De “Top Gun: Maverick” a “Avatar 2”, Caio Pimenta mostra como a temporada do Oscar 2023 pode ter diversos blockbusters.
“O Oscar não gosta de filmes populares”.
Esta frase quase sempre aparece quando um filme querido do público acaba esnobado.
Mas, será mesmo?
Se a Academia fosse realmente elitista, como obras amadas pelo público de todas as idades como “E o Vento Levou”, “Casablanca”, “Ben-Hur”, “A Noviça Rebelde”, “Lawrence da Arábia”, “O Poderoso Chefão”, “O Silêncio dos Inocentes”, “A Lista de Schindler”, “Titanic”, “Gladiador” e “O Senhor dos Anéis” foram vencedoras do Oscar?
A escolha do ganhador, muitas vezes, mirou mais o apelo popular em vez de obras mais ousadas e polêmicas. Basta lembrar de “Como Era Verde Meu Vale” vencendo “Cidadão Kane”, “O Maior Espetáculo da Terra” superando “Matar ou Morrer”, “Rocky” nocauteando “Taxi Driver”, “Forrest Gump” ganhando de “Pulp Fiction” e “Coda” sobre “Ataque dos Cães”.
Ainda assim, este discurso de um distanciamento da Academia para com o público continua ecoando forte mesmo que as listas de indicados a Melhor Filme demonstrem que não houve um esquecimento dos blockbusters.
Desde que a ampliação para 10 indicados foi permitida a partir de 2010, somente em 2012, 2015 e 2021 se pode dizer que não tínhamos superproduções nomeadas. Vale destacar que a edição do Oscar do ano passado teve que enfrentar o fechamento dos cinemas por conta da pandemia da Covid-19, logo, muitas superproduções ficaram engavetadas.
Já em outros anos, não faltaram superproduções: 2010 teve “Avatar” e “UP”, no ano seguinte, “A Origem” e “Toy Story 3”; “As Aventuras de Pi” veio em 2013, enquanto “Gravidade” foi o blockbuster do ano do 7×1. Em 2016, tivemos o trio “Mad Max”, “Perdido em Marte” e “O Regresso”. “A Chegada” foi selecionado para o Oscar 2017, “Dunkirk” em 2018 acompanhado do sucesso estrondoso de “Corra” e 2019 teve “Pantera Negra”, “Bohemian Rhapsody” e “Nasce uma Estrela”. O ano seguinte foi mais modesto com apenas “Ford Vs Ferrari” e, por fim, neste ano, “Duna” e também dá para considerar “Não Olhe Para Cima” com o seu superelenco.
A tese de que o Oscar ficou mais elitista, porém, encontra um argumento sólido: os índices de audiência. A queda do número de telespectadores ocorre progressivamente desde 2015 quando a cerimônia teve 36,6 milhões de espectadores para atingir o número mais baixo em 2021 com modestos 10,4 milhões.
As tentativas de reverter estes índices como enxugar a cerimônia, eleição para filme popular e novos apresentadores não deram muito certo. A defesa de mais blockbusters continua forte e o retorno dos cinemas pode servir para fazer esta prova dos 9.
E atual temporada conta com bastante candidatos para tornar a corrida rumo ao Oscar mais popular. Neste vídeo, os seis filmes que se credenciam para estes postos.
AVATAR 2
Foram mais de 12 anos de espera e, agora, “Avatar 2” retorna aos cinemas prometendo mais uma revolução técnica.
Com estreia prevista para 15 de dezembro, a continuação do sucesso bilionário de 2009 deve trazer a excelência técnica já esperada de uma superprodução de James Cameron. O obstinado diretor criou uma cabine submarina e realizou muitas das gravações debaixo da água, utilizando 4 milhões de litros para rodar as cenas do oceano de Pandora.
Este tipo de ousadia sempre é bem-vista pela indústria, fortalecendo as chances do Cameron em Melhor Direção. “Avatar 2”, com certeza, irá dominar as categorias técnicas, sendo, um dos líderes em nomeações com tranquilidade.
O mistério fica em Melhor Filme: a sequência é a grande aposta da 20th Century Studios/Disney para o Oscar. Caso consiga ser um sucesso de bilheteria e receber boas críticas, acho que alcança a indicação, o que colocaria “Avatar” no mesmo patamar de “O Senhor dos Anéis”, “Mad Max”, “O Poderoso Chefão” e “Toy Story” como continuações em Melhor Filme.
WAKANDA FOREVER
Por falar em sequência, “Wakanda Forever” deseja recolocar a Marvel na categoria máxima.
