Caio Pimenta analisa como “Nomadland” chega à temporada de premiações como o grande favorito ao Oscar 2021.
SUCESSO EM FESTIVAIS
Nenhum outro filme foi tão premiado do segundo semestre de 2020 para cá do que “Nomadland”.
A consagração começou em Veneza, local onde os oscarizados “A Forma da Água”, “Roma” e “Coringa”, também levaram o Leão de Ouro.
Depois, veio o prêmio do público em Toronto. A honraria também foi recebida pelos vencedores de Melhor Filme “Green Book”, “12 Anos de Escravidão”, “O Discurso do Rei” e “Quem Quer Ser um Milionário”.
Por fim, no dia 11 de janeiro, o longa estrelado pela Frances McDormand não deu chances aos concorrentes e faturou Melhor Filme e Direção para Chloe Zhao no Gotham Awards.
“Moonlight”, “Spotlight”, “Birdman” e “Guerra ao Terror” também foram premiados no Gotham.
ACLAMAÇÃO DA CRÍTICA
Como eu cheguei a dizer aqui em vídeo anterior, “Nomadland” se saiu muitíssimo bem no circuito de críticos dos EUA.
No ano passado, o filme já tinha acumulado vitórias junto aos críticos de Indiana, Boston e Chicago. Já em 2021, “Nomadland” levou o National Society of Film Critics e Alliance of Women Film Journalists, além de ser finalista nos prêmios da crítica de Houston, Saint Louis, San Diego e Dakota do Norte.
Aí, você deve estar se perguntando: ‘e Nova York?’. Ficou em segundo lugar mesma posição alcançada em Los Angeles. Ou seja, os EUA inteiro estão com o longa.
NARRATIVAS FAVORÁVEIS
Ganhar o Oscar vai muito além apenas da qualidade do filme ou de um trabalho. Na premiação, também conta a narrativa construída em torno do vencedor.
A vitória de “Parasita”, por exemplo, surgiu de uma construção histórica, impulsionada pela chegada de novos membros vindos do mundo inteiro e, consequentemente, de uma abertura maior da Academia para produções não faladas em inglês.
“Nomadland” tem a seu favor a narrativa feminista dentro de Hollywood, principalmente, em Direção. Apenas Kathryn Bigelow, em 2010, por “Guerra ao Terror”, venceu o prêmio. A Chloé Zhao é ampla favorita para ser a segunda conquistar a categoria e também se tornar a segunda mulher a comandar uma produção vencedora de Melhor Filme. A categoria ainda pode ter a primeira mulher negra nomeada com Regina King, de “Uma Noite em Miami”.
O filme ainda busca capturar um olhar sobre os EUA mais profundo e das suas raízes, longe das grandes cidades e dos personagens glamurosos. Essa tentativa de recomeço, de uma nova chance para todos caí bem nesta pós era Trump.
RIVAIS ENFRAQUECIDOS
O domínio de “Nomadland” nos festivais e na crítica chegou a tal ponto que eclipsou boa parte dos seus principais concorrentes. Alguns decepcionaram, enquanto outros se mostram mais fortes categorias paralelas.
Da turma da decepção, “Mank”, o grande candidato da Netflix, sucumbiu. Longe de ser um filme focado exclusivamente nos bastidores de “Cidadão Kane”, a produção ampliou o escopo ao falar de política em aliança com a mídia. Acabou sendo subestimado mais pela expectativa criada do que necessariamente por não ser bom. Para o Oscar, porém, deve ficar longe de qualquer chance de vitória em Melhor Filme.
Já “A Voz do Suprema do Blues” surge com mais possibilidades de premiar a Viola Davis e o Chadwick Boseman assim como “Destacamento Blood” para Delroy Lindo” e “The Father” com Anthony Hopkins”. Ainda que possa crescer, “One Night in Miami” não parece ter forças suficientes para alcançar “Nomadland”, enquanto “First Cow” e “Nunca Raramente às Vezes Sempre”, no máximo, lutam por indicações.
“Os Sete de Chicago” é quem parece um pouco mais forte até por conta dos protestos que vimos no Capitólio nos EUA. Dentro da imprensa americana, há quem diga que o episódio fortaleceu a produção do Aaron Sorkin por ser um contraponto entre os dois movimentos. Por fim, vale uma atenção para “Malcolm & Marie”, da Netflix, e “Judas e o Messias Negro”, da Warner, que vão chegar nas próximas semanas e podem mudar a configuração da disputa.