‘The Boys’ inicia a segunda temporada apostando nos elementos que marcam seu diferencial em comparação a outras adaptações de HQ’s: violenta, sanguinária e constantemente surreal. Entretanto, neste segundo ano, tais pontos fortes são comedidos e dividem espaço com a busca por densidade temática e uma história mais complexa. Apesar dos esforços, a trama apresentada ainda não empolga tanto quanto as cenas chocantes de ação, mas, ao menos, se mostra como uma alternativa com grandes chances de ser bem desenvolvida.
Episódio 1 – “Uma viagem e tanto”
Preocupado em responder perguntas deixadas pelo final da temporada anterior, o showrunner Eric Kripke apresenta um primeiro episódio eficiente em realizar a conexão entre os dois momentos diferentes da série. Para isso, a história se divide novamente entre acompanhar superpoderosos “Os Sete” e seus inimigos, “The Boys”.
De um lado, os “heróis” se encontram divididos em função de seus interesses próprios: Homelander (Antony Starr) lida com a ausência de Madelyn (Elisabeth Shue) enquanto enfrenta a diretoria da Vought por maior controle sobre Os Sete; Starlight (Erin Moriarty) continua como uma agente dupla trabalhando para a Vought ao mesmo tempo que tenta derrubá-la; Maeve (Dominique McElligott) e Deep (Chace Crawford) enfrentam questionamentos pessoais enquanto buscam se manter na equipe. Já o grupo protagonista sente toda fragilidade de suas ações com Hughie (Jack Quaid) e Butcher (Karl Urban) tentando acertar suas diferenças e sair da condição de procurados pela polícia.
Com uma distância óbvia entre os personagens, o roteiro investe na aproximação destas narrativas e em justificar acontecimentos anteriores. Ao primeiro olhar, tudo parece aproveitável e interessante, entretanto, tramas como o romance entre Hughie e Starlight e o isolamento de Deep logo revelam uma repetição do que foi visto anteriormente. Já a ação sangrenta aparece timidamente nesse primeiro momento, possuindo uma preocupação em não ser apenas violência gratuita, mas, mostrar pontos importantes para o desenvolvimento da história.
Episódio 2 – “Armando a Arapuca”
Apesar do capítulo anterior ser animador para uma volta de série, seu ritmo é mais lento e compassivo, por isso, fica a cargo do segundo episódio aumentar a intensidade da trama. O início sob o ponto de vista de Butcher logo traz de volta seu papel como protagonista, mostrando motivações pessoais – diretamente ligadas com Homelander. Nesse aspecto, ambos personagens são facilmente explorados por seus respectivos atores, principalmente Antony Starr, o qual volta às expressões conhecidas de Homelander sem se tornar caricato.
O episódio também apresenta a força do humor presente na série: seja pela ironia ou pelo politicamente incorreto, as histórias sempre terminam com humor ácido (mesmo se tratando de momentos mais complexos). O grande proveito disto é a volta das correlações com o mundo real e sacadas sobre a internet, incluindo memes, vídeos virais e aplicativos populares. A personagem que ajuda bastante nesse aspecto é a novata Stormfront (Aya Cash), a qual logo de início ajuda a debater sobre a aceitação pública de superpoderosos.
Novamente, os pontos fracos da narrativa são Deep e Maeve. Não apenas por estarem longe da trama principal, mas também por possuírem temáticas mal exploradas. Deep não se encontra nem no humor nem no drama, apesar de suas motivações possuírem um cenário mais denso, já Maeve tem uma trama interessante, porém, sempre é apresentada de forma tímida, quase que uma forma de tapar buracos para cumprir o tempo da produção.
Episódio 3 – “Mil homens armados com espadas”
Inevitavelmente o episódio que mais se destaca nessa fase inicial. Tem um papel importante tanto em dar continuidade à trama como também apresentar novidade. As primeiras cenas mostram Hughie e Butcher em um novo cenário totalmente oposto do porão anterior onde se escondiam. Assim, a impressão de que o grupo progride finalmente é palpável, mesmo sem a trama acompanhar este desenvolvimento.
Presente no grupo do Butcher, Kimiko (Karen Fukuhara) é uma personagem negligenciada na trama em vários aspectos e, este episódio mostra a intenção da série em aproveitá-la melhor. A trama com o aparecimento de seu irmão é explorada sempre em benefício próprio, revelando mais sobre sua origem para o público finalmente a conhecer. Seu irmão, por outro lado, possui uma presença pequena e mal explorada, mas, ainda mostra um desenvolvimento mínimo para acompanhar Kimiko. Outra personagem de destaque no capítulo é novamente Stormfront, a qual mesmo com apenas poucas aparições já possui uma cena icônica para chamar de sua.
Mas o que torna o episódio o ponto alto da temporada até então é o fato de Butcher e Homelander se encontrarem novamente. A forma como a série lida com seus personagens é muito mais interessante por não protelar esse embate, pelo contrário, ele possui pouco destaque pois já foi visto na série. Assim, o grande foco do episódio é ressignificar a dinâmica entre os personagens. Outro grande exemplo disso é a aparição de Deep para Os Sete, momento que justifica toda sua trama anterior desinteressante, conseguindo também ser aproveitado juntamente de seus poderes para criar uma cena memorável.
Episódio 4 – Não há nada igual no mundo
É um episódio que precisa ser mais maduro e deixar o humor de lado. Também possui a menor classificação indicativa da temporada até então, mostrando o enfoque em acompanhar seus personagens. Nesse aspecto, Homelander é novamente um ótimo destaque e sua variação entre dilemas adultos desenvolvidos por alguém com diversos traumas infantis, encerrando o capítulo com um tom bastante sombrio.
Nesse episódio os personagens verdadeiramente crescem. A carga dramática dos diálogos é maior e finalmente as consequências de viver em um mundo tão violento e surreal são sentidas por todos. Chega a ser irônico como Starlight, Maeve e vários outros personagens são bem explorados em um episódio onde o protagonista Butcher fica restrito à uma trama mal desenvolvida e clichê. Maeve, inclusive, tem sua sexualidade revelada à força, o que poderia render um ótimo debate, mas fica restrito a narrativa heroica já estabelecida.
A revelação sobre Maeve só reforça a intenção de aprofundar melhor temáticas neste episódio. Desta forma, a discussão sobre corrupção de falhas no sistema judiciário voltam com a perseguição do The Boys à Vought e seus heróis. Se encaminhando para a metade da temporada, a série parece alcançar a densidade que já dava indícios desde o primeiro momento, entretanto, a forma como isto será explorado sem deixar o humor marcante se sobressair ou ser encoberto pelo sangue nas cenas de ação ainda é uma incógnita a ser respondida.