De Leonardo DiCaprio a “Pobres Criaturas”, Caio Pimenta analisa as surpresas e esnobadas das listas de indicados ao SAG e DGA 2024.
AS SURPRESAS
Começo falando das surpresas e nenhuma delas foi maior do que “American Fiction”.
Esperava-se que a comédia satírica comandada pelo Cord Jefferson teria espaço apenas para o Jeffrey Wright em Melhor Ator. O SAG, entretanto, foi mais generoso ao indicar o Sterling K. Brown para Ator Coadjuvante e ainda o filme em Melhor Elenco.
Se ainda havia alguma dúvida, este desempenho coloca “American Fiction” garantido em Melhor Filme. O Jeffrey Wright, claro, irá precisar remar bastante para ter chances em Melhor Ator, mas, não o descarto totalmente. Já o Sterling K. Brown, outra surpresa do SAG, ganha impulso suficiente para brigar pelas últimas vagas de coadjuvante. O mistério fica saber sobre como desempenho fora dos EUA: na longlist do Bafta, por exemplo, ficou fora de Melhor Filme.
Até então apagado na temporada, “A Cor Púrpura” ressurgiu ao ser indicado em Melhor Elenco, além de Atriz Coadjuvante com a Danielle Brooks como era esperado. Por outro lado, a Fantasia Barrino parece cada vez mais distante em Melhor Atriz.
Para chegar ao Oscar, certamente será necessário um esforço concentrado do trio de produtores Steven Spielberg, Oprah Winfrey e Quincy Jones. Uma nomeação ao PGA seria decisiva para fortalecer “A Cor Púrpura”. De qualquer modo, a indicação ao SAG faz o musical respirar e a Warner tirar um dez com estrela, afinal, ainda emplacou “Barbie” em Melhor Elenco. A única notícia ruim é que, desde 2016, pelo menos um participante de Melhor Elenco fica fora de Melhor Filme na Academia. Se a sina se manter, você já sabe quem cai fora.
O Colman Domingo e a Annette Bening chamaram a atenção entre os indicados nas atuações principais.
O astro de “Rustin” se beneficia da importância histórica do protagonista, um dos maiores ativistas negros da história dos EUA, por nunca ter sido indicado e ter feito um grande ano – além do drama da Netflix, ele estrela “A Cor Púrpura”.
A protagonista de “Nyad” superou um filme bem médio para emplacar no SAG. Ajuda bastante a dobradinha com a Jodie Foster, também nomeada.
Em coadjuvante, o Willem Dafoe venceu a concorrência interna com o Mark Ruffalo em “Pobres Criaturas”. Igual ao Sterling K. Brown, o veterano luta pelas duas últimas vagas.
Já a Penélope Cruz é um fenômeno: chega à sexta indicação da carreira no SAG com “Ferrari”, drama do Michael Mann deixado de lado ao longo de toda temporada. Vai perder como sempre, mas, somente de estar é um feito e tanto.
OS ESNOBADOS
Hora de falar das esnobadas e, para variar, tem de sobras. A maior delas foi “Segredos de um Escândalo”.
Tudo o que o drama do Todd Haynes subiu nas últimas semanas desabou em uma única manhã. Ficou completamente de fora; nem mesmo o Charles Melton considerado como nome certo em Ator Coadjuvante escapou. Também fora do DGA, prêmio dos diretores, e com poucas chances no PGA, evento do sindicato dos produtores, “Segredos de um Escândalo” dependerá demais da ala internacional para dar a volta por cima.
No Bafta, entretanto, o longa somente conseguiu estar nas longlists de atriz coadjuvante com a Julianne Moore e Roteiro Original.
“Vidas Passadas” também se deu mal e não obteve nenhuma indicação.
Aqui, é um resultado menos chocante porque a Greta Lee era a única possibilidade real nas categorias individuais, mas, como Melhor Atriz está muito concorrido, era esperado que ficasse de fora.
Já Melhor Elenco, o SAG costuma prestigiar filmes com equipes numerosas – exceção foi ano passado com “Os Banshees de Inisherin”. De qualquer modo, “Vidas Passadas” sai com um desempenho abaixo nestes últimos dias somando o sindicato dos atores e o Globo de Ouro.
O SAG também praticamente exterminou com as chances de “Air – A História por Trás do Logo” e “Garra de Ferro”.
Fechando Melhor Elenco, “Pobres Criaturas” fora coloca novamente dúvidas sobre a comédia do Yorgos Lanthimos após a recuperação no Globo de Ouro.
Ficar ausente quando seus três maiores rivais a Melhor Filme estão concorrendo piora ainda mais o cenário.
Já o Leonardo DiCaprio também foi outro esnobado: a estrela de “Assassinos da Lua das Flores” perdeu a oportunidade de se tornar o maior indicado da história em Melhor Ator.
O fato do personagem do DiCaprio ser uma figura asquerosa, mesquinha, disposto a matar a própria mulher para ganhar uns trocados a mais pode ter pesado nesta decisão. Parece bobagem, mas, acredite isso acontece, especialmente, quando a comparação é contra um personagem símbolo dos direitos dos movimentos civis negros nos EUA como é o caso do Rustin Bayard.
Para o Oscar, entretanto, talvez, a ala internacional possa pender a balança a favor de “Assassinos da Lua das Flores”.
Em Melhor Atriz, além da Greta Lee e Fantasia Barrino, chamou a atenção a ausência da Cailee Spaeny.
A jovem estrela de “Priscilla” se ressente de um filme que não consegue avançar na temporada, apesar da qualidade.
Já a Sandra Huller mantém a tradição de candidatos internacionais deixados de lado no SAG. Nada que a ala europeia da Academia não possa resolver no Oscar.
O Mark Ruffalo sofreu um baita baque ao ficar fora de Ator Coadjuvante. Imaginava-se que o Willem Dafoe quem dançaria ou até mesmo os dois seriam nomeados.
O ‘Hulk’, porém, não contava com o Sterling K. Brown e foi esnobado. Ainda assim, não acho que diminua as chances dele rumo ao Oscar; tem boas possibilidades de estar na festa do dia 10 de março.
Já em Atriz Coadjuvante, a Rachel McAdams e a Rosamund Pike cada vez mais se veem distantes do Oscar.
A estrela de “Saltburn”, pelo menos, pode tentar um último impulso no Bafta, enquanto a fofíssima mãe da protagonista de “Crescendo Juntas” está em um filme injustamente ignorado.
Nem mesmo o monólogo ‘chama Oscar’ da America Ferrera convenceram o sindicato; tendência é seguir sendo esnobada.
SINDICATO DOS DIRETORES
O DGA foi bem previsível: novamente, somente os diretores de filmes de língua inglesa. Com isso, Justine Triet e Jonathan Glazer dançaram.
A novidade da lista ficou por conta do Alexander Payne, de “Os Rejeitados”. O Christopher Nolan segue sendo o grande favorito no sindicato dos diretores.
Celine Song e Cord Jefferson vão travar um duelo interessante em diretor estreante. Acho que a cineasta de “Vidas Passadas” acaba vencendo.
Dos esnobados, apenas fica muito claro que o Bradley Cooper já era.