Dois dos principais precursores do Oscar aconteceram neste fim de semana: o SAG e o PGA Awards, respectivamente, os prêmios dos sindicatos dos Atores e Produtores dos EUA.

E ainda teve o Spirit Awards, o prêmio do cinema independente norte-americano. 

Hora de analisar os resultados rumo ao Oscar 2024.

A CONSAGRAÇÃO DE “OPPENHEIMER”

Não bastaram as conquistas do Globo de Ouro, Critics Choice, DGA e Bafta: “Oppenheimer” sacramentou o favoritismo neste fim de semana.  

A superprodução do Christopher Nolan foi a grande vencedora do SAG com três conquistas, incluindo, Melhor Elenco. Esta categoria, aliás, equivale a Melhor Filme na premiação do sindicato e foi obtida nos últimos anos por “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” , “Coda – No Ritmo do Coração” e “Parasita”. A última vez que o resultado não bateu com Melhor Filme do Oscar foi em 2021 com “Os Sete de Chicago”. 

“Oppenheimer” também faturou o PGA como já era esperado. Desde a criação do evento, em 1989, raras foram as vezes que não coincidiu com a categoria principal da Academia. Nos últimos seis anos, “A Forma da Água”, “Green Book”, “Nomadland” , “Coda” e “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” vencerem com os produtores e, depois, no Oscar. 

Por mais torcida que possa ter por alguma surpresa, não tem como evitar a consagração de “Oppenheimer” em Melhor Filme e Direção. Situação semelhante para Robert Downey Jr em Ator Coadjuvante e Da´Vine Joy Randolph em Atriz Coadjuvante: ambos venceram o SAG e permanecem sem rivais para o Oscar. A estrela de “Os Rejeitados” ainda venceu o Spirit Awards na categoria. 

Melhor Ator também consolidou a dianteira do Cillian Murphy: a campanha pesada que o irlandês topou fazer e a força de “Oppenheimer” simplesmente colocaram o Paul Giamatti eclipsado. A reta final com conquistas no Bafta e no SAG escancaram o favoritismo a ponto de deixar a categoria praticamente definida. 

Você sabe quando um ator venceu o Bafta e o SAG na mesma temporada e não levou o Oscar? Foi em 2003 com o Daniel Day-Lewis, por “Gangues de Nova York”. Na ocasião, ele acabou surpreendido pelo Adrien Brody, de “O Pianista”. Não acho que o raio irá bater duas vezes no mesmo lugar. 

“ARANHAVERSO” E “FICÇÃO AMERICANA” FORTES

Já em Melhor Animação, “Homem-Aranha Através do Aranhaverso” consolidou a força na categoria com o prêmio junto aos produtores. A conquista se soma ao Annie Awards, onde venceu sete categorias. “O Menino e a Garça”, entretanto, obteve o Bafta. A sensação é que haverá uma divisão clara: votantes norte-americanos ficarão com Miles Morales, enquanto o corpo internacional irá de Hayao Miyazaki. Neste panorama, vejo a produção da Sony Pictures Animation mais à frente e chegando como favorita. 

Entre as vitórias do Spirit Awards com alguma possibilidade de influência no Oscar está a conquista de “Ficção Americana” em Melhor Roteiro. O Cord Jefferson, que já havia vencido o Bafta na semana anterior, mostra que a sátira ao estereótipo dos negros na cultura norte-americana está sendo muito bem-recebida e pode fazer frente a “Oppenheimer” entre os adaptados. 

O MISTÉRIO DE MELHOR ATRIZ

Por fim, claro, a disputa mais equilibrada e imprevisível do Oscar 2024: Melhor Atriz será um mistério até o final para descobrir quem vai ser a vencedora. 

Emma Stone vinha dominando com inesperada tranquilidade até o último sábado. Venceu o Globo de Ouro, Critics Choice e o Bafta consecutivamente. Parecia imbatível. O SAG, entretanto, ficou com a Lily Gladstone, demonstrando como a ala norte-americana da Academia compreende a importância simbólica de premiar pela primeira vez uma intérprete de origem indígena na categoria. 

Será curioso ver como isso se reflete na Academia: teremos um repeteco de 2019 quando a Glenn Close levou o SAG, mas, a Olivia Colman ficou com o Bafta e o Oscar? Ou o inverso igual ocorreu no ano passado com a Cate Blanchett ganhando o prêmio britânico, mas, a Michelle Yeoh reinando nos EUA? 

Pode pesar contra a Emma Stone já ter uma estatueta e ser muito jovem para ganhar duas na categoria. Por outro lado, ela é a real protagonista de “Pobres Criaturas”, algo questionável sobre a Lily Gladstone em “Assassinos da Lua das Flores”. Porém, a narrativa da ganhadora da SAG é muito sedutora para a Academia. 

No meio disso tudo, à espera de um milagre da divisão de votos entre Lily e Emma, está a Sandra Huller, ganhadora do César, o prêmio máximo do cinema francês. Para tanto, a estrela de “Anatomia de uma Queda” terá que repetir o feito do Oscar 2000: a Annette Bening, de “Beleza Americana”, ganhou o SAG e o Bafta, mas, perdeu na Academia para a Hilary Swank, de “Meninos não Choram”.