Caio Pimenta analisa quais os pontos fortes e fracos de Colin Farrell, Brendan Fraser e Austin Butler na corrida rumo ao Oscar 2023 de Melhor Ator.

AUSTIN BUTLER 

Dos três principais candidatos da categoria, o Austin Butler está no filme de maior bilheteria: “Elvis” arrecadou US$ 286 milhões ao redor do planeta contra US$ 19 milhões de “The Banshees of Inisherin” e US$ 3 milhões nos EUA de “The Whale”. Em uma corrida que este pode ser fato decisivo, é um aspecto a ser considerado. 

O grande ativo de Butler, porém, fica mesmo em ser uma cinebiografia. Ao longo dos últimos anos, figuras icônicas da História e cultura pop levaram seus intérpretes à estatueta dourada. 

Levando em consideração apenas dos anos 2000 para cá, Jamie Foxx como Ray Charles, Philip Seymour Hoffman fazendo Truman Capote, Forest Whitaker no papel do ditador Idi Amin, Sean Penn sendo Harvey Milk, Colin Firth interpretando o Rei George VI, Daniel Day-Lewis como Abraham Lincoln, Eddie Redmayne de Stephen Hawking, Gary Oldman vivendo Winston Churchill, Rami Malek sendo Freddie Mercury e Will Smith como Richard Williams. 

Butler, porém, tem o ícone maior da cultura pop norte-americana em mãos. Em termos de comparação, nos EUA, Elvis só teria um peso menor a Lincoln comparado aos últimos personagens vencedores do Oscar.  

O astro ainda pode contar com todas as nuances de um personagem complexo, afinal, a superprodução de Baz Luhrmann, ao mesmo tempo, em que exalta o gênio em cima dos palcos com performances explosivas também mostra o preço da fama e das explorações impostas pelo empresário Coronel Tom Parker. É uma tour de force que depende muito da entrega de Butler.  

O investimento pesado da Warner também pode ser decisivo: “Elvis” não tem maiores chances em Filme, Direção ou Roteiro Original, logo, o foco todo da grana do estúdio em campanha será aqui, mirando a possível principal vitória dela no Oscar 2023. Até o momento, o Austin Butler se mantém no páreo com nomeações ao Globo de Ouro e ao Critics, mas, sem grandes conquistas junto aos críticos. 

Mas, a juventude é a maior barreira da estrela de “Elvis” rumo ao prêmio. O Butler tem apenas 31 anos e este é o primeiro grande papel de destaque da carreira após pequenas participações em “Era uma vez em Hollywood” e “Os Mortos Não Morrem”. Em 2023, estará na segunda parte de “Duna”.  

Se a categoria fosse Melhor Atriz, onde a Academia adora consagrar estrelas jovens, ele se tornaria favorito, agora, em Melhor Ator, é raro. Para se ter uma ideia, o mais novo a vencer a estatueta foi o Adrien Brody, por “O Pianista”, com 29 anos. É o caso em que a exceção confirma a regra. 

COLIN FARRELL 

O Oscar 2023 deve corrigir um erro de outros anos da entidade e, finalmente, indicar o Colin Farrell. Entre os favoritos, o irlandês é o que tem a carreira mais regular ao longo do tempo, com os melhores filmes e já poderia ter aparecido faz tempo na festa. 

A maior esnobada da Academia em relação ao Farrell foi em 2008 quando ele poderia ter sido nomeado facilmente em ator coadjuvante pelo grande desempenho em “O Sonho de Cassandra”. “Na Mira do Chefe” até rendeu um Globo de Ouro de Ator em Comédia/Musical, mas, não foi suficiente para chegar ao Oscar. “O Lagostatambém foi esquecido.  

A mais do que certa indicação por “The Banshees of Inisherin” coroa um ano consagrador em que vimos Farrell interpretar o Pinguim em “Batman”, além de estar nos elogiados “13 Vidas” e “After Yang”, além de ter sido o maior premiado de Melhor Ator junto aos críticos dos EUA durante dezembro. 

Ajuda ainda mais esta história do Colin Farrell estar ligada a um dos filmes mais prestigiados da temporada: “The Banshees of Inisherin” é hoje, junto com “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”, o maior candidato a Melhor Filme. E a tendência é que a comédia do Martin McDonagh cresça ainda mais com a proximidade da premiação já que mais gente assistirá ao longa. Agora, vale lembrar que o Jean Dujardin, de “O Artista”, foi o último vencedor da categoria da mesma produção que coincidiu com o vencedor do Oscar máximo. 

Há também a possibilidade da Academia considerar a nomeação por “The Banshees of Inisherin” sirva para dar as boas-vindas ao Colin Farrell e quebrar o gelo com a primeira indicação. A vitória? Pode ficar para depois, especialmente, por conta de um candidato forte. 

BRENDAN FRASER 

Igual ao Colin Farrell, o Brendan Fraser nunca foi indicado ao Oscar. Porém, no caso dele, a narrativa é forte demais para ser ignorada. 

Após uma série de trabalhos pouco memoráveis, o ator viveu uma fase dos sonhos no fim dos anos 1990 quando emplacou dois sucessos de público – “George, o Rei da Floresta” e “A Múmia” – e ainda participou do elogiado “Deuses e Monstros”, premiado com o Oscar de Roteiro Adaptado em 1999. A boa fase ainda rendeu participações em “O Americano Tranquilo” e no oscarizado “Crash”. 

Depois disso, entretanto, a carreira do astro foi ladeira abaixo. A retomada com “Nem um Passo em Falso”, do Steven Soderbergh, e, principalmente, com “The Whale” mostrou como Fraser segue na memória do público como provou a reação ao longa do Darren Aronofsky em Veneza e toda a comoção popular gerada nas redes. 

Neste retorno, ainda há o componente do assédio em Hollywood: o Brendan Fraser revelou ter sido vítima do presidente da Associação de Imprensa Estrangeira em Hollywood, entidade responsável pelo Globo de Ouro, Philip Berk. Isso e outros motivos acabou por afastá-lo das telonas por um bom tempo. 

Se a narrativa é forte, o filme, entretanto, divide opiniões: “The Whale” é uma produção polêmica até pelo próprio título e o Aronofsky nunca foi um poço de sutileza, pelo contrário. Saber como isso pode afetar a experiência dos votantes com a obra e com a própria atuação do Brendan Fraser será um dos mistérios durante esta temporada de premiações. Imagino muita polêmica nas redes sociais na estreia do filme.