Até agora, a série Lovecraft Country explorou mais os ingredientes de terror e de fantasia das obras da literatura pulp e do autor H. P. Lovecraft. Mas literatura pulp também é território da ficção-científica… Já sabíamos, desde a menção de uma tal “máquina do tempo” por Christina alguns episódios atrás, que a série iria se aventurar pela seara da ficção-científica eventualmente. Pois a hora chegou, neste sétimo episódio da temporada, intitulado “Eu Sou”.
CRÍTICA: “Lovecraft Country” 1×01
O principal desenvolvimento deste episódio é a investigação de Hippolyta sobre… bem, todas as maluquices que ocorreram nos primeiros episódios e que custaram a vida do seu marido George. Ela encontra as ruínas de Ardham, depois descobre como fazer funcionar o planetário de Hiram e determina a localização da máquina. Isso a levará a ter uma viagem que… bem, é a maior viagem que a série mostrou até agora.
CRÍTICA: “Lovecraft Country” 1×02
Pelo que dá para se entender, a máquina é parte um instrumento de viagem temporal, parte um portal. E graças a ele, Hippolyta vai experimentar um pouco da realização de seu sonho, como uma dançarina na companhia da estrela Josephine Baker; vai descobrir sua força, como uma guerreira tribal; e se impor frente ao seu marido numa tocante cena que traz o retorno do ator Courtney B. Vance como George. Por todo o episódio, a atuação de Aunjanue Ellis é muito forte, e é graças a ela – e aos incríveis efeitos visuais, claro – que engolimos as maluquices do episódio. Algumas são bastante visuais: acho que pela primeira vez num filme ou seriado de que me recordo, um penteado afro gigantesco é usado para caracterizar uma personagem extraterrestre.
QUALIDADES SUPERAM IMPERFEIÇÕES
“Eu Sou” é a história da libertação e empoderamento de Hippolyta frente a circunstâncias fantásticas, tal como Ruby teve alguns episódios atrás. Este episódio é um pouco menos sutil, e mais óbvio que aquele anterior, o que atrapalha um pouco a experiência. Há uma boa dose de diálogo expositivo para transmitir o dilema da personagem e nos discursos, especialmente no segmento da guerreira africana. De novo, a atuação de Aunjanue consegue fazer funcionar as situações, mas o episódio poderia ser ainda melhor se fosse menos “na cara”, menos óbvio.
CRÍTICA: “Lovecraft Country” 1×03
Paralelamente à trama principal, vemos Ruby descobrindo secretamente que Hippolyta tem o planetário – até que ponto a aliança dela com Christina será forte, isso ainda teremos que ver no futuro. E Tic investiga o lado materno da sua família, descobrindo algumas pistas interessantes. Aliás, o ponto mais fraco do roteiro é o virtual “teletransporte” dele até o local onde Hippolyta está, para salvá-la num momento crucial… É uma conveniência narrativa que não chega a estragar o episódio, mas com certeza o diminui um pouco.
CRÍTICA: “Lovecraft Country” 1×04
Ainda assim, em meio aos visuais malucos, que incluem visões de planetas alienígenas, e uma jornada tocante de uma personagem, Lovecraft Country produz mais uma hora interessante e criativa de TV. Imperfeita, mas uma na qual as qualidades superam os problemas. E demonstra novamente que as duas maiores qualidades da série até agora são o seu elenco e a sua “elasticidade”, ou seja, a capacidade dos roteiristas de explorar conceitos variados de fantasia, terror e, agora, ficção-científica. Realmente, parece que tudo vale em Lovecraft Country, e isso é uma qualidade do seriado.
CRÍTICA: “Lovecraft Country” 1×05
CRÍTICA: “Lovecraft Country” 1×06
*Fui pesquisar sobre a cena em que uma mulher negra de moto passa ao lado de Hippolyta enquanto ela dirige na estrada, e é uma referência a uma figura real: Bessie Stringfield, a primeira mulher negra a cruzar de moto todos os 48 Estados norte-americanos conectados. É o tipo de coisa que muitos espectadores talvez nem peguem, mas demonstra a atenção e o cuidado da produção em celebrar e fazer referências a figuras negras importantes. É legal pensar que essa figura real acaba influenciando Hippolyta na sua jornada pessoal de libertação pela viagem no portal.