Caio Pimenta analisa as chances do drama político “Oppenheimer”, dirigido e roteirizado por Christopher Nolan.

CATEGORIAS TÉCNICAS

Se eu falei que “Barbie” terá concorrência interna na Warner com “Duna 2” e “A Cor Púrpura” caso ambos não sejam adiados por conta da greve dos atores. “Oppenheimer” não tem o mesmo problema.  

O drama reina sozinho dentro da Universal Pictures. Para vocês terem uma ideia, os outros filmes do estúdio para a temporada são “Velozes e Furiosos 10”, “M3gan” e “O Urso do Pó Branco”. O Nolan não poderá reclamar de atenção. 

Começando a ver as chances rumo ao Oscar nas categorias técnicas, “Oppenheimer” já tem uma estatueta garantida.  

Não há blockbuster em 2023 que seja lançado para tirar das mãos da equipe de Nolan a estatueta de Melhor Som. A riqueza da sonoridade do filme joga o público em um ambiente de tensão extrema ao longo das três horas. Mesmo aqueles que reclamam constantemente da mixagem que torna incompreensível certos diálogos nas obras do diretor devem se render aqui em “Oppenheimer”. 

Vitorioso pela Trilha Sonora de “Pantera Negra”, o Ludwig Göransson será outra nomeação certa para o filme. Afinal, as composições dele regem o ritmo ao lado da montagem e do som, conferindo uma dimensão épica, inclusive, nos trechos mais intimistas. Não chega a ser uma trilha de acordes marcantes, é verdade, mas, a forma como tudo é permeado por ela torna o sueco um candidato sério para vencer o prêmio. 

Já que eu falei de Montagem, vejo a Jennifer Lame com credenciais de favorita para o Oscar 2024 na categoria. Conhecida por trabalhos em “Hereditário” e ‘Tenet”, aqui em “Oppenheimer”, ela brilha ao apresentar, entre idas e vindas, três linhas temporais diferentes de forma simultânea sem fazer o espectador se perder e em um ritmo alucinante. A dobradinha com o setor de som e trilha sonora cria uma experiência cinematográfica totalmente imersiva. 

Indicado apenas uma vez pelo trabalho em “Dunkirk”, o Hoyte Van Hoytema também deve chegar ao Oscar 2024 com status de favorito em Direção de Fotografia. Somente de ter feito, de maneira inédita, gravações em 65 milímetros em preto e branco no IMAX é algo que agrada em peso os profissionais do setor. E isso é utilizado não para grandes sequências de ação, mas, muitas vezes, para closes capazes de dar a dimensão da gravidade e do impacto das ações daquelas pessoas que ecoarão ao longo da história da humanidade. 

Entrando com possibilidade de vitória, a Ruth De Jong mira o Oscar de Design de Produção. Ela que trabalhou em “Nós” e “Não, Não Olhe”, ambos ao lado do Jordan Peele, tem a construção da cidade onde está o Projeto Manhattan como maior mérito aqui no longa. Também não podemos esquecer como a Academia sempre prestigia produções de época do gênero como foram os casos de “Mank”, “O Irlandês” e “O Destino de uma Nação”    

Figurino e Maquiagem e Penteado são possibilidades reais, mas, em que “Oppenheimer” deve entrar apenas para disputar. Mais difícil mesmo são Efeitos Visuais em que deve ficar de fora. 

ROTEIRO E DIREÇÃO

Subindo para as categorias principais do Oscar, chegamos a Roteiro Adaptado. E caso não ocorram surpresas ou um candidato novo de última hora, a categoria deve trazer um duelo interessante. 

De um lado, o próprio Christopher Nolan com “Oppenheimer”, e do outro “Killers of the Flower Moon” com o Eric Roth e o Martin Scorsese. A favor do roteirista indicado por “Amnésia” e “A Origem” está o fato de dar unidade a uma história intrincada e complexa sobre um personagem tão dúbio. Isso em meio a todas as relações pessoais e políticas, além do conflito humanístico sobre a maior criação da vida do protagonista.  

Até quem queira atacá-lo por um didatismo excessivo, desta vez, encontrará uma boa justificativa tamanho o escopo da ambição do Nolan. A questão é que a mesma dimensão épica pode ser vista em “Killers of the Flower Moon”, uma obra que o Scorsese sempre quis levar para as telas e que aborda também uma série de questões relevantes para os EUA. Uma briga pesada que ainda pode ganhar a companhia do Jonathan Glazer de “The Zone of Interest” e do Yorgos Lanthimos com “Poor Things”. 

Em Direção, o Christopher Nolan chega para brigar pela vitória, pois, a indicação já está garantida. 

