Caio Pimenta projeta quantas vitórias “Oppenheimer” deve ter na festa do Oscar 2024.

HISTÓRICO DOS ÚLTIMOS ANOS

Desde a conquista esmagadora de “Quem Quer Ser um Milionário?” em 2009 ao vencer oito das 10 categorias em que concorria, o Oscar vinha distribuindo mais os prêmios. Tanto que tivemos muitas temporadas em que o maior premiado da noite não passava de cinco conquistas. 

Em 2010, por exemplo, “Guerra ao Terror” levou seis estatuetas douradas, o dobro de “Avatar”, o maior rival daquela noite. No ano seguinte, “O Discurso do Rei” venceu quatro prêmios, mesmo número de “A Origem” e uma a menos do que “A Rede Social”. O Artista e “A Invenção de Hugo Cabret” fizeram um duelo cabeça a cabeça com cada um levando 5 prêmios. “Argo” pode até ter levado Melhor Filme, mas, em 2013, foi “As Aventuras de Pi” quem levou mais Oscars: quatro a três no duelo entre Ang Lee e Ben Affleck.  

O Oscar 2014 foi bem peculiar: “Gravidade” teve mais que o dobro de estatuetas de “12 Anos de Escravidão”, mas, perdeu Melhor Filme para o Steven McQueen. Foi o mesmo número de conquistas que “Clube de Compras Dallas”. Já na temporada seguinte, “Birdman” e “O Grande Hotel Budapeste” dividiram o topo com quatro vitórias cada seguidos de perto por “Whiplash” com três. 

A conquista de “Spotlight” também foi bem peculiar: o drama de jornalismo investigativo ganhou duas estatuetas, incluindo, Melhor Filme. Seus maiores rivais, “Mad Max – Estrada da Fúria” e “O Regresso” venceram, respectivamente, seis e três prêmios. A situação se repetiu com “La La Land” ganhando seis categorias, mas, “Moonlight” prevalecendo com três estatuetas.  

Se “A Forma da Água” reinou com quatro Oscars 2018, “Green Book” teve três conquistas no ano seguinte, resultado semelhante a “Pantera Negra” e “Roma”. O maior vencedor da noite, entretanto, foi “Bohemian Rhapsody” com quatro prêmios. Já “Parasita” venceu quatro das seis categorias em que disputa na temporada de 2020. 

No Oscar da pandemia, “Nomadland” levou três prêmios no ano mais pulverizado. “Mank”, “Judas e o Messias Negro”, “O Som do Silêncio”, “Meu Pai”, “A Voz Suprema do Blues” e “Soul” tiveram cada duas estatuetas. “Duna” pode até ter levado seis prêmios há dois anos, mas, “Coda – No Ritmo do Coração” conquistou Melhor Filme com mais estatuetas apenas. 

O domínio absoluto de um filme só voltou a se repetir apenas em 2023 quando “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” promoveu uma lavada com sete prêmios em 11 indicações. Venceu Melhor Filme, Direção, três categorias de atuação e Roteiro Original. 

POUCAS CHANCES

A tendência é que a história se repita em 2024 com “Oppenheimer” favorito a promover o rapa na festa. São poucas as categorias que o sucesso do Nolan corre risco de derrota 

Nas categorias técnicas, será bem complicado para a superprodução conquistar a estatueta de Melhor Figurino. Apesar da precisão no cuidado histórico do vestuário trazido pela Ellen Mirojnick e o carinho que a Academia tem com dramas de época na categoria, “Oppenheimer” encara dois rivais pesos-pesados: de um lado, “Barbie” com a bicampeã Jacqueline Durran, e “Pobres Criaturas” com a Holly Waddington. A extravagância e o extremo colorido de ambos os colocam bem à frente da corrida. Seria uma surpresa grande se o resultado for diferente. 

Apesar do prêmio no sindicato da categoria entre os filmes de época, Direção de Arte é outro prêmio que “Oppenheimer” não deve passar perto no Oscar. Novamente culpa de “Barbie” e “Pobres Criaturas”. O primeiro recria à perfeição décadas de brinquedos que marcaram o imaginário infantil, enquanto o segundo, também vencedor do sindicato da categoria entre as obras de fantasia, mescla fantasia com reconstituição de época esbanjando excentricidade. Bem diferente do trabalho mais sóbrio da dupla Ruth De Jong e Claire Kaufman. O maior ativo delas é levantar Los Alamos, a cidade do Projeto Manhattan, do zero no meio do deserto. 

