Caio Pimenta analisa o retorno de Jimmy Kimmel ao comando do Oscar, as definições para o elenco de “Babilônia” e as nomeações ao European Film Awards.

EUROPEAN FILM AWARDS

Começo com um dos principais eventos do cinema do Velho Continente, o European Film Awards. As indicações saíram na última quarta-feira, dia 8, e consolidaram os filmes fortes da temporada vindos da Europa. 

O sueco “Triângulo da Tristeza”, o belga “Close” e o dinamarquês “Holy Spider” lideram as indicações com quatro nomeações cada um. O trio aparece em Melhor Filme ao lado do espanhol “Alcarrás” e o austríaco “Corsage”.  

Quem decepcionou foi o francês “Saint Omer”: o longa ficou apenas com Melhor Direção para Alice Diop. Vale destacar a presença do Paul Mescal em Melhor Ator pelo cada vez mais forte “Aftersun”. Da temporada do Oscar passado, temos a Penélope Cruz, de “Mães Paralelas”, indicada a Melhor Atriz, e o Kenneth Branagh em Melhor Roteiro por “Belfast”. 

Ganhador da Palma de Ouro em Cannes neste ano, “O Triângulo da Tristeza” se fortalece cada vez mais na temporada com este favoritismo no European Film Awards. Chega com a habilidade da Neon em promover produções internacionais – “Parasita” que o diga – e um sentimento de que o Ruben Ostlund merece maior reconhecimento na Academia. Deve pintar em Melhor Filme.

 
Já “Close” e “Holy Spider” são os candidatos europeus mais fortes para filme internacional, enquanto “Corsage” corre por fora. 

Observando historicamente, os indicados a Melhor Filme do European Film Awards estão com bom retrospecto no Oscar de Filme Internacional. 

Em 2018, por exemplo, “The Square”, “Loveless” e “Corpo e Alma” emplacaram nas duas premiações. No ano seguinte, aconteceu com “Guerra Fria”. “Os Miseráveis” e “Dor e Glória” fizeram a dobradinha em 2020 com direito ainda “A Favorita” em Melhor Filme no Oscar e no prêmio do cinema europeu. 2021 teve “Druk” e “Corpus Christi”, enquanto neste ano estiveram “Quo Vadis, Aida?” e “A Mão de Deus”, além de “Meu Pai” na categoria máxima da Academia. 

O CASO BABILÔNIA

Agora, vamos para as categorias de atuação, pois, finalmente, a Paramount Pictures decidiu para onde vão os atores de “Babilônia” na corrida para o Oscar 2023. 

O aguardado longa do Damien Chazelle verá o mexicano Diego Calva na luta por uma vaga em Melhor Ator, enquanto a Margot Robbie busca uma vaga em Melhor Atriz. 

Sobre o Calva, a Paramount joga com duas vagas disponíveis em Melhor Ator, afinal, impossível não ver o Austin Butler, Brendan Fraser e o Colin Farrell indicados. A briga dele será contra o Bill Nighy e o Paul Mescal, ambos crescendo cada vez mais, respectivamente, por “Living” e “Aftersun”. O astro de “Babilônia” também terá a força do Tom Cruise em “Top Gun” pela frente.  

Já a Margot Robbie chega para uma disputa duríssima em Melhor Atriz. A Paramount inseri-la aqui em vez de coadjuvante, onde havia um caminho aberto para a estatueta, mostra há crença de que a estrela possa sim ter chances de vitória na categoria principal. 

O problema é combinar isso com as concorrentes, afinal, Melhor Atriz salta com quatro nomes hoje em pé de equilíbrio: Cate Blanchett com “TÁR”, Michelle Yeoh de “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”, Michelle Williams com “Os Fabelmans” e Danielle Deadwyler por “Till”. Chegar em cima de hora pode pesar a favor pelo impacto como também negativamente por encontrar um cenário definido.  

A indicação, entretanto, nem está garantida, pois, há Viola Davis, Olivia Colman e Rooney Mara na parada. Será um desafio grande para a Margot Robbie no Oscar. 

Em ator coadjuvante, “Babilônia” pode aparecer com o Brad Pitt e Tobey Maguire, enquanto Jean Smart e Li Jun Li vão para atriz coadjuvante. 

Já falei aqui no Cine Set sobre como a situação delicada da vida pessoal do Brad Pitt pode jogar contra ele. Terá que fazer o melhor desempenho da vida para ser nomeado. A categoria conta com apenas duas vagas em aberto, pois, Quan, Gleeson e Hirsch estão garantidos. 

É uma situação diferente de atriz coadjuvante, onde a corrida não traz nomes tão consolidados. Com isso, acredito na força da Jean Smart para chegar arrebatadora e, quem sabe, levar o prêmio. A estrela vive um grande momento e, mesmo com cinco Emmy, ela nunca chegou a ser nomeada ao Oscar. A Academia pode resolver dois problemas em uma cajadada só. 

JIMMY KIMMEL NA APRESENTAÇÃO

Nenhuma destas notícias superou o anúncio de Jimmy Kimmel como apresentador do Oscar 2023. Será o retorno dele ao comando da cerimônia após ser o host em 2017 e 2018 – este último, aliás, foi o ano da treta “Moonlight” e “La La Land”. 

Com isso, o Kimmel se iguala a Jerry Lewis, Steve Martin, Conrad Nagel e David Niven que também apresentaram o Oscar em três ocasiões. A Academia retorna a um host só após tentar, sem grande sucesso, ter um trio neste ano com Amy Schumer, Wanda Sykes e Regina Hall. 

Curiosamente, a escolha do Jimmy Kimmel acontece semanas depois dele ter renovado o contrato com a ABC, emissora que exibe o Oscar nos EUA, por mais três anos para apresentar o talk-show que já faz há 23 anos. 

Na minha visão, a escolha mostra uma Academia sem a menor criatividade. 

Kimmel, de fato, não foi mal quanto apresentou o Oscar. Longe de grosserias e polêmicas vazias, ele conseguia agradar as estrelas de Hollywood com sua educação e elegância. A única falha mais feia foi no caos do fim da cerimônia de 2018 em que nem chegou a ter maior culpa. Ainda assim, não deixa de ser um estilo de comando próximo do burocrático em que parece não fazer muita força para soar diferente.  

Para quem precisa correr atrás de audiência desesperadamente, não me parece ser um atrativo muito grande voltar ao mais do mesmo, um feijão com arroz para lá de sem-sal. E possibilidades não faltavam. 

Se era para voltar ao passado, por que não Hugh Jackman? O eterno Wolverine foi excelente como o host em 2009 dançando, cantando, com humor e elegância. Adorado pelo público, certamente chamaria mais público. Falando de veteranos, seria incrível ver o retorno de Steve Martin, agora, acompanhado de Martin Short e Selena Gomez, seus parceiros da ótima “Only Murders in the Building”.  

Pensando em nomes mais novos, Bill Hader seria uma possibilidade interessante a ser experimentada. A grande passagem pelo “Saturday Night Live” e o prestígio obtido por “Barry” o credenciariam para a vaga. Estrela consagrada por “Hamilton”, Lin-Manuel Miranda também é outra opção masculina. Já na turma feminina fecharia sem hesitar com Queen Latifah, amada por público, crítica e indústria. Bem-humorada e ótima cantora, seria excelente nome para o Oscar. 

E para o público mais jovem poderia citar Awkwafina e o casal Tom Holland e Zendaya. Ou seja, opções mais criativas do que o tradicional Jimmy Kimmel não faltavam. Faltou mesmo foi coragem da Academia.