A continuação de “Pantera Negra” irá apostar no poder feminino para substituir Chadwick Boseman, morto em 2020. A homenagem ao ator, aliás, deve render um dos momentos mais emocionantes do cinema no ano. O trailer demonstrou um tom menos festivo das demais obras da Marvel e aponta um engajamento ainda maior na cultura negra já exaltada pelo Ryan Coogler no longa anterior.
“Pantera Negra” foi um fenômeno pop de inclusão e representatividade. “Wakanda Forever” pode ser isso para as mulheres negras, porém, terá a concorrência de “A Mulher Rei” pelo mesmo nicho. O sucesso nas bilheterias previsível para um longa Marvel joga a favor da produção, mas, neste momento, vejo garantida onde se deu bem no Oscar 2019 como Figurino, Design de Produção, Maquiagem e Penteado, além de Efeitos Visuais.
A MULHER REI
Talvez a Viola Davis fique chateada comigo como vocês podem ver na crítica do Cine Set, mas, “A Mulher Rei” chega com status de blockbuster para a temporada de premiações.
Afinal, o filme da Sony Pictures vai no cinemão de ação para trazer a história de uma legião de mulheres negras guerreiras na África. Sequências espetaculares não faltam na produção com orçamento de US$ 50 milhões. Os elogios da imprensa, a boa repercussão junto ao público – exceto a chiadeira dos retrógrados de sempre –, a representatividade negra e a presença da Viola Davis deixam “A Mulher Rei” com boas chances sim.
A questão é saber se o filme se sustenta até a virada do ano com a chegada de vários candidatos. Talvez este lançamento agora em setembro seja um grande risco para as pretensões de “A Mulher Rei”.
ENTRE FACAS E SEGREDOS 2
A indicação a Roteiro Original de “Entre Facas e Segredos” foi uma forma da Academia reconhecer um dos melhores suspenses dos últimos anos. Quem sabe a continuação não tem melhor chance no Oscar 2023?
Com o Rian Johnson e o Daniel Craig de volta, “Glass Onion” traz um novo elenco repleto de nomes conhecidos. O filme teve excelente repercussão em Toronto – aprovação de 90% no Rotten Tomatoes, 81% no Metacritic e terceiro lugar na preferência do público.
Com “Bardo” naufragando após ir muito mal em Veneza e “Ruído Branco” sem empolgar, “Entre Facas e Segredos 2” se tornou a aposta mais forte da Netflix para o Oscar. Além de Melhor Filme, vejo possibilidade para a Janelle Monáe elogiadíssima em Atriz Coadjuvante e novamente em Roteiro Original.
ELVIS
A Warner Bros se jogará no rock n´roll de “Elvis” para garantir a ida ao Oscar 2022.
Lançado no Festival de Cannes com 10 minutos de aplausos, o filme chega com apelo popular após ter arrecadado US$ 285 milhões nas bilheterias mundiais. Austin Butler interpretando o Rei do Rock e sua indicação certa a Melhor Ator é o carro-chefe para o longa chegar na categoria máxima. Categorias como design de produção, figurino, maquiagem e penteado também são certas e “Elvis” tem tudo para ser nomeado também em montagem.
Sempre é bom, porém, ficar atento à rejeição que o estilo extravagante do Baz Luhrmann causa em partes da indústria. Muita gente torce o nariz para os maneirismos do australiano e “Elvis” passa longe de ser uma cinebiografia das convencionais que sempre explodem por aí.
Agora, sinceramente, se “Bohemian Rhapsody” foi indicado, seria um absurdo “Elvis” ficar de fora.
TOP GUN – MAVERICK
E finalmente chegamos à maior bilheteria de 2022 com US$ 1.4 bilhões já arrecadados no planeta inteiro.
Com muita nostalgia e uma trama para lá de simples, “Top Gun: Maverick” encantou o mundo ao trazer o melhor que o cinema de ação pode fazer. Tudo isso com o charme e a coragem de Tom Cruise para as loucas sequências de aventura.
“Top Gun” dará check em categorias técnicas como som e montagem. O Tom Cruise em Melhor Ator parece improvável; somente uma pressão popular muito grande para ajudá-lo a ter uma mísera chance e, mesmo assim, ainda seria bastante difícil.
Agora, em Melhor Filme, vejo totais condições até por ser uma obra capaz de agradar os mais diversos votantes e há o apelo popular que a Academia tanto procura.
Mesmo com “Babilônia” dividindo as atenções na Paramount Pictures, “Top Gun: Maverick” chega forte para estar entre os finalistas do Oscar 2023.
