Caio Pimenta analisa a força de “Barbie” mirando a disputa do Oscar 2024 em todas as categorias da festa e possíveis concorrentes.

RIVAIS NA WARNER

Antes de falar das categorias, é preciso entender o contexto em que “Barbie” será colocado na corrida rumo ao Oscar 2023. Falar disso é observar quais seus rivais dentro da Warner, o estúdio do filme. 

Para além do filme com a Margot Robbie, a Warner chegará também com a continuação de “Duna”. A superprodução do Denis Villeneuve obteve 10 indicações e venceu seis prêmios há dois anos. A expectativa é que a segunda parte da história seja mais dinâmica e concentrada na ação, o que pode ampliar ainda mais as chances na corrida.  

A segunda aposta da Warner trata-se de “A Cor Púrpura”. O musical do Blitz Bazawule pode vingar a adaptação do Steven Spielberg que que disputou e perdeu todas as 11 categorias em 1986. O elenco traz grandes estrelas negras do cinema americano como a Halle Bailey, conhecida por ter vivido “A Pequena Sereia”, a Taraji P. Henson, Colman Domingo, Louis Gossett Jr., entre outros. 

“Barbie”, entretanto, pode reinar sozinha na Warner para o Oscar: isso porque o estúdio considerar adiar “Duna 2” para 2024 e o mesmo pode acontecer com “A Cor Púrpura”. Tudo, claro, graças à greve dos atores e roteiristas. Aliás, a saída do musical do páreo visa justamente salvar uma possível campanha fracassada da produção, pois, para se sair bem na Academia, as estrelas precisam participar das divulgações e jantares, algo impossível no atual cenário. Logo, a solução seria não o queimar em meio às incertezas. 

Se isso realmente acontecer, “Barbie” evita aquilo que atrapalhou “Batman” que, em 2022, chegou causando nos cinemas mundiais, porém, foi atropelado dentro da Warner por “Elvis”. E ainda que a greve continue, a força da boneca é tão grande que dá para fazer uma campanha criativa mesmo sem ter Margot Robbie e Ryan Gosling ativos na temporada. 

CATEGORIAS TÉCNICAS

Independentemente se isso realmente vier a acontecer, o filme da boneca mais famosa do planeta pode se considerar garantido no Oscar 2024. Nas categorias técnicas, somente uma zebra monstruosa para “Barbie” ficar de fora. 

A maior chance de vitória surge em Design de Produção, afinal, é o setor responsável pelo maior charme do filme ao recriar com a Barbieland todo o universo dos brinquedos nos seus mínimos detalhes. Somente a cena em que a ambulância da Barbie se abre para atender Ken já fazia por merecer a estatueta. 

Caso realmente aconteça, será a primeira vitória da carreira da Sarah Greenwood: ela já foi nomeada seis vezes na categoria – a primeira por “Orgulho & Preconceito” e as últimas com “O Destino de uma Nação” e “A Bela e a Fera”. Não duvido que este também será um fator decisivo. 

O segundo Oscar pode vir em Figurino com a Jacqueline Durran. A britânica já venceu duas estatuetas com “Anna Karenina” e “Adoráveis Mulheres”, este ao lado de Greta Gerwig. Trazer as vestimentas clássicas com toda a riqueza e colorido das bonecas para manequins reais transforma “Barbie” em uma verdadeiro desfile de roupas uma mais bonita que a outra. E ainda tem Maquiagem e Penteado em que a indicação deve ocorrer também e as chances de vitória existem sim. 

Se “Barbie” não chega a surgir com grandes expectativas para Trilha Sonora e corre o risco de ficar fora de Efeitos Visuais, o mesmo não dá para dizer sobre Canção Original. 

Claro que a Academia terá total interesse de ver Dua Lipa no palco da festa cantando “Dance The Night”. Quem sabe a Margot Robbie não se anima e vai lá dançar com ela? Seria o suficiente para o Oscar voltar aos patamares antigos de audiência.

Ainda pode vir dupla nomeação com “I´m Just Ken”, canção hilária interpretada pelo Ryan Gosling. Para completar o time, tem a Billie Eilish: vencedora com a canção-tema do último 007, ela pode retornar com “What Was I Made For?”.

Sabendo trabalhar bem, a Warner obtém as vagas facilmente.  

Nas duas categorias técnicas mais visadas, “Barbie” chega em situações opostas. De um lado, está Direção de Fotografia em que o Rodrigo Prieto pode ter a quarta indicação da carreira após “Brokeback Mountain”, “Silêncio” e “O Irlandês”. Aqui seria uma dobradinha interessante entre ele e a direção de arte, pois, uma alimenta a outra para aquele colorido exuberante, logo, só nomear uma não faria o menor sentido. 

Já em Montagem, vejo uma situação mais complicada para o Nick Houy, parceiro da Greta desde “Lady Bird”. Aí coloco uma impressão minha sobre a perda de ritmo no meio da história em que o filme fica rodando sem sair do lugar. Claro que isso traz um pouco de roteiro, mas, sinto a montagem poderia trazer um maior dinamismo a “Barbie”. Vejo o filme correndo por fora nesta categoria. 