Ser o maestro de uma produção com tanta excelência técnica e um olhar sobre um problema que segue e seguirá assombrando o mundo para sempre já agradaria a Academia naturalmente. Tudo fica ainda mais admirável com a persistência do Nolan em manter a data de estreia de “Oppenheimer” mesmo com um blockbuster avassalador como “Barbie”. O sucesso de bilheteria a partir de um drama político de três horas de duração comprova como a obstinação de Nolan compensa, abrindo espaço para acreditar que obras para o público adulto podem sim encontrar seu público nos cinemas. 

Acredito que a resistência que ele sempre enfrentou por uma parte da crítica, do público e da própria indústria pode diminuir em “Oppenheimer”. Não duvido a Academia querer dar um Oscar para ele, seja em direção ou roteiro. 

ATUAÇÕES E FILME

“Oppenheimer” pode ajudar o Christopher Nolan a diminuir uma das maiores críticas a ele que é a falta de bons personagens femininos em suas produções. O drama tem boas chances de aparecer em Atriz Coadjuvante. 

A Florence Pugh aproveita cada cena da conturbada amante do protagonista, porém, a falta de um desenvolvimento maior dela acaba por deixá-la em segundo plano na comparação com a Emily Blunt. Interpretando a esposa do físico, a britânica chama atenção pela falta de aptidão da personagem em ser mãe, mas, sobretudo, na pressão de estar ao lado do marido e seu projeto ambicioso com todas as consequências que podem recair nela. 

Apesar de considerar que a personagem fica em segundo plano em muitos momentos e não é tão explorada como poderia ser até pelo ritmo empregado pelo Nolan, o fato da Emily Blunt nunca ter sido indicada ao Oscar pode ser decisivo para o Oscar. 

Já em Ator Coadjuvante, vejo a grande chance de vitória de “Oppenheimer” nas categorias de atuação. 

Vivendo o invejoso e vaidoso Lewis Strauss, o Robert Downey Jr caminha para ganhar a primeira estatueta da carreira. O contraponto com o trabalho mais introspectivo e perturbado do Cillian Murphy cria este antagonista necessário para o Nolan guiar as tensões da última linha temporal do longa. Para a Academia, seria ótimo ter um dos atores mais queridos da atualidade consagrado na festa. 

No extenso elenco de “Oppenheimer”, acredito ainda na possibilidade do Matt Damon. O astro interpreta o general Leslie Groves e acaba sendo o parceiro do protagonista ao longo da história. Acredito que a Academia possa fazer o expediente de indicar dois nomes de um mesmo filme na categoria como ocorreu recentemente com “Três Anúncios Para um Crime”, “O Irlandês”, “Judas e o Messias Negro”, “Ataque dos Cães” e “Os Banshees de Inisherin”. 

Que o Cillian Murphy estará no Oscar de Melhor Ator isso é mais do que certo. A dúvida fica para saber as chances de vitória do irlandês. Ainda que cinebiografias sejam adoradas na categoria, o perfil da atuação dele em “Oppenheimer” é bem diferente daquilo que a Academia costuma premiar, afinal, não há uma transformação física impressionante muito menos aqueles arroubos dramáticos.

A força de “Oppenheimer”, entretanto, pode ajudá-lo bastante em uma competição que deverá enfrentar nomes como Leonardo DiCaprio, Colman Domingo, Joaquin Phoenix, Bradley Cooper e Paul Giamatti. 

Por fim, temos Melhor Filme em que a situação é muito parecida a Melhor Ator. 

Será uma surpresa enorme caso “Oppenheimer” não apareça na categoria máxima do Oscar 2024. Com a força nas bilheterias, elogios da crítica, carinho do público e nomes fortes na indústria, a produção chega com status de candidato forte ao prêmio. Pode ganhar ainda mais tração se vier a vencer o PGA e o SAG, dois eventos em que é um dos favoritos naturais.  

Por outro lado, em uma Academia que busca inclusão e diversidade, um drama dominado por homens brancos de um diretor branco com pouco espaço para as mulheres pode ser um empecilho e tanto para o filme. E, claro, resistências não faltarão no decorrer da temporada quando se trata de um diretor para lá de divisivo como Christopher Nolan. 

Ainda assim, se vejo grandes possibilidades do longa unir diversos setores da Academia: há um formalismo capaz de agradar a ala mais antiga e uma pressa e sentido de urgência que chamam atenção dos mais novos. A força técnica em praticamente todos os setores e o peso de um elenco estrelado somado à temática cada dia mais presente com a guerra na Ucrânia tornam “Oppenheimer” a maior chance de vitória do Christopher Nolan no Oscar.