“Oppenheimer”, “Assassinos da Lua das Flores” e “Pobres Criaturas” despontam como os favoritos a Melhor Filme. Até o momento, tudo indica que um deles será o vencedor do prêmio máximo do Oscar 2024. 

Claro que faltando ainda pouco mais de quatro meses para a festa muita água pode passar por debaixo desta ponte e mudar a configuração completa.

Neste vídeo, eu trago quais as sete produções que podem ameaçar os favoritos rumo ao Oscar 2024. 

MAESTRO

“Maestro” reúne um timaço de produtores que nenhum outro candidato tem nesta temporada de premiações. 

O longa da Netflix traz “somente” Bradley Cooper, Steven Spielberg, Todd Philips e Martin Scorsese como produtores. Seria uma grande oportunidade de premiar dois gênios juntos, especialmente, se “Assassinos da Lua das Flores” não vingar como esperado. 

A cinebiografia pode ainda conseguir um feito raro de vencer Melhor Ator e Atriz principal no mesmo ano, algo não obtido desde “Melhor é Impossível” em 1998. Vitórias como essas e ainda a possibilidade de beliscar Roteiro Original tornariam “Maestro” forte demais para ser deixado de lado em Melhor Filme. 

Nem mesmo a provável esnobada do Cooper em direção pode pesar tanto assim: vale lembrar as conquistas recentes de “Argo”, “Green Book” e “Coda – No Ritmo do Coração”, todos sem nomeação na categoria. Fora que a Netflix irá gastar tudo e mais um pouco para levar a estatueta após as decepções com “Roma” e “O Irlandês”, dando prioridade total a “Maestro”. 

Para completar, o Bradley Cooper é um nome muito prestigiado na indústria ainda sem Oscar. Trazer para as telas e a um público mais jovem toda a genialidade do Leonard Bernstein, um dos maiores compositores da história do show business dos EUA, é um fator que pode pesar ainda que cinebiografias estejam longe de vitórias em Melhor Filme – a última mais tradicional foi “Gandhi” há 40 anos. 

AMERICAN FICTION

Antes pouco comentado, “American Fiction” ganhou força após ganhar o prêmio de público do Festival de Toronto. 

A honraria também foi obtida por outros vencedores de Melhor Filme como “Carruagens de Fogo”, “Beleza Americana“, “Quem quer ser um Milionário?”, “O Discurso do Rei“, “12 Anos de Escravidão“, “Green Book” e “Nomadland”.  

Falando em histórico, primeiros longas de diretores a vencerem a categoria, como é o caso do Cord Jefferson, não é tão raro assim: que o digam Delbert Mann por “Marty”, Jerome Robbins em “Amor, Sublime Amor”, Robert Redford com “Gente como a Gente”, Kevin Costner por “Dança com Lobos” e Sam Mendes em “Beleza Americana”. 

Para quem diz que “American Fiction” não faz o perfil de vencedor de Melhor Filme por ser uma comédia ácida, basta lembrar que “Coda”, um coming of age fofinho, e “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”, uma ficção científica completamente maluca, foram os últimos ganhadores. Logo, uma produção ácida tocando em pontos incômodos do bom mocismo e do discurso politicamente correto sem deixar de ser engajado manteria uma tendência recente de premiações fora do tradicional. 

Ganhar Roteiro Adaptado superando os três favoritos da temporada poderia credenciar ainda mais a produção. Uma vitória do Jeffrey Wright em Ator completaria o serviço.  

OS REJEITADOS

 “Os Rejeitados” é o candidato com um pezinho na nostalgia, um sentimento sempre forte nos tempos atuais. 

Como diz a crítica do Lucas Pistilli no site do Cine Set direto do Festival de Londres, a dramédia remete ao melhor do cinema dos anos 1970 misturando feel good movie, humor ácido e um drama emocionante, conseguindo ser uma obra completa em que estas características se casam muito bem. 

Tudo isso a partir de um elenco no seu melhor, cada um com grandes chances de indicações em suas respectivas categorias, e um diretor/roteirista admirado em Hollywood como é o caso do Alexander Payne. 

O fim do ano deve alavancar ainda mais “Os Rejeitados”, afinal, trata-se de uma produção com temática natalina e deve obter bom destaque nas listas de melhores do ano da crítica. Igual “Coda”, vejo potencial no filme do Payne de conseguir cativar o público no decorrer da temporada, tornando-se aquela produção que vai sendo descoberta ao longo do tempo. Para completar, o favoritismo em Roteiro Original joga a favor do filme. 

