De “Homem-Aranha Através do Aranhaverso” a “The Boy and the Heron”, Caio Pimenta analisa as chances dos candidatos ao Oscar 2024 de Melhor Animação.

AZARÕES

Queridinhos da cinefilia estão chegando ao Oscar 2024 com carinha de azarão. 

São os casos dos candidatos vindos do Oriente: “The First Slam Dunk” arrecadou mais de US$ 250 milhões nas bilheterias, arrancou elogios da crítica ao trazer para os cinemas um hit dos mangás de esporte do Japão, capaz de agradar aos fãs e também trazer novos adeptos. Já “Suzume” mantém a força do Makoto Shinkai após os sucessos de “Your Name” e “O Tempo com Você”, ambos ignorados pelo Oscar. 

Ambos, entretanto, terão a sombra do Hayao Miyazaki, o qual deve ocupar a vaga internacional da categoria neste ano. Por este motivo, também considero improvável a presença de “Atiraram no Pianista”, filme de abertura do Festival do Rio 2023, dirigido pela dupla Javier Mariscal e Fernando Trueba com a Bossa Nova em destaque. Ainda que tenham levado “Chico e Rita” para o Oscar na edição de 2012, desta vez, porém, acho uma missão impossível. 

CORRENDO POR FORA 

Subindo para os candidatos correndo por fora, um velho conhecido da categoria busca o retorno. 

Continuação do indicado de 2014, “Ernest & Celestine: A Trip to Gibbertia” concorreu ao César neste ano e acompanha os dois no retorno à terra natal de Ernest para o conserto de um violino quebrado e descobrem que a música foi proibida em todo país. Apesar de ter sido bem-recebido, soa como um candidato muito distante para sonhar com a indicação. 

O polonês “The Peasants” aposta as fichas nas técnicas de animação que levaram “Com Amor, Vincent” ao Oscar da categoria em 2018. A ousadia e dificuldade de execução da proposta sempre são bons fatores para os votantes, porém, chegar com menos hype do que “Flee”, produção que conseguiu o feito da dobradinha de aparecer em Filme Internacional e Animação. 

Ruby Marinho” estreou nos cinemas e ninguém de bola. A Netflix também lançou e o resultado foi igual. Ainda que o estúdio tenha caído nas graças da Academia após a conquista de “Pinóquio” neste ano, apostar no filme é ser otimista demais. Se os dois primeiros filmes não conseguiram, por que acreditar que o terceiro “Trolls” fará diferente? 

O time que está correndo por fora fica completo com “O Inventor”, stop-action sobre a ascensão de Leonardo Da Vinci. A pergunta é saber se a Blue Fox terá grana suficiente para fazer o filme ter visibilidade na temporada. Acho que não. 

GRANDES CHANCES

Os próximos seis filmes estão brigando por duas vagas. O páreo inclui uma das maiores bilheterias deste ano. 

Segundo maior bilheteria de 2023 com mais de US$ 1,3 bilhão arrecadados ao redor do planeta, “Super Mario Bros” foi uma verdadeira surpresa por ter ido tão longe. O visual colorido, a história simples e o ritmo acelerado corresponderam às expectativas de uma geração nostálgica dos videogames e também à garotada.  

Apesar disso tudo, verdade seja dita não se trata de nada memorável; é, no máximo, um filme correto, divertido, dá para o gasto. Se for indicado será mais pelo sucesso do que pela qualidade em si. 

A Fuga das Galinhas: A Ameaça dos Nuggets” pode ser uma forma da Academia indicar uma animação tão importante para o stop-motion como foi o original. O primeiro longa da série foi lançado em 2000, época em que a categoria nem existia. A estreia acontecer no Festival de Londres mostra a expectativa em relação à produção que contará com apoio da Netflix. 

O serviço de streaming ainda tem a disposição “Nimona”. O filme teve boa recepção pelo público e mais discreta pela crítica. Traz o protagonismo feminino em voga, algo sempre bem avaliado, especialmente, na animação. Se a Netflix ficar com uma vaga como ocorre desde 2020 estará no páreo. 

Apesar de ser uma das franquias mais saturadas da atualidade graças aos inúmeros filmes caça-níqueis, “As Tartarugas Ninjas – Caos Mutante” despertou atenção pelo envolvimento de Seth Rogen como roteirista, a dupla Trent Reznor e Atticus Ross como compositores da trilha e uma animação de ritmo mais frenético e urgente. E é aqui, neste último ponto, que pode residir o maior problema de uma possível indicação: se é para prestigiar este tipo de característica no gênero, por que não ir beber na fonte logo com “Aranhaverso”? Para que nomear os dois? Como o filme da Sony Pictures está consolidado, quem pode dançar são justamente os quatro irmãos. 

“Wish” chega com a missão de, pelo menos, manter a Disney no predomínio no número de indicados da categoria após perder a dianteira para a Netflix em 2023. Porém, uma nova história de princesa autônoma acompanhada de um bichinho fofinho indo a um reino mágico parece um grande mais do mesmo.  

Que o lançamento da aventura me desminta, mas, não boto fé em “Wish”. 

OS FAVORITOS

Chegamos aos três favoritos da categoria. O primeiro deles tem menores chances, mas, ele já mostrou que não é bom considerá-lo carta fora do baralho. 

“Elementos” mal estreou e já era visto como um flop da Disney/Pixar. A primeira semana nada animadora parecia confirmar, porém, à medida em que as semanas passavam, a animação se recuperou de tal forma que, hoje, soma quase US$ 500 milhões, maior parte arrecadado fora dos EUA. Ainda que lembre bastante Divertida Mente” ao apostar em personagens abstratos como protagonistas, a beleza da história de conciliação entre opostos traz uma universalidade comovente capaz de tocar a maioria de quem o assiste. 

Não dá também para esquecer o momento em que estamos vivendo com a guerra na Ucrânia e o conflito entre israelenses e palestinos, além do tensionamento proveniente das eleições norte-americanas. Premiar “Elementos” passaria uma mensagem política e humanitária que a Academia nunca deixa de lado.    

Fora que a última vez em que a Disney/Pixar ficaram dois anos consecutivos sem vencer Melhor Animação foi lá nas temporadas 206/2007, época em que só eram três concorrentes por categoria. Logo, não dá para subestimar jamais a força do estúdio.

“The Boy and the Heron” chega com a grife de Hayao Miyazaki. Saindo da aposentadoria, o mestre do Studio Ghibli chega com mais uma produção apontada como clássico pela imprensa internacional após o excelente lançamento no Japão e a passagem pelo Festival de Toronto.  

O Miyazaki é uma lenda tão grande e reverenciada mundo afora que isso abafa qualquer ausência dele do corpo a corpo necessário para vencer o Oscar. E a vitória de “A Viagem de Chihiro” foi prova disso ao ganhar dos grandes estúdios de Hollywood em 2003.  

Também vejo uma possibilidade da categoria de Melhor Animação ainda se mostrar antenada com o restante da Academia, afinal, o Oscar vem dando vitórias importantes, incluindo, Melhor Filme para produções de língua-inglesa. Já a categoria parou no tempo e poderia encontrar em “The Boy and the Heron” justamente uma forma de se redimir. 

Para tanto, porém, Miyazaki terá pela frente Homem-Aranha Através do Aranhaverso. A continuação da aventura premiada na categoria em 2019 dobra a aposta de forma espetacular ao mudar o foco do protagonismo, explorar como nenhum outro filme ao multiverso – perdão fãs de “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” – a partir de uma montagem completamente ensandecida, mas, também coesa, e, para completar, nos diversos tipos de animação se sucedendo a toda velocidade com uma execução impecável.  

Para além disso, a história abre caminhos corajosos para um público tão conservador como os fãs de HQs e nerds. O calcanhar de Aquiles, entretanto, pode ser a maneira como “Aranhaverso” se fecha, pois, fica tudo tão aberto que pode fazer com que muitos votantes da Academia prefiram guardar a estatueta para o terceiro longa e abrir caminho para um outro vitorioso neste ano. Seria a repetição da novela que ocorreu com “O Senhor dos Anéis”. 

Diante deste cenário, cada vitória em um evento pré-Oscar é fundamental para este caminho. 

SE AS INDICAÇÕES FOSSEM OS HOJE, OS FINALISTAS SERIAM…

  • “Homem-Aranha Atráves do Aranhaverso” 
  • “The Boy and the Heron” 
  • “Elementos”
  • “Fuga das Galinhas 2”
  • “Super Mario Bros” 

A surpresa, se acontecer, deve ficar com “As Tartarugas Ninjas”.