ROTEIRO E DIREÇÃO

Ok, as categorias técnicas são mais do que previsíveis para “Barbie”. A questão é saber se o filme vai além. Em Roteiro Original, acho que as esperanças são boas. 

O casal Greta Gerwig e Noah Baumbach é queridinho da turma dos roteiristas. Ambos já foram nomeados duas vezes – ela por “Lady Bird” e “Adoráveis Mulheres” e ele por “A Lula e a Baleia” e “História de um Casamento”. Em “Barbie”, os dois fazem o difícil equilíbrio de mostrar o impacto cultural da boneca, brincar com o universo dela e da própria Mattel, mas, sem passar tanto do ponto, afinal, ali há uma marca valiosa no fim das contas e inserir críticas incisivas à sociedade patriarcal. 

O roteiro pode até não ser perfeito, porém, mais acerta do que erra. Por isso somado ao prestígio da dupla, acho sim que a chance de aparecer entre os originais é altíssima. Se vai ganhar, é outra história. 

Agora, se a Warner optar pelos adaptados, o risco é maior. Afinal, irá bater de frente com os elogiados e favoritos até o momento – “Oppenheimer”, “Killers of the Flower Moon”. A concorrência também ficará pesada com “Poor Things” e “The Zone of Interest”. 

Já em Direção, a Greta terá um páreo mais complicado. 

Primeiro que os diretores de grandes sucessos não tiveram muito espaço nos últimos anos: que o digam, o Joseph Kosinski, de “Top Gun: Maverick”, e o James Cameron, de “Avatar: O Caminho da Água”, neste ano, e o Denis Villeneuve, por “Duna”, em 2022.

O páreo para ela também será intenso com Martin Scorsese, Christopher Nolan, Alexander Payne, Bradley Cooper, Jonathan Glazer, além da Emerald Fennell, Celine Song e da Justine Triet entre as mulheres.

Por outro lado, a Greta Gerwig chega prestigiada por dois filmes consecutivos na categoria máxima, carinho da indústria e da crítica, fora a torcida de milhões mundo afora. 

Hoje, considero a Greta correndo por fora, mas, com chances de chegar.

ATUAÇÕES E FILME

Já nas atuações, apesar de inúmeras possibilidades, acho improvável nomeação em Atriz Coadjuvante.

A Kate McKinnon até poderia ser aquela coadjuvante excêntrica que rouba o filme, mas, ela fica de escanteio a partir de um determinado ponto da história.

Já a America Ferrera até tem o momento Oscar, mas, soa tão forçado que perde a força. Entre duas, vejo mais probabilidade na McKinnon. 

Se a Warner não fizer bobagem, o Ryan Gosling já garantiu a terceira indicação dele ao Oscar. O ator está simplesmente brilhante como Ken, um personagem que tinha tudo para dar errado, mas, funciona demais pela total forma como o astro se entrega ao filme sem medo do ridículo.

Fora que é uma atuação completa com dança, canto, momentos de humor e drama sempre bem balanceado.

Pode chegar com status de favorito em Ator Coadjuvante. Agora, se for para principal, aí corre o risco de ficar fora. 

Por fim, a Margot Robbie incorporou a icônica personagem à perfeição. Para além da beleza incrível, que até vira motivo de sarro no filme, a atriz comprova, mais uma vez, estar no auge da carreira.

Só de bater o olho fica fácil torcer e acompanhá-la ao longo das duas horas. Neste momento, ela se posiciona como nome forte para ser indicada em Melhor Atriz ao lado da Sandra Huller, por “Anatomy of a Fall”, Greta Lee, por “Past Lives” e, talvez, a Lily Gladstone, por “Killers of the Flower Moon”, se ela não for deslocada para coadjuvante.  

Dependendo, claro, da greve dos atores, a Margot Robbie pode ganhar a companhia da Annette Bening, Natalie Portman, Carey Mulligan e Kate Winslet.

Por fim, Melhor Filme. E que difícil o tamanho de “Barbie” rumo à categoria. 

Uma sátira precisa aos efeitos danosos da sociedade patriarcal ou uma bobagem progressista até demais? Uma comédia que se desvencilha bem de ser uma grande propaganda ousando ao brincar com os cânones do produto ou apenas um marketing gigantesco disfarçado de cinema? Certamente em uma Academia tão múltipla, de pessoas dos mais diversos setores e de diferentes cantos do planeta, “Barbie” ficará longe da unanimidade. Deve ser o queridinho e odiado de muita gente, aquela produção que muitos votarão com orgulho e outros farão de tudo para passar longe. 

Esta divisão sempre complica para chegar a Melhor Filme. Por outro lado, a Warner tem dinheiro para fazer campanha e, se sentir que “Barbie” pode ir longe, vai investir muito grana na temporada. Hoje, ainda que todo o hype influencie muito para prever como o filme será visto daqui a um tempo, acho que pode sim ser nomeado no prêmio máximo.