De “Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa” a “Apresentando os Ricardos”, Caio Pimenta aponta as chances dos candidatos à duas últimas vagas de Melhor Filme do Oscar 2022. 

HOMEM-ARANHA: SEM VOLTA PARA CASA 

“Pantera Negra” foi até hoje o único filme Marvel a ir tão longe no Oscar e deve manter a escrita em 2022. 

“Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa” chega com sua marca de US$ 1 bilhão arrecadados nas bilheterias mundiais, um feito amplificado por acontecer em plena era pandêmica e reacender o interesse do público nas salas de cinema.  

Também conta com o apoio e carinho de uma grande parte do público e o recorde negativo de audiência da última cerimônia pode tornar isso um fator relevante.

Por outro lado, a ausência na lista do PGA, sempre tão generoso com blockbusters, praticamente soterrou qualquer chance de indicação a Melhor Filme. 

Não podemos descartar também a resistência de muita gente contra filme baseados em HQs na indústria como fator para atrapalhar “Homem-Aranha”.

E cá entre nós, por mais divertido que seja, seria um tremendo de um exagero colocar “Sem Volta Para Casa” na categoria de Melhor Filme.

Ficará restrito a categorias técnicas. 

007 – SEM TEMPO PARA MORRER 

Também no time das superproduções buscando uma vaguinha no Oscar de Melhor Filme está “007 – Sem Tempo Para Morrer”. 

Pode pesar a favor do filme ser a despedida de Daniel Craig do personagem, sendo um reconhecimento a um período em que a franquia se revitalizou para o século XXI e conseguiu as primeiras estatuetas do Oscar.  

Igual “Homem-Aranha” traz o carinho do público como fator positivo e ter sido um sucesso de bilheteria.

Por outro lado, James Bond divide muitas opiniões por conta do tratamento histórico em relação às mulheres.

Fora que o próprio “Sem Tempo Para Morrer” e seu final não agradou a todos os públicos, além de ter ficado fora do PGA. 

Seria uma surpresa ver 007 indicado ao Oscar, porém, diferente do “Homem-Aranha”, não acho tão absurdo que surja entre os 10 finalistas.

Até por dividir as atenções da MGM nesta temporada de premiações com “Casa Gucci”.

Improvável sim, impossível nunca. 

A TRAGÉDIA DE MACBETH 


A Tragédia de Macbeth” tinha tudo para estar entre os candidatos garantidos, mas, chega à última semana sem grandes convicções de que possa estar entre os finalistas. 

Credenciais de Oscar não faltam ao longa: Joel Coen, Denzel Washington, Frances McDormand em uma adaptação de um clássico de William Shakespeare.

Isso tudo acompanhado por uma excelência técnica na direção de fotografia, direção de arte, figurino, som.  

O classicismo e o distanciamento emocional entre público e personagens afastaram “A Tragédia de Macbeth” da ovação não sendo abraçado pelos críticos e sindicatos de peso como produtores e atores.

Para completar, a campanha da Apple mais atrapalhou do que ajudou. 

“Macbeth”, porém, pode sobreviver tanto pelos nomes envolvidos como por ser uma produção que deve alcançar muitas nomeações nas categorias técnicas, além, claro, da indicação certa de Denzel Washington.

Neste momento, corre por fora. 

O BECO DO PESADELO 


Também cercado de expectativas, “O Beco do Pesadelo” está correndo por fora nesta briga pelas últimas vagas. 

Vindo do Oscar de “A Forma da Água”, Guillermo Del Toro está acompanhado de um timaço de astros para este remake do noir dos anos 1940.  

O filme também deve conseguir um bom número de indicações técnicas, mas, a ausência nos sindicatos dos produtores e dos atores mostra como “O Beco do Pesadelo” não empolgou tanto como previsto. 

A estratégia da Searchlight Pictures em ter deixado o filme fora dos principais festivais do segundo semestre parece que cobrou a conta agora sem grandes empolgações em relação ao projeto.

A aposta de ganhar força no fim do ano se revelou equivocada até por conta da nova onda de Covid que provocou receio no público em retornar aos cinemas e com “Homem-Aranha” dominando o circuito totalmente.  

“O Beco do Pesadelo” dependerá muito dos nomes envolvidos para ser lembrado. 

 A FILHA PERDIDA 

Entre momentos de força e outros de sumiço, “A Filha Perdida” briga para chegar ao Oscar de Melhor Filme. 

O longa começou a temporada bem ao vencer o Gotham Awards e ter Maggie Gyllenhaal nomeada em Direção no Globo de Ouro e entre as estreantes no DGA.

Porém, as ausências no SAG e PGA foram golpes sentidos pela produção.

Para piorar, “A Filha Perdida” encara fogo amigo com a Netflix centrando a campanha para “Ataque dos Cães” e “Não Olhe Para Cima”.  

Conta a favor as indicações quase certas em categorias importantes como Melhor Atriz e Roteiro Adaptado, além de ser o filme com mais mulheres em posição de destaque na frente e atrás das câmeras da temporada.

Por outro lado, trata-se de uma produção de tema difícil e nada confortável para uma Academia que adora consensos. 

Acho bem difícil a Academia colocar quatro candidatos da Netflix em Melhor Filme.

Logo, “A Filha Perdida” fará um duelo interno com “Tick Tick Boom” por esta vaga.  

TICK TICK BOOM

“Tick, Tick… Boom!” traz como pontos fortes a grande atuação do Andrew Garfield, praticamente garantido em Melhor Ator e vivendo o melhor momento da carreira, a força de Lin-Manuel Miranda, astro que revolucionou o musical com “Hamilton” e estreando nos cinemas, ser uma produção falando sobre o setor artístico – tema amado pela Academia – e prestar homenagem ao lendário Stephen Sondheim, morto no fim do ano passado.

A presença no PGA deu grande força para a produção após estar no TOP 10 do American Film Institute e em Melhor Filme do Critics Choice. 

“Tick Tick Boom”, porém, empolgou bem menos do que se imaginava tanto público como crítica.

Não seria estranho também muitos votantes preterirem o longa por considerarem que a cota dos musicais já esteja preenchida por “Amor, Sublime Amor”.  

A última vez em que dois musicais concorreram no mesmo ano em Melhor Filme foi em 1969 com “Oliver” e “Funny Girl”.

A consistente campanha de “Tick Tick Boom” nesta temporada, entretanto, permite sonhar com a quebra deste tabu após 53 anos. 

DRIVE MY CAR 

Desde as boas performances de “Roma” e, especialmente, “Parasita”, tornou-se inevitável a pergunta: quem será o representante internacional no Oscar de Melhor Filme? 

O Japão tentará alcançar o feito em 2022. 

“Drive My Car” era um candidato forte apenas em Filme Internacional, porém, ao ganhar Melhor Filme do ano passado entre os críticos de Nova York, Los Angeles e da National Society of Film Critics, o status da produção mudou.  

Ser uma obra que se utiliza da metalinguagem, abordando a própria arte é algo sedutor para a indústria e ainda há o apoio da comunidade fora dos EUA cada vez mais crescente na Academia.  

Por outro lado, as três horas de duração da obra de Ryûsuke Hamaguchi podem afastar muitos votantes.

Pesa contra também “Drive My Car” ser distribuído pela Janus Films, empresa “humilde” contra gigantes como Netflix, Amazon, Disney ou Warner. 

Vejo mais chances de “Drive My Car” alcançar uma surpresa com o Hamaguchi em Direção ou chegar a Roteiro Adaptado do que chegar a Melhor Filme. 

CASA GUCCI 

O filme mais polêmico da temporada chega na semana das indicações brigando pelas últimas duas vagas da categoria máxima do Oscar. 

Ridley Scott, Lady Gaga, Jared Leto, Adam Driver, Al Pacino, Jeremy Irons… junto com “O Beco do Pesadelo” e “Não Olhe Para Cima”, “Casa Gucci” tem o maior time de estrelas reunido desta temporada de premiações.

O longa da MGM divide Hollywood: os atores abraçaram a produção com a surpreendente indicação ao SAG de Melhor Elenco, enquanto o PGA e DGA ignoraram a obra solenemente. 

Ainda assim, deve conseguir bom número de indicações, especialmente, em figurino, maquiagem e penteado.

Se pode contribuir o buzz das redes sociais, a torcida de Gaga para aumentar a audiência e a boa bilheteria, por outro lado, a recepção contrária da crítica e as reações bem divisivas podem jogar uma sombra pesada de superar. 

Difícil apontar em que pé está “Casa Gucci”, afinal, quando pensávamos que era uma produção esquecida na temporada surpreendeu todo mundo, porém, vacilou ao precisar se consolidar de vez.

Incógnita total. 

APRESENTANDO OS RICARDOS 

E chegamos àquele candidato que demonstra ter crescido demais nas últimas semanas. 

“Apresentando os Ricardos” não animou público nem crítica.

Tinha ainda para atrapalhar distribuição da Amazon Studios, empresa que não é a maior especialista em campanhas para temporada de premiações.

Parecia fadado a um papel secundário no Oscar 2022, especialmente, após os prêmios dos críticos, o Globo de Ouro e as indicações ao Critics.  

Porém, nunca duvide de uma produção que fala da indústria do entretenimento e de uma das maiores estrelas de todos os tempos do showbusiness norte-americano.

Ainda mais quando traz um diretor/roteirista dos mais prestigiados das últimas décadas e dois atores premiados e respeitados.  

A virada de Nicole Kidman em Melhor Atriz a partir do SAG e Globo de Ouro, a indicação a Javier Bardem também no sindicato dos Atores, e a presença no PGA praticamente sacramentaram “Apresentando os Ricardos” na categoria máxima do Oscar 2022. 

Cobertura Cine Set Oscar 2016

Além de “Apresentando os Ricardos”, aposto na indicação também de “A Tragédia de Macbeth” ao Oscar de Melhor Filme com “Casa Gucci” correndo bem próximo do longa do Joel Coen.

Se dependesse de mim, ficaria com “A Filha Perdida” e “Drive My Car”.