Na sua carreira até agora, o diretor Robert Eggers tem se mostrado um grande explorador do poder de isolamento. Se seu filme anterior, “A Bruxa”, almejava observar como o puritanismo religioso atuava na mente de pessoas longe da civilização, em “O Farol”, seu novo projeto, a agente provocadora é a solidão e a não-conformidade da vida em sociedade.
Os únicos personagens reais são Winslow (Robert Pattinson) e Tom (Willem Dafoe), encarregados de vigiar e manter um farol por quatro semanas. Sozinhos, a relação deles é mediada por abuso e dependência, com o mar impiedoso os lembrando de sua pequenez diante do mundo que o cerca. Aos poucos, Winslow começa a ter visões de uma perigosa sereia, as gaivotas do lugar parecem cada vez mais hostis e a realidade passa a ser muito, muito dúbia.
Monstros da própria mente
Ainda que a premissa carregue certos pontos de semelhança com “A Bruxa”, Eggers claramente mudou sua abordagem: se seu predecessor mostrava uma história de tempos passados com uma pegada moderna, o novo longa é revisionista tanto em forma quanto em conteúdo.
Filmado em preto e branco, num formato próximo ao de um quadrado (1:1.19), a produção aparenta ser a sua versão dos filmes de monstro dos anos 1930. Até o fato de que a Universal – estúdio que obteve fama com obras do estilo – estar encarregada do projeto reforça essa conexão.
Por conta do formato, a câmera está sempre perto do campo de ação, mantendo a plateia sufocantemente perto de Winslow e sua degradação mental. A exaustão física e o eventual abuso de álcool acelera um processo que tem um começo indefinido: com flashbacks sugerem que um episódio da vida do personagem teria sido determinante para o início de seus problemas mentais.
Acolhimento e tirania
Sua relação com Tom se torna explosiva, uma vez que as demandas emocionais de cada um se tornam parasitárias. Winslow almeja um senso de acolhimento e pertencimento que nunca teve em lugar nenhum; Tom, por outro lado, é um impotente que deseja ser validado exercendo um poder quase tirânico sobre qualquer um que se aproxime.
Em suas brigas, seus estados de espírito se convulsionam e a natureza de sua interação muda minuto a minuto – em certo momento, eles chegam até a parecer amantes. No entanto, a única linguagem que entendem é a da brutalidade, e a ela que recorrem quando as circunstâncias ao redor do farol fazem com que seu círculo de confiança seja quebrado.
“O Farol” leva seu tempo em estabelecer essa dinâmica e isso pode impedir o longa de fisgar a plateia fiel aos filmes de horror. Apesar disso, quando os níveis de insanidade disparam, Eggers choca os espectadores com a verdade mais simples de todas: o lado mais obscuro dos seres humanos é o de dentro.