A COR PÚRPURA

E “A Cor Púrpura”? Entra aqui apenas por ser um dos maiores mistérios da temporada. Digamos, então, que tudo dê certo e o musical do Blitz Bazuwale consiga chegar com chances a Melhor Filme. 

Não é de hoje que a Academia sonda premiar um musical em Melhor Filme. “La La Land” bateu na trave, enquanto o remake de “Amor, Sublime Amor” surgiu forte, mas, foi caindo ao longo da temporada. A produção da Warner poderia vingar o gênero, longe da vitória desde “Chicago”. 

Ser um raro musical que coloca negros em posição de protagonistas é daqueles tabus que a Academia não deixa passar. Se atrapalha as baixas chances em Roteiro Adaptado, por outro lado, a Danielle Brooks em Atriz Coadjuvante e a Fantasia Barrino em Atriz chegando com possibilidades de vitória fortalece a produção. 

Fora que seria uma forma da Academia corrigir a injustiça de ter ignorado solenemente a adaptação em 1986. O musical deste ano, aliás, tem produção do Steven Spielberg, diretor de “A Cor Púrpura” há quase 40 anos, além do genial Quincy Jones, Scott Sanders e da todo-poderosa Oprah Winfrey. 

NAPOLEÃO

“Napoleão” também segue o mistério de “A Cor Púrpura” sem ser lançado em lugar nenhum. Enquanto isso não acontece, ora, vamos especular. 

Dos veteranos diretores de Hollywood, o Ridley Scott, sem dúvida, é dos mais ativos na indústria sem Oscar. Ignorado por “Alien – O Oitavo Passageiro” e “Blade Runner”, seus maiores clássicos, ele chegou perto com “Gladiador”, mas, parou em Steven Soderbergh com “Traffic”. Logo, “Napoleão” pode servir para a Academia prestigiar um cineasta divisivo, mas, lucrativo para Hollywood. 

Prestigiar o épico estrelado pelo Joaquin Phoenix pode ser uma forma de fugir da possível polarização entre “Assassinos da Lua das Flores” e “Oppenheimer” ou evitar um filme menos popular como tende a ser “Pobres Criaturas”. 

“Napoleão” ainda ajudaria a colocar as superproduções de volta ao topo no Oscar: desde “O Senhor dos Anéis”, em 2004, filmes de escala épica não vencem Melhor Filme. Para tanto, o Ridley Scott vai precisar da ala internacional, principalmente, a europeia. 

A ZONA DE INTERESSE

Prestígio não falta para “A Zona de Interesse”, ganhador do Grand Prix em Cannes e uma das obras mais elogiadas de 2023. 

O Jonathan Glazer propõe um olhar considerado inovador sobre o Holocausto ao focar nos responsáveis pelo genocídio vivendo tranquilamente ao redor da barbárie. Para uma Academia em que esta temática sempre foi bem recebida, mas, hoje, traz um corpo votante renovado, “A Zona de Interesse” se mostra capaz de unir os dois lados da entidade a partir desta abordagem. 

Além disso, o filme tem capacidade de agradar as alas técnicas da Academia, seja na direção de fotografia, montagem e som, além dos roteiristas. Isso pode ajudar a compensar uma ausência de indicações em atuações em que, no máximo, mira a Sandra Huller em Coadjuvante. “A Zona de Interesse” chega com capacidade de ser o queridinho da corrente internacional do Oscar e, quem sabe, angariar forças no mercado americano. 

O maior empecilho é ajustar o tom da campanha em relação à guerra na Faixa de Gaza que divide Hollywood e o mundo cada dia mais. 

BARBIE

A última possível ameaça aos favoritos do Oscar 2024 responde pela boneca mais famosa do planeta. 

Se a Academia deseja tanto se conectar com o público novamente, “Barbie” é a aposta ideal. Para além de ser a maior bilheteria de 2023 com US$ 1.4 bilhão arrecadados ao redor do planeta, a produção se tornou um marco pop cultural como há muito não se via, lotando os cinemas de rosa. 

Prestigiado pela crítica, “Barbie” traz ainda a seu favor a pauta feminista de valorização das mulheres e também satirizando a sociedade patriarcal e machista em que estamos inseridos. Óbvio que tal aspecto pode sim gerar afastamento de uma parte dos votantes, porém, a força do casal Noah Baumbach e Greta Gerwig, adorados no cinema americano, é capaz de reverter possíveis resistências. E nada melhor do que uma vitória em Roteiro Original para deixar este cenário ainda mais palpável. 

A conquista de “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” no Oscar 2023 mostra como aquilo que parece improvável à primeira vista não é tão impossível de ocorrer. Uma vitória de “Barbie” casa com este momento de transformação da Academia, uma entidade que tenta ser mais diversa e inclusiva.