“Oppenheimer” também terá muitas dificuldades de conquistar Melhor Atriz Coadjuvante com a Emily Blunt. Até o momento, o domínio absoluto da Da´Vine Joy Randolph impede a britânica de sequer sonhar com a vitória. A estrela precisaria demais torcer por uma avalanche capaz de reverter o cenário, o que parece bastante improvável. 

CHANCES MÉDIAS

Há três categorias em que o longa do Nolan vive incertezas. 

Maquiagem e Penteado é um deles: nota-se um cuidado grande de “Oppenheimer” no visual dos personagens, especialmente, com Robert Downey Jr como Lewis Strauss. A reconstituição de figuras históricas pode pesar, mas, o trabalho do Kazu Hiro em “Maestro” soa mais chamativo para a Academia. Também não dá para esquecer de “Pobres Criaturas” em que chama a atenção o Frankenstein do Willem Dafoe. A Luisa Abel corre por fora, mas, pode surpreender. 

Roteiro Adaptado também é um mistério: o Nolan pode lembrar do que houve ano passado quando o Oscar consagrou “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” nas principais categorias sem querer dividir prêmios com ninguém. E por ele ser um roteirista com já três indicações anteriores, os votantes podem enxergar a oportunidade de reconhecer o talento dele aqui também.  

Por outro lado, a temporada reserva trabalhos brilhantes em obras que não terão maior reconhecimento em Direção e Filme. Logo, por que não premiar a Greta Gerwig e Noah Baumbach por “Barbie”? Ou a sátira com cutucadas importantes do Cord Jefferson em “Ficção Americana”? Quem sabe o Tony McNamara e a inteligência de “Pobres Criaturas”?  

Depende demais do grau de consagração que a Academia esteja disposta a dar para “Oppenheimer”. Chega com grandes chances de vitória ainda que não dê para cravá-la. 

Paul Giamatti ou Cillian Murphy? A corrida de Melhor Ator pode até apontar para o protagonista de “Os Rejeitados”, mas, o irlandês carrega o título do filme do ano e aparece durante quase todo o longa. O SAG deve ser fator decisivo para saber quem leva a categoria. 

FAVORITISMO ABSOLUTO

De agora em diante, “Oppenheimer” caminha para vitórias tranquilas. 

Pensar na superprodução sem o impressionante Som e Trilha Sonora que conduzem o espectador ao longo do filme simplesmente não existe. São conquistas certas. Consideradas as duas categorias técnicas mais importantes, Montagem e Direção de Fotografia vão para o épico do Nolan. 

O trabalho da Jennifer Lame é um dos mais desafiadores dos últimos anos, pois, consegue imprimir uma intensidade e velocidade absurda para um filme de três horas de duração focado em diálogos. Se você não sente o passado e consegue compreender tranquilamente todas as informações com dezenas de personagens, muito desta responsabilidade passa por ela.  

Já o Hoyte Van Hoytema se aproxima da primeira conquista em Direção de Fotografia após duas indicações. Conseguir filmar em IMAX sem perder o intimismo que a história e o protagonista pediam, com certeza, irá levar os votantes da Academia em peso a escolhê-lo como ganhador. 

A conquista do Robert Downey Jr. parece também mais do que certa. O carisma e o carinho da indústria pelo astro se unem à ótima interpretação do empresário invejoso pelos feitos de Oppenheimer. Somente algo completamente fora do comum tira esta estatueta de Ator Coadjuvante dele. 

Como era esperado, o DGA, prêmio do Sindicato dos Diretores, ficou com o Christopher Nolan. Neste século, somente as conquistas do Steven Soderbergh Roman Polanski, Ang Lee e Bong Joon-Ho no Oscar divergiram do DGA. Logo, a tendência é que os resultados dos dois eventos se repitam. 

Por fim, Melhor Filme caminha para ficar nas mãos de “Oppenheimer”. Todas as vitórias nos principais precursores do Oscar, o sucesso de bilheteria e crítica, não ter tanta resistência contra ele, fora o simbolismo de prestigiar os filmes originais e adultos em meio a tantas continuações são fatores que tendem a ser decisivos a favor de Nolan e cia. 

No fim das contas, prevejo que “Oppenheimer” conquiste oito Oscars, superando “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” e igualando “Quem Quer Ser um Milionário?”, “Amadeus“, “A um Passo da Eternidade”, “Cabaret”, “Gandhi”, “Sindicato de Ladrões” e “E o Vento Levou“.