De Billie Eilish em Canção Original aos Efeitos Visuais de “Godzilla Minus One”, Caio Pimenta analisa as categorias técnicas do Oscar 2024.

O FAVORITISMO DE ‘OPPENHEIMER’

Nas categorias técnicas, “Oppenheimer” é franco favorito em três delas a ponto de simplesmente não ter rivais para ele. 

Impossível um resultado oposto à conquista do Ludwig Goransson em Melhor Trilha Sonora. Será a segunda estatueta dele: venceu anteriormente no Oscar 2019 com “Pantera Negra”. Falta de sorte gigantesca do Jerskin Fendrix, por “Pobres Criaturas”, e do lendário Robbie Robbertson, de “Assassinos da Lua das Flores”: ambos poderiam ter chances em outras temporadas, mas, aqui não conseguem espaço. 

Chama atenção ainda a esnobada da Mica Levi: acredito que se ela estivesse por “Zona de Interesse” haveria uma mínima possibilidade de vitória pelo impacto que a composição dela tem no longa do Jonathan Glazer. 

Premiado no Bafta e no Critics Choice, “Oppenheimer” está tranquilo tanto em Direção de Fotografia quanto em Montagem. São dois trabalhos de excelência executados, respectivamente, pelo Hoyte Von Hoytema e a Jennifer Lame, e fundamentais para ampliar o poder da história como na contundência do ritmo da obra. 

A tendência é que esta certeza seja ainda maior no último semana antes do Oscar: no dia 3 de março, os sindicatos das duas categorias irão divulgar os vencedores das suas premiações. “Oppenheimer” deve levá-los sem maiores dificuldades. 

A próxima categoria ficou mais embaralhada após o Bafta. 

“Oppenheimer” caminhava para uma vitória tranquila em Melhor Som. Somente a cena do teste da bomba seria suficiente para a superprodução do Christopher Nolan justificar a conquista. A vitória de “Zona de Interesse” no prêmio britânico, porém, colocou um grande holofote sobre o trabalho de extracampo e que coloca latente todo o conceito da produção. 

Aqui, vai muito do perfil dos votantes e daquilo que eles queiram consagrar: de um lado, um trabalho de som evidente, muito perceptível para qualquer tipo de público, e do outro, uma sofisticação maior visando uma construção para além daquilo que a imagem apresenta. Talvez o peso da Montagem, setor muito ligado ao Som, possa dar a vantagem a “Oppenheimer”, mas, não será surpresa alguma caso “Zona de Interesse” saia vencedor. 

“POBRES CRIATURAS” X “BARBIE”

Já “Pobres Criaturas” e “Barbie” vão travar duelos interessantes em Direção de Arte e Figurino. 

No Bafta, as duas categorias foram conquistadas pela comédia do Yorgos Lanthimos. Já no sindicato dos figurinistas, cada um obteve uma vitória: “Barbie” ganhou entre os filmes de fantasia, enquanto “Pobres Criaturas” levou sobre os filmes de época. Já no sindicato dos diretores de arte, o confronto foi direto com a conquista da dupla James Price e Shona Heath. 

Para o Oscar, eu prevejo duas vitórias de “Pobres Criaturas”. Por melhor que sejam os figurinos e a direção de arte de “Barbie” dando vida e personalidade para brinquedos imortalizados na memória popular, o filme da Greta Gerwig parece bem enfraquecido no atual estágio da temporada, situação oposta ao longa com a Emma Stone. Fora que a comédia da Searchlight Pictures consegue transitar tanto entre a fantasia e os filmes de época com muita habilidade. Logo, a Academia pode encontrar nele uma obra que agrade todas as alas. 

“Barbie”, entretanto, não deve sair de mãos vazias do Oscar 2024. 

A Billie Eilish chega como a grande favorita para vencer Melhor Canção Original com “What Was I Made For?”. No início do mês, ela levou o Grammy de Canção do Ano, o que a coloca em posição confortável no Oscar, afinal, se o prêmio da música a consagrou, por que a Academia faria diferente? A única possibilidade de um resultado diferente seria se os votantes ficassem com pena do Ryan Gosling pela mais do que certa derrota em Ator Coadjuvante e decidirem por uma consolação aqui com “I´m Just Ken”. Cenário bem improvável. 

Se tudo ocorrer como esperado, a Billie Eilish se torna a pessoa mais jovem da história do Oscar a vencer duas estatuetas: a californiana tem apenas 22 anos. A recordista até hoje é a Luise Rainer, premiada nos anos 1930 em Melhor Atriz, que, na época da segunda conquista, ela tinha 28 anos. 

MAQUIAGEM E EFEITOS VISUAIS

Maquiagem e Penteado deve ficar nas mãos de “Maestro”. A produção do Bradley Cooper ganhou o sindicato da categoria, superando “Oppenheimer” e “Pobres Criaturas”, justamente seus principais rivais no Oscar. O Bafta, entretanto, optou pela Nadia Stacey da comédia do Yorgos Lanthimos. 

Ainda que “Pobres Criaturas” tenha chances, acredito que a força do Kazu Hiro, ganhador de dois Oscars na categoria, deva pesar a favor de “Maestro” assim como toda a caracterização que atravessa décadas dos personagens do Bradley Cooper e Carey Mulligan. É o típico trabalho que a Academia costuma prestigiar como provam as conquistas de “Os Olhos de Tammy Faye”, “O Escândalo”, “Vice” e “O Destino de uma Nação”. 

Por fim, Efeitos Visuais é a categoria do alívio em que o centro das atrações não são os principais favoritos da temporada. 

“Resistência” chega forte como o candidato a ser batido: a ficção científica do Gareth Edwards ganhou cinco prêmios no Visual Effects Society Awards, principal prêmio do setor nos EUA. Apesar da dianteira, não descartaria uma possível reação de “Godzilla Minus One”: a produção japonesa repercutiu bem a ponto, inclusive, de elogios públicos de Steven Spielberg. E, claro, há “Pobres Criaturas” no páreo, ganhador do Bafta. 

A razão diz para ir em “Resistência” ou “Pobres Criaturas”, entretanto, vou ficar com “Godzilla Minus One”. Em uma disputa tão sem favoritos claros, o equilíbrio pode pesar na balança favoravelmente para o filme japonês.