Caio Pimenta analisa as surpresas e esnobadas das indicações ao Globo de Ouro e Critics Choice 2023.

SURPRESAS do GLOBO DE OURO 

Parece que não, mas, as nomeações ao Globo de Ouro tiveram surpresas e não foram poucas. Começo com a presença do anime “Inu-Oh” em Melhor Animação. Afinal, a disputa do longa era com as produções da Disney por esta última vaga e acabou superando os rivais pesos-pesados.  

Já em Trilha Sonora, surpreende a presença do Carter Burwell, de “The Banshees de Inisherin“. Ele não era o nome mais cotado, mas, estar em um filme querido da temporada o ajudou a dar o sprint final.  

Ainda na parte musical, temos a Taylor Swift com “Carolina”, canção de “Um Lugar Bem Longe Daqui”. Ok, a estrela pop está sendo cotada para a nomeação ao Oscar, mas, ainda assim, por estar em um filme sem grande repercussão, manter esta força é digno de nota. 

Vamos para as categorias de atuação em que o Globo de Ouro reservou as principais surpresas. 

É o caso do Adam Driver: “Ruído Branco” estava sumido e sem grandes expectativas para a temporada. Por isso, a nomeação do astro a Melhor Ator em Comédia/Musical salva do marasmo um filme que é o favorito a decepção do ano. Ainda na categoria, temos o Ralph Fiennes, bem-vinda novidade por “O Menu”. Já em drama, o Jeremy Pope, de “The Inspection”, superou grandes estrelas para chegar aos nomeados neste pequeno drama da A24. 

Na lista de coadjuvantes, as surpresas atendem pelos nomes da filipina Dolly De Leon, de “Triângulo da Tristeza”, Carey Mulligan, até então esquecida pela excelente atuação em “Ela Disse” e o Eddie Redmayne, por “O Enfermeiro da Noite”. 

O Redmayne, aliás, goza de muito prestígio na temporada de premiações, pois, somente isso explica uma nomeação por este desempenho de mediano para ruim no suspense da Netflix. Quanto a Dolly De Leon, esta nomeação é daquelas para colocá-la de vez no radar como um nome forte para a indicação ao Oscar, enquanto a Mulligan ganha sobrevida depois do flop nas bilheterias do drama jornalístico sobre o #MeToo. 

Melhor Atriz de Comédia/Musical trouxe a Lesley Manville, de “Sra. Harris vai à Paris”, como principal nome mais fora do esperado, enquanto a Ana de Armas superou a rejeição praticamente unânime a “Blonde” para emplacar entre os desempenhos femininos dramáticos. Uma indicação quase prêmio por tudo o que teve de aguentar. 

Minha lista de surpresas das nomeações ao Globo de Ouro se completa com o Martin McDonagh, de “The Banshees of Inisherin”, nomeado a Melhor Direção. A expectativa é que ele somente fosse lembrado em Roteiro. Agora, espera-se que ele não repita o que ocorreu com “Três Anúncios para um Crime” em que concorreu no prêmio da HFPA, mas, ficou fora do Oscar. 

ESNOBADOS no GLOBO DE OURO

A turma dos esnobados inicia com a Disney: a má fase do estúdio com uma safra péssima de filmes a levou a ter apenas um indicado a Melhor Animação com “Red” na parceria com a Pixar. A última vez que isso aconteceu foi em 2018, mas, vale lembrar que naquela ocasião, a Disney disputou com o vencedor, “Viva”, algo que não irá se repetir em 2023. Já a ausência de “Bardo” era esperada em Melhor Filme Internacional, mas, ainda assim, impressiona notar a derrocada do longa do Alejandro González Iñarritu: de supercandidato a totalmente esquecido no rolê. 

Em Melhor Filme de Comédia/Musical, o Globo de Ouro deixou “RRR” de fora para ficar com “Triângulo da Tristeza”. O longa indiano, pelo menos, emplacou nomeações em Canção e Filme Internacional. Já “Ingresso Para o Paraíso” e suas estrelas, Julia Roberts e George Clooney não comoveram os votantes, algo impensável em edições anteriores. No Drama, “A Mulher Rei” e “Entre Mulheres” perderam a vaga para “Elvis” e “Avatar”.  

Pior mesmo foi a ausência novamente de mulheres entre as nomeadas a Melhor Direção. Opções não faltavam como a Sarah Polley, Gina Prince-Bythewood e a Charlotte Wells, mas, ainda assim o Globo de Ouro ficou com uma lista totalmente masculina.  

As ausências da Hong Chau, por “The Whale”, Janelle Monáe, por “Glass Onion” Jessie Buckley, por “Women Talking” e Nina Hoss, por “TÁR” mostram como a corrida de Melhor Atriz Coadjuvante está totalmente imprevisível e sem um favoritismo consolidado. Muita água para correr por debaixo desta ponte. Já entre os homens, a única falta realmente sentida foi de Judd Hirsch, por “Os Fabelmans”.  

Tom Cruise e Will Smith eram esperados em Ator de Drama, mas, ficam longe de realmente chocarem como foi o caso de Danielle Deadwyller: nem mesmo a vitória no Gotham serviu para impulsioná-la aqui. Somada à esnobada no Spirit Awards, a estrela de “Till” acumula notícias não muito boas nos últimos dias nesta acirrada corrida em Melhor Atriz. 

SURPRESAS do CRITICS CHOICE 

Para começo de conversa, Critics Choice é uma bagunça na minha modesta opinião. Muitas categorias, muitos indicados, prêmio inchado, sem um pingo de charme nem muita tradição. Mas, tem sua fama. Então, vamos falar das surpresas das indicações. 

“RRR” se saiu muito bem ao emplacar nomeações em Filme e Direção, além de Longa Internacional. Demonstra o crescimento da produção indiana rumo à categoria máxima do Oscar. Também em Direção, a Gina Prince-Bythewood, de “A Mulher Rei”, apareceu na inacreditável lista com 10 indicados. 

Depois de ser esquecido no Globo de Ouro, o Paul Mescal, por “Aftersun”, ressurge em Melhor Ator no Critics e tenta ficar com a quinta vaga na Academia. Da turma dos coadjuvantes, a Janelle Monáe, por “Glass Onion”, retornou ao jogo com a nomeação entre as mulheres.

“Aftersun” em Roteiro Original nem chega a ser tão surpreendente assim, mas, o coloca na frente de rivais pesados como “Triângulo da Tristeza”, “Elvis” e “A Mulher Rei”. 

ESNOBADOS do CRITICS CHOICE

Quando você tem tantas vagas para indicações – somente Melhor Filme foram 11 nomeados – ficar de fora mostra que a situação está feia. 

São os casos de “A Mulher Rei”, “Pinóquio” e “Triângulo da Tristeza”, este também esquecido em Melhor Roteiro. O vencedor da Palma de Ouro só foi lembrado em Melhor Comédia, categoria esquecível do Critics.

Nem mesmo com a quantidade absurda de vagas, o Hugh Jackman, por “The Son”, e a Jennifer Lawrence, de “Causeway” foram capazes de chegarem, o que, especialmente para ela, é um sinal amarelo nas pretensões rumo ao Oscar. 

Se o Critics escapou do Eddie Redmayne, falhou totalmente com o Mark Rylance, excelente em “Até os Ossos”. Já em Atriz Coadjuvante, as esnobadas foram a Nina Hoss, Carey Mulligan, Dolly de Leon e Claire Foy. 

Atenção para o caso da Nina Hoss: se até algumas poucas semanas atrás, ela parecia candidata pesada para Atriz Coadjuvante, agora, acumula esnobadas no Globo de Ouro e Critics Choice. Com o fortalecimento de outros nomes, o destaque de “TÁR” corre sério risco de ficar fora do Oscar.