Caio Pimenta analisa os pontos fortes e fracos de Emma Stone, Lily Gladstone, Sandra Huller, Carey Mulligan e Annette Bening ao Oscar 2024 de Melhor Atriz.

Está difícil definir quem é a favorita ao Oscar de Melhor Atriz neste ano.

Emma Stone venceu dois precursores – Melhor Atriz de Comédia/Musical no Globo de Ouro e uma conquista no Critics Choice – contra uma vitória de Lily Gladstone no Globo de Ouro em Drama. 

E são justamente as duas que lideram a corrida. 

FAVORITA: EMMA STONE

A Emma Stone chega com a atuação mais elogiada da carreira, superior, inclusive, a “La La Land”, quando foi consagrada em Melhor Atriz em 2017. As variações da personagem Bella Bexter entre o drama e a comédia somada à coragem de bancar sequências desafiadoras de sexo são sempre levadas em consideração pela Academia.  

 Com 11 indicações, Pobres Criaturas” é o filme que mais ameaça o domínio de Oppenheimer e encontra aqui a maior chance de conquista nas categorias principais. A produção do Yorgos Lanthimos chega forte para a premiação, o que sempre é benéfico para quem deseja vencer uma categoria de atuação graças à visibilidade junto aos votantes. 

A estrela ruiva gabaritou todos os precursores da temporada, sendo indicada ao SAG e ao Bafta, algo que Lily Gladstone e Sandra Huller não conseguiram – cada uma delas foi indicada a um evento. “Pobres Criaturas” ainda consolida a grande fase da Emma Stone, uma atriz que passou das comédias românticas bobinhas do início de carreira para ser cobiçada pelos principais diretores da atualidade.  

E este salto se amplifica sendo produtora, inclusive indicada a Melhor Filme. O prestígio dela cada vez maior em Hollywood poderia ser consolidado com uma nova vitória no Oscar. 

Por outro lado, a Academia pode considerar que, talvez, seja cedo demais dar o segundo prêmio de Melhor Atriz. Não que isso seja inédito: Jane Fonda venceu sete anos depois da primeira estatueta, mesmo período que separaria as conquistas de “La La Land” e “Pobres Criaturas”. A ganhadora das estatuetas nos anos 1970, entretanto, não teve nenhuma vitória tão contestada como ocorreu com Emma Stone ao superar a Isabelle Huppert. Corre o risco do ranço de antigamente retornar com força, especialmente, da ala internacional. 

FAVORITA: LILY GLADSTONE

A Lily Gladstone acompanha a Emma Stone com uma ou outra revezando no favoritismo. E a estrela de Assassinos da Lua das Flores traz ótimos motivos para acreditar que pode ser a vencedora. 

Diante de Leonardo DiCaprio e Robert De Niro ao lado do parceiro Martin Scorsese, a tendência era que qualquer outro no meio deles se apagaria. Lily faz justamente o oposto e se agiganta como Mollie Burkhart, uma personagem difícil por sugerir uma passividade em muitos momentos, mas, que demonstra, na verdade, ser uma resistência simbólica de todo um povo. 

Falando nisso, a representatividade indígena, claro, que pode ter um peso decisivo. Ela é a primeira atriz norte-americana de origem dos povos originários a ser indicada ao Oscar. A vitória teria um simbolismo imenso em um momento que a Academia traz a diversidade como bandeira. 

Grande parte do público pode ter conhecido agora a Lily Gladstone, mas, ela já está no cenário norte-americano há muito tempo. “Certas Mulheres” foi um trabalho pelo qual até chegou a ser cogitada para o Oscar. A Academia pode reconhecer esta trajetória com uma estatueta. Por fim, destaco a conquista no Gotham Awards por “The Unknown Country”, algo inesperado e mostrando o carinho em Hollywood com a atriz. 

Os problemas para a Lily Gladstone começam quando pensamos na presença de Molly ao longo de “Assassinos da Lua das Flores”. Diferente do que acontece com a Emma Stone, Sandra Huller e Annette Bening, a história não gira necessariamente em torno nela – ainda, claro, que seja vítima das consequências. Tanto que ela aparece em 27,30% das 3h30 do épico do Martin Scorsese. Na comparação com suas adversárias, é um fator que pode ser levado em consideração. 

Mesmo com 10 indicações, a sensação de queda de “Assassinos da Lua das Flores” na temporada com as esnobadas em Melhor Ator e Roteiro Adaptado também não ajuda a Lily Gladstone, situação inversa a “Pobres Criaturas” e “Anatomia de uma Queda”. Para complicar, a esnobada inexplicável no Bafta a torna dependente de uma conquista no SAG; se não vencer no sindicato dos atores, ficará em segundo plano na corrida. 

PODE SURPREENDER: SANDRA HULLER

Vindo mais atrás, a Sandra Huller é a terceira força na categoria. E tem chances sim de conseguir a vitória. 

Nenhuma das cinco indicadas teve um ano melhor do que Sandra Huller: além de “Anatomia de uma Queda”, a alemã fez o também elogiadíssimo “Zona de Interesse”, pelo qual chegou próxima de ficar entre as cinco finalistas de coadjuvante. No drama de tribunal da Justine Triet, ela encara um verdadeiro desafio pelas nuances e os mistérios da protagonista em uma obra mais interessada em discutir a construção do que supostamente seria a verdade do que em elucidar o acontecimento. 

Com indicações a Melhor Filme, Direção, Montagem e aparecendo muito forte para ganhar Roteiro Original, “Anatomia de uma Queda” está em viés de alta na temporada, favorecendo a atriz. Vale destacar que ainda virão o Bafta e o César, prêmios altamente viáveis de ganhar e capazes de dar a demonstração de que a ala internacional, principalmente a europeia, está ao lado dela. Se Emma Stone e Lily Gladstone dividirem a preferência norte-americana, a Sandra Huller pode aproveitar para ganhar. 

Mas, nem tudo são flores para a alemã: esnobada no SAG, até hoje, nunca uma vencedora de Melhor Atriz deixou de concorrer no sindicato dos atores. O caso mais fora do comum foi a Kate Winslet, por “O Leitor”: ela ganhou o SAG como coadjuvante, mas, foi deslocada para principal no Oscar. Venceu ambas. 

Além disso, a Academia não é de abrir tanto espaço para intérpretes consideradas de filmes internacionais em Melhor Atriz. Até hoje, somente a Sophia Loren, por “Duas Mulheres”, e a Marion Cotillard, por “Piaf”, conseguiram o feito. Se vencer, a Sandra Huller será a terceira a conseguir tal feito em 96 edições. Missão nada fácil. 

CORRENDO POR FORA: CAREY MULLIGAN

A Carey Mulligan aparece correndo bem por fora com “Maestro”. E olha que não faltam pontos fortes para ela ganhar. 

Afinal, quem vai assistir à cinebiografia esperando um show de Bradley Cooper se surpreende com uma grande atuação dela; a parte final do filme, aliás, é todo da britânica, o que pode causar uma impressão mais forte dos votantes.  

Muito querida e respeitada na indústria, a Carey Mulligan é uma das principais atrizes de sua geração ainda sem Oscar e a derrota em 2021 por “Bela Vingança”, quando tinha um ligeiro favoritismo, pode ter um impacto de compensação aqui. Por fim, igual a Emma Stone, conseguiu cravar presença nos principais precursores, entre eles, o Bafta e o SAG. 

De forma até mais clara do que a Lily Gladstone, a Carey Mulligan não é a protagonista de “Maestro”; há trechos do filme que ela passa um tempo significativo fora de tela. A última vez em que tivemos uma vitória em modo semelhante foi com a Jennifer Lawrence por “O Lado Bom da Vida”.  

A derrocada de “Maestro” também em nada contribui, deixando uma sensação de que é possível esperar mais um pouco para premiá-la no filme certo. Isso quando você tem candidatas de filmes altamente prestigiadas no embate dificulta demais. 

AZARÃ: ANNETTE BENING

Chegamos à Annette Bening, azarã da corrida e com baixíssimas chances de vitória. 

Ser uma das grandes atrizes de hoje em dia do cinema mundial sem Oscar, sem dúvida, pesa a favor de uma possível vitória agora para a Annette Bening. Tirar este tabu incômodo do caminho seria uma forma da Academia prestigiar o talento dela. Isso pode vir acrescido do discurso contra o etarismo em Hollywood, especialmente, em um papel de entrega física louvável para uma intérprete de 65 anos.   

Personagens históricas premiadas na categoria não faltam como foram os casos de June Cash, Edith Piaf, Rainha Elizabeth, Margaret Thatcher, Rainha Anna, Judy Garland e Tammy Faye – isso para ficar somente em casos recentes. A ótima parceria com a Jodie Foster, também indicada, completa os pontos positivos de Bening. 

O grande problema é que Nyad simplesmente não ajuda; um filme bem mediano, totalmente escorado nas suas duas estrelas. Não à toa é o único que não está em Melhor Filme. Isso pode pesar em termos de visibilidade para a Annette Bening, que tende a ser menos vista do que as adversárias – a Carey Mulligan, aliás, é concorrente interna na Netflix. 

A esnobada no Bafta também complica demais as chances dela. Primeiro por indicar que a ala britânica da Academia, talvez, não esteja dando muita atenção para ela, o que deve se repetir com a turma de outros países. Segundo por necessitar ganhar desesperadamente o SAG para se manter viva.  

Na boa, a vitória da Annette Bening nesta temporada foi ter aparecido entre as finalistas, superando Margot Robbie, Fantasia Barrino, Greta Lee e Cailee Spaeny. Um feito que não é nada pequeno. 

PREVISÕES PARA A TEMPORADA

Traçando cenários rumo ao Oscar 2024, vejo o Bafta como um grande mistério em que a Emma Stone, Sandra Huller e Carey Mulligan podem vencer. Se a estrela de “Pobres Criaturas” ganhar, começa a criar um clima de que ela será dominante na temporada. Uma vitória da Sandra Huller deixaria a impressão de que a comunidade de fora dos EUA irá apoiar a alemã. A Carey Mulligan ganha apenas se os britânicos realmente estiverem querendo prestigiar a prata da casa. Já o melhor resultado para a Lily Gladstone seria a Margot Robbie sair vencedora, pois, enfraqueceria suas principais rivais. 

Já no SAG, o duelo tende a ser entre Lily Gladstone e Emma Stone. A vitória da atriz de “Assassinos da Lua das Flores” a deixaria muito perto da estatueta dourada, pois, ficaria claro como ela é o nome do momento e nem mesmo os tropeços do épico do Scorsese foram capazes de enfraquecê-la. Se a estrela de “Pobres Criaturas” ganhar, a disputa se encaminha muito bem.  

Resultados diferentes disso como conquistas da Carey Mulligan e Annette Bening serviriam apenas para bagunçar o coreto. Teríamos, então, um ‘vale a pena ver de novo’ de 2021 quando todas as cinco concorrentes chegaram com possibilidades de vitória. Acho, porém, improvável que ocorra nesta temporada. 

PREVISÕES

Bafta: Sandra Huller
SAG: Emma Stone
Oscar: Lily Gladstone