drama dos mais difíceis.
Em um outro tom, a Carey Mulligan capricha na doçura e delicadeza para estrelar “Educação”. O bonito filme britânico salta de nível graças à sua protagonista.
Ainda assim, as duas estavam em uma situação diferente do que se encontraram outras jovens estrelas vencedoras do Oscar daquela época.
Jennifer Lawrence, por exemplo, estava em um filme que chegou mais forte na premiação e tinha como maior rival a Emmanuelle Riva, uma veterana do cinema francês.
Já a Brie Larson sobrou até por conta das suas principais rivais, Cate Blanchett e a própria J.Law, terem vencido recentemente seus prêmios.
A Gabourey e Mulligan tinham pela frente uma das maiores estrelas de Hollywood na época extremamente carismática e no seu melhor desempenho até então.
Fora que, apesar de ótimos trabalhos, nenhuma delas fez algo arrebatador para dominar indiscutivelmente a temporada de premiações.
Desta forma, o Oscar acabou caindo naturalmente nas mãos da Sandra Bullock, vencedora justa de Melhor Atriz em uma temporada que refletia essa conquista.