Colocado a favorito logo no início da corrida rumo ao Oscar após receber prêmio de público no Festival de Toronto, “Belfast” chega ao mês da premiação em baixa.  

O longa do Kenneth Branagh virou motivo de reclamações por cinéfilos e críticos mundo afora, foi esnobado em categorias importantes como Montagem e Direção de Fotografia, e perdeu o SAG de Melhor Elenco para “Coda”. 

De fato, “Belfast” não merecia o posto de favorito a que foi alçado. 

Na minha visão, trata-se de um filme comum sobre nostalgia, sentimento tão em voga nos dias atuais, a partir das memórias de infância do diretor em meio a um conflito social.

O grande problema é Kenneth Branagh não consegue dar unidade a “Belfast” soando tudo como pequenas pontas soltas, dependendo do bom elenco para tentar dar alguma coesão a história.

No fim das contas, não consegue emocionar nem metade daquilo que pretende. 

Casos de filmes médios ou ruins mesmo que ganham espaço na categoria máxima do Oscar não são novidades ao longo da história da premiação. Alguns deles, inclusive, chegam até a levar a estatueta. Agora, eu apresento casos recentes que se assemelham a “Belfast”. 

CHOCOLATE 

Harvey Weinstein era um midas do Oscar e, em 2001, ele conseguiu, talvez, a maior proeza da carreira dele. 

Afinal, como “Chocolate” foi parar em Melhor Filme ao lado “Gladiador”, “Erin Brokovich”, “Traffic” e “O Tigre e o Dragão”?

A produção traz uma história vista diversas vezes e contada da maneira mais tradicional e óbvia possível. Nem mesmo o ótimo elenco consegue tirar o longa do marasmo e do esquecimento. 

E pensar que naquela temporada a Academia tinha como opções “Billy Elliot”, “Náufrago”, “Contos Proibidos do Marquês de Sade” e “Quase Famosos”. 

SEABISCUIT 

Quem gosta de cinema brasileiro deveria odiar “Seabiscuit”. 

Em 2004, Harvey Weinstein resgatou “Cidade de Deus” depois da esnobada a Filme de Língua Não-Inglesa do ano anterior e fez a produção emplacar quatro indicações, incluindo, Melhor Direção e Roteiro Adaptado.

Faltou pouco para Melhor Filme, pois, infelizmente, a vaga final ficou com “Seabiscuit”, um meloso drama esportivo que, terminada aquela temporada, ninguém mais lembra da existência. 

Esse é aquele típico filme que se tivesse sido feito há 50 anos não teria praticamente nenhuma mudança.

O cinemão clássico de Hollywood batendo a inovação. 

UM HOMEM SÉRIO 

No fim da década 2000, a Academia estava encantada com os irmãos Coen. No Oscar 2010, a entidade provou isso da pior forma. 

Não que seja ruim, mas, “Um Homem Sério” está no segundo, quiçá, terceiro patamar da carreira de Joel e Ethan Coen.

A produção estrelada pelo Michael Stuhlbarg traz bons momentos, mas, nada marcantes em uma obra que debate sobre existencialismo, sentido da vida e niilismo. 

A presença de “Um Homem Sério” mostra como a obrigatoriedade de 10 indicados a Melhor Filme nem sempre é algo bom. 

TÃO FORTE E TÃO PERTO  

A memória dos 10 anos da tragédia do 11 de Setembro fez a Academia lembrar do drama dirigido pelo Stephen Daldry. 

“Tão Forte e Tão Perto” é outra produção que não chega a ser ruim, apresentando uma primeira parte muito boa com o foco da relação pai e filho abalada com as consequências do atentado.

Já a metade final descamba para pieguice e fazer o público chorar de qualquer jeito. 

No Oscar 2012, “Cavalo de Guerra” com Steven Spielberg tentando emular o John Ford sem sucesso, também foi outra produção de média para baixo indicada a Melhor Filme. 

ARGO 

Crítica: Argo, de Ben Affleck
O Supercine se sentiu representado com a vitória do filme comandado por Ben Affleck. 

Não dá para negar o mérito de “Argo” em transformar um delicado tema geopolítico entre duas nações em eterna tensão como EUA e Irã e fazer uma produção ágil, divertida com muito suspense e ótimas cenas de ação.

Agora, daí a sair ganhadora do Oscar de Melhor Filme em frente a produções como “Amor”, “A Hora Mais Escura” e até “As Aventuras de Pi” parece um tremendo exagero. 

BROOKLYN

'Brooklyn': romance com cara de Oscar

O Oscar 2016 trouxe uma lista de grandes e marcantes filmes – “Mad Max”, “O Regresso” e “A Grande Aposta” eram os principais. No meio deles, um pequeno intruso. 

“Brooklyn”, delicado filme de John Crowley, traz o tradicional melodrama dentro de uma história de época de imigrantes irlandeses em Nova York.

Tem um bom elenco liderado pela ótima Saoirse Ronan, um roteiro fechadinho, excelente no figurino e direção de arte, enfim, tudo muito agradável, porém, nada marcante. 

Isso em uma lista de filmes tão fortes acaba destoando demais. 

LION 

O canto do cisne de Harvey Weinstein no Oscar foi a nomeação de “Lion” a Melhor Filme em 2017. 

Em outra lista muito boa de filmes repletos de força e personalidade, “Lion” era o mais insípido entre os nomeados.

A primeira parte focada da imersão na Índia sem os excessos feitos por Danny Boyle em “Quem Quer Ser um Milionário?” se dilui na segunda parte convencional protagonizada por Dev Patel, Nicole Kidman e Rooney Mara, deixando a sensação de já termos visto aquela história por diversas vezes. 

Apesar das seis indicações, “Lion” saiu de mãos vazias da cerimônia. 

THE POST 

Somente os nomes envolvidos fizeram “The Post” conseguir uma indicação que não merecia em 2018. 

Steven Spielberg, Meryl Streep e Tom Hanks se juntaram para fazer uma homenagem e destacar a importância da imprensa em uma sociedade democrática após a eleição de Donald Trump e toda a sua truculência para a Casa Branca.

Porém, “The Post” erra no tom e traz o diretor no modo piegas e maniqueísta, transformando uma história importante em um panfleto apaixonado e nada crítico. 

Curioso que “The Post” só conseguiu duas indicações: Melhor Atriz com Meryl Streep e Melhor Filme. 

GREEN BOOK 

O maior erro recente da história do Oscar veio em 2019. 

Green Book” ganhador de Melhor Filme. Só dizer isso já soa estranho, mas, infelizmente, foi o que conquistou uma produção que repete, trocando apenas os personagens de lugar, “Conduzindo Miss Daisy”.

Tentativa de feel good movie enquanto busca debater o racismo nos EUA, a produção de Peter Farrelly está repleta de pontos óbvios e, alguns, equivocados mesmos. Somente não é descartável pela dupla Viggo Mortensen e, principalmente, Mahershala Ali, em grandes atuações. 

Vale também citar as presenças do fraco “Vice” e do bagunçado “Bohemian Rhapsody” na pior lista de nomeados da década passada. 

MINARI 

Por fim, em 2021, tivemos mais um filme médio nomeado ao Oscar. 

O que dizer de “Minari”?

Dá para citar o ótimo elenco, todos em grandes atuações e a maneira intimista como o diretor e roteirista Lee Isaac Chung nos apresenta aquela realidade e conduz o público durante a história.

Porém, passado um ano da cerimônia do ano passado, trago outra pergunta: o que fica de “Minari”?  

Na minha humilde opinião, quase nada. Um filme que tende a ser pouco lembrado com o tempo.