Premiação independente do cinema americano e primeiro evento real oficial da temporada de premiações, o Gotham Awards consagrou “Vidas Passadas” e “Anatomia de uma Queda”. 

Neste novo post, eu analiso o impacto dos resultados do Gotham Awards para o Oscar 2024. 

PRÊMIOS ESPECIAIS E BASTIDORES

O Gotham Awards deixou qualquer restrição orçamentária de lado neste ano e permitiu que todos os filmes pudessem concorrer aos prêmios. Vale lembrar que antigamente somente obras com custo de até US$ 35 milhões estavam elegíveis. Muitos estúdios, porém, decidiram não submeter os seus principais candidatos, entre eles, a Apple com “Assassinos da Lua das Flores” e a Universal Pictures com “Oppenheimer”. 

O evento resolveu isso de uma forma mais simples e saiu dando vários prêmios especiais ao longo da noite. 

O épico do Martin Scorsese, por exemplo, recebeu um tributo pela importância histórica do fato que apresenta. Já “Barbie”, “Air”, “Rustin” e “Maestro” ganharam prêmios de ícones globais por conta dos seus personagens retratados, enquanto “Ferrari” obteve reconhecimento pela inovação. 

Como deu para ver, faltou “Oppenheimer” na lista, porém, seria estranho homenagear o homem que criou a bomba atômica. Certamente provocaria mensagens dúbias em um período com duas guerras em andamento e um sem número de conflitos mundo afora. 

Outro destaque do Gotham para além da premiação foi o duro discurso do Robert De Niro contra o Donald Trump, mostrando como esta será uma temporada muito politizada por conta do risco do republicano retornar ao poder após a tentativa de golpe de Estado em 2021.

E ainda teve a Margot Robbie com um vestido remetendo a uma das bonecas clássicas da Barbie. Uma estratégia muito bem calculada pela equipe da Warner para alavancar tanto as chances dela quanto do filme. 

A FORÇA FRANCESA E DE CELINE SONG

Falando dos prêmios, as duas categorias menos badaladas não trouxeram maiores surpresas. A A.V. Rockwell venceu direção estreante por “A Thousand and One”, longa ganhador do Festival de Sundance no início de 2023. Ela era a favorita absoluta e confirmou. Para o Oscar, em uma corrida tão pesada com diversos postulantes às cinco vagas, ela, infelizmente, é carta fora do baralho. 

Já em documentário, “As 4 Filhas de Olfa” foi o grande vencedor. A produção selecionada para a disputa da Palma de Ouro trilha um caminho forte rumo ao prêmio da Academia, também já tendo sido nomeado ao European Film Awards. A vitória coloca o longa dirigido pela Kaouther Ben Hania no radar da categoria no Oscar e ainda o fortalece em Filme Internacional. 

Falando de obras de língua não inglesa, “Anatomia de uma Queda” teve um grande Gotham Awards. 

O drama francês venceu de cara os dois primeiros prêmios da noite: em Filme Internacional, a produção da Justine Triet ganhou de nada mais nada menos do que “Pobres Criaturas”, “All of us Strangers” e “A Zona de Interesse”. O resultado certamente gera uma raiva dos cinéfilos franceses pela preferência do comitê do país por “O Sabor da Vida”. 

A Triet superou o Glazer novamente também em Melhor Roteiro. A categoria ainda trazia “All of Us Strangers” e “Segredos de um Escândalo”. As conquistas colocam evidência em “Anatomia de uma Queda” e deixam o longa em boa posição para o Oscar de Melhor Filme, Direção, Atriz com a Sandra Huller e Roteiro Original. 

O Gotham de Melhor Filme teve um resultado previsível, mas, importante. 

“Vidas Passadas” não tinha maiores desafiantes; quem mais ameaçava era “A Thousand and One”. O prêmio ajuda o romance da Celine Song a se posicionar na temporada, visto que duela por vagas em Filme, Direção, Atriz e Roteiro Original com pesos pesados.

Por mais carinho que tenha de todos que o assistam, corre risco de ser sim esquecido. Começar bem a temporada de premiações com um prêmio obtido por vencedores recentes da Academia como “Birdman”, “Spotlight”, “Moonlight”, “Nomadland” e “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” serve para criar uma atmosfera favorável ao longa.

OS PRÊMIOS DE ATUAÇÃO

Foi nos prêmios de atuação que o evento de abertura da temporada de premiações deu importantes recados mirando o Oscar. 

O Charles Melton, de “Segredos de um Escândalo”, foi o ganhador entre coadjuvantes. O galã deixa um recado muito claro para os favoritos da categoria masculina na temporada de que está prestigiado.

E a vitória ter ocorrido sobre o Ryan Gosling, o Ken da “Barbie”, simboliza isso à perfeição.

Quem também celebra é a Emily Blunt, afinal, a Da’Vine Joy Randolph poderia ter assumido a dianteira entre as mulheres.

Como não ocorreu, deixa a corrida no mesmo estágio de incerteza, algo bom pelo carinho e histórico da britânica junto à indústria. 

E em atuação principal, a Lily Gladstone ganhou, mas, não por “Assassinos da Lua das Flores” e sim por “The Unknown Country”.

Claro que ela chegará ao Oscar pelo longa do Martin Scorsese, porém, a vitória no Gotham por um filme praticamente deixado de lado nesta temporada realça como ela é o nome do momento em Hollywood.

A narrativa e o carinho do público está nas mãos dela, tomando o favoritismo da categoria de Melhor Atriz